quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
vila operária
E se a gente fizesse uma segunda visita antes de falar com o sidóca?acho que ia ser bacana passar por aqui:http://www.panoramio.com/photo/6441939se bem que podemos passar no dia da entrevista também... só precisamos descobrir onde fica.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
estadão
ó só:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090104/not_imp302211,0.phpO que era para ser uma vila operária centenária - com direito a casinhas no estilo inglês, escola, igreja e até uma estação própria de trem - hoje se resume a muito entulho, esqueletos de concreto, paredes prestes a cair e memórias esquecidas. Parece mais uma cidade fantasma. Conhecido como Vila Portland, parte de uma imensa fábrica de cimento que deu suporte para o desenvolvimento de toda São Paulo, o local apodrece na periferia de Perus, sem que ninguém dê atenção.
http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2001/not20010601p4227.htm - aqui não tem nada demais, mas fala:Também não é citada a primeira passeata ecológica de que se tem notícia no Brasil, em 1973, dos trabalhadores da Companhia de Cimento Portland Perus em protesto contra a poluição causada pela fábrica.
Ah e Perus é onde fica o aterro sanitário.
Talita
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090104/not_imp302211,0.phpO que era para ser uma vila operária centenária - com direito a casinhas no estilo inglês, escola, igreja e até uma estação própria de trem - hoje se resume a muito entulho, esqueletos de concreto, paredes prestes a cair e memórias esquecidas. Parece mais uma cidade fantasma. Conhecido como Vila Portland, parte de uma imensa fábrica de cimento que deu suporte para o desenvolvimento de toda São Paulo, o local apodrece na periferia de Perus, sem que ninguém dê atenção.
http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2001/not20010601p4227.htm - aqui não tem nada demais, mas fala:Também não é citada a primeira passeata ecológica de que se tem notícia no Brasil, em 1973, dos trabalhadores da Companhia de Cimento Portland Perus em protesto contra a poluição causada pela fábrica.
Ah e Perus é onde fica o aterro sanitário.
Talita
abdallas
Para montar o projeto, tentei achar alguém do grupo j.j.abdalla, não encontrei muita coisa, mas, o que achei nos dá uma boa idéia de como estão as coisas hoje em dia:
"Velhos playboys – 1
Inspirado pelo sucesso do livro sobre as façanhas de Porfírio Rubirosa, certamente o mais famoso playboy de todos os tempos, grupo de estudantes de comunicação de São Paulo tenta levantar nomes brasileiros que poderiam ser considerados seus similares. O mais reverenciado deles foi o carioca Jorginho Guinle, que nunca trabalhou na vida e que namorou estrelas de cinema como Ava Gardner e Kim Novak. Depois, na cena paulista, ganhou destaque, entre os anos 50 e início dos 70, Baby Pignatari, que chegou a se casar com Ira de Furstemberg. Nessa pesquisa, aparecem também figuras ainda em circulação, que, nos anos 70, disputavam as colunas da época: Chiquinho Scarpa, hoje mais acomodado e casado com Rosemary Bosenbecker, os dois morando com os pais dele, Patsy e Chico Scarpa e Toninho Abdalla, sobrinho do famoso J. J. Abdalla, o mau patrão dos anos 60, que, surpreendentemente, volta a aparecer (separado de sua mulher, Maria Eugênia, de nascimento Lattes) em sites dedicados a celebridades, freqüentando até fashion parties.
Velhos playboys – 2
Toninho Abdalla ficou rico com herança e especialmente depois da venda de gigantesca área em São Paulo ao governo do Estado, onde hoje está o Parque Villa-Lobos. Jovem, chegou a distribuir um cartão de Natal, onde aparecia na cama, ao lado de uma modelo seminua e a mensagem: "Espero que o seu Papai Noel seja tão generoso quanto o meu". Seu primo, Juca Abdalla, filho de J. J. Abdalla, mora no Rio e – surpresa – tem um mini-banco só para administrar sua fortuna."
E tem mais!
PROJETO DE LEI Nº 48, DE 2002
Altera a denominação do Aeroporto Estadual, no município de Araçatuba.
A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo decreta
Artigo 1º - Passa a denominar-se "Dr. Nicolau João Abdalla" o Aeroporto Estadual "Dario Guarita", no município de Araçatuba.
Artigo 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICATIVA
Com este projeto de lei pretendemos prestar uma homenagem póstuma ao Senhor Dr. Nicolau João Abdalla, filho do Senhor João Abdalla e da Senhora Amélia Abdalla, nascido em 17 de Janeiro de 1908, na cidade de Guaratinguetá – SP.
Formado em odontologia, o Dr. Nicolau João Abdalla, participou e lutou na revolução de 1932, onde combateu no vale do Paraíba, defendendo o Estado de São Paulo.
Mudou-se para a região noroeste do Estado no ano de 1933, onde começou sua trajetória de vida e de sucesso.
Homem de visão, fundou juntamente com seu irmão, o Senhor José, o Grupo J.J. Abdalla (Indústria J.J. Abdalla), tendo contribuído para o desenvolvimento da cidade de Araçatuba, sempre sem esquecer sua paixão pela aviação.
Aluno das primeiras turmas de piloto, tornou-se um dos dez primeiros pilotos daquela região.
Acreditando no potencial daquela cidade, onde achava que deveria haver um aeroporto bem maior do que o existente na época, com pista compatível com os futuros aviões e com o grande fluxo de cargas e passageiros, fez então a doação de 60 alqueires de terra de sua propriedade para que nele fosse construído o Aeroporto Estadual de Araçatuba, o qual encontra-se em pleno funcionamento.
O homenageado foi um benemérito para a cidade, trabalhando e lutando para o desenvolvimento de vários setores, como a agropecuária e a indústria, além de ter contribuído na área social onde ajudou no sustento de vários orfanatos.
Foi, também, o doador da área onde foi construído o Jardim Zoológico, bem como da área para a construção do Jardim Dona Amélia.
Assim, com a finalidade de prestar uma homenagem póstuma ao Ilustríssimo Senhor Dr. Nicolau João Abdalla, pessoa querida pelos familiares e amigos, o maior responsável pela construção do Aeroporto Estadual de Araçatuba, é que apresentamos o presente projeto de lei , esperando ver acolhido pelos nobres pares.
TALITA
"Velhos playboys – 1
Inspirado pelo sucesso do livro sobre as façanhas de Porfírio Rubirosa, certamente o mais famoso playboy de todos os tempos, grupo de estudantes de comunicação de São Paulo tenta levantar nomes brasileiros que poderiam ser considerados seus similares. O mais reverenciado deles foi o carioca Jorginho Guinle, que nunca trabalhou na vida e que namorou estrelas de cinema como Ava Gardner e Kim Novak. Depois, na cena paulista, ganhou destaque, entre os anos 50 e início dos 70, Baby Pignatari, que chegou a se casar com Ira de Furstemberg. Nessa pesquisa, aparecem também figuras ainda em circulação, que, nos anos 70, disputavam as colunas da época: Chiquinho Scarpa, hoje mais acomodado e casado com Rosemary Bosenbecker, os dois morando com os pais dele, Patsy e Chico Scarpa e Toninho Abdalla, sobrinho do famoso J. J. Abdalla, o mau patrão dos anos 60, que, surpreendentemente, volta a aparecer (separado de sua mulher, Maria Eugênia, de nascimento Lattes) em sites dedicados a celebridades, freqüentando até fashion parties.
Velhos playboys – 2
Toninho Abdalla ficou rico com herança e especialmente depois da venda de gigantesca área em São Paulo ao governo do Estado, onde hoje está o Parque Villa-Lobos. Jovem, chegou a distribuir um cartão de Natal, onde aparecia na cama, ao lado de uma modelo seminua e a mensagem: "Espero que o seu Papai Noel seja tão generoso quanto o meu". Seu primo, Juca Abdalla, filho de J. J. Abdalla, mora no Rio e – surpresa – tem um mini-banco só para administrar sua fortuna."
E tem mais!
PROJETO DE LEI Nº 48, DE 2002
Altera a denominação do Aeroporto Estadual, no município de Araçatuba.
A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo decreta
Artigo 1º - Passa a denominar-se "Dr. Nicolau João Abdalla" o Aeroporto Estadual "Dario Guarita", no município de Araçatuba.
Artigo 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICATIVA
Com este projeto de lei pretendemos prestar uma homenagem póstuma ao Senhor Dr. Nicolau João Abdalla, filho do Senhor João Abdalla e da Senhora Amélia Abdalla, nascido em 17 de Janeiro de 1908, na cidade de Guaratinguetá – SP.
Formado em odontologia, o Dr. Nicolau João Abdalla, participou e lutou na revolução de 1932, onde combateu no vale do Paraíba, defendendo o Estado de São Paulo.
Mudou-se para a região noroeste do Estado no ano de 1933, onde começou sua trajetória de vida e de sucesso.
Homem de visão, fundou juntamente com seu irmão, o Senhor José, o Grupo J.J. Abdalla (Indústria J.J. Abdalla), tendo contribuído para o desenvolvimento da cidade de Araçatuba, sempre sem esquecer sua paixão pela aviação.
Aluno das primeiras turmas de piloto, tornou-se um dos dez primeiros pilotos daquela região.
Acreditando no potencial daquela cidade, onde achava que deveria haver um aeroporto bem maior do que o existente na época, com pista compatível com os futuros aviões e com o grande fluxo de cargas e passageiros, fez então a doação de 60 alqueires de terra de sua propriedade para que nele fosse construído o Aeroporto Estadual de Araçatuba, o qual encontra-se em pleno funcionamento.
O homenageado foi um benemérito para a cidade, trabalhando e lutando para o desenvolvimento de vários setores, como a agropecuária e a indústria, além de ter contribuído na área social onde ajudou no sustento de vários orfanatos.
Foi, também, o doador da área onde foi construído o Jardim Zoológico, bem como da área para a construção do Jardim Dona Amélia.
Assim, com a finalidade de prestar uma homenagem póstuma ao Ilustríssimo Senhor Dr. Nicolau João Abdalla, pessoa querida pelos familiares e amigos, o maior responsável pela construção do Aeroporto Estadual de Araçatuba, é que apresentamos o presente projeto de lei , esperando ver acolhido pelos nobres pares.
TALITA
Projeto entregue em 09/02
Gente, segue abaixo nosso projeto. Não coloquei capa, nem cronograma (muito complicado).
Objetivos
1. Objetivos gerais: o grupo tem por objetivo fazer documentário em vídeo, para televisão, com possibilidade de veiculação em canais de TV a cabo ou canais de TV Pública (Educativa, Cultural, Universitária etc), que abrem espaço em suas grades de programação para documentários de temáticas sociais, históricas e da cultura brasileira. Faremos um registro audiovisual documental da ação de um dos maiores movimentos sindicais da história brasileira que teve por ideal principal a não-violência.
2. Objetivos específicos:
a) Fazer com o que vídeo-documentário produzido atue como resgate da memória do movimento operário de Perus que, apesar da grande importância histórica, é pouco conhecido.
b) Relatar as condições de trabalho dos operários da fábrica de Cimento Portland Perus, pertencente ao Grupo Abdalla, gigante da Construção Civil nas décadas de 60 e 70 e com influência política.
c) Mostrar a luta contra a exploração operária deste grupo sindical movido pelo ideal da não-violência.
d) Verificar o objetivo e o sentido deste movimento operário enquanto classe trabalhadora.
e) Demonstrar o estado atual do Sindicato, da fábrica (hoje desativada e tombada pelo patrimônio histórico) e do grupo Abdalla (ainda dominante da região).
2. Justificativa: O vídeo-documentário será o primeiro longa-metragem que traz à tona a luta dos Queixadas. Já existe um curta-metragem, dirigido por Rogério Correa em 1978. O filme, um docudrama interpretado pelos próprios operários da Fábrica de Cimento Portland Perus, não é encontrado facilmente e traz uma visão mais imediatista do movimento.
Há também, em nosso projeto, uma forte carga de valor histórico, já que os livros didáticos de História, por exemplo, pouco ou nada falam desta luta operária em prol dos direitos dos trabalhadores da época.
Delimitação do assunto: O grupo chegou ao tema por meio da peça de teatro “Bumba meu Queixada”, de 1979, encenada pelo grupo União Olho Vivo e escrita pelo diretor da Companhia, Cesar Vieira. O texto, censurado na época, mesclava as greves operárias com a cultura popular brasileira (Bumba-meu-boi). Apesar de trabalhar com metáforas, (exemplo: a cidade citada na peça era chamada de Guarus, e não de Perus), o texto foi baseado na relação entre opressores e oprimidos vivida pelos operários do bairro de Perus e que teve como máxima expressão a grande greve que durou sete anos.
O grupo pretende focar sua pesquisa na atuação dos operários dessa greve. Alguns temas relevantes do início dos anos 60 serão levantados por uma questão de compreensão e para situar o espectador no tempo.
O bairro de Perus, na zona norte de São Paulo, começou a se desenvolver e abandonar suas características essencialmente rurais a partir da década de 20, quando foi construída a fábrica de Cimentos Portland Perus por um grupo canadense. A fábrica acompanhou o processo de urbanização de São Paulo, fornecendo cimento para a construção da Biblioteca Mario de Andrade, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, entre outros. A necessidade de mão-de-obra atraiu uma grande quantidade de trabalhadores ao local, impulsionados também pela instalação da Estrada de Ferro Perus-Pirapora. Tanto a Estrada de Ferro quanto a Fábrica de Cimentos passariam, na década de 50, para as mãos de um poderoso grupo da Construção Civil, a família Abdalla.
A primeira greve dos operários da Cimento Portland Perus aconteceu em 1958 e teve forte atuação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo. A mobilização se deu por conta de divergências na negociação do reajuste salarial dos operários. Houve ainda uma segunda greve, um ano depois, em decorrência da demissão de trabalhadores considerados veteranos, com quase 10 anos de casa, porém, sem o pagamento devido das indenizações. Nos dois casos, o grupo Abdalla teve que voltar atrás nas decisões e os trabalhadores conquistaram seus objetivos.
O Sindicato foi responsável por uma série de conquistas dos trabalhadores da Fábrica. Conseguiu a regulamentação do salário-família, a legalidade das greves por atraso de pagamento, o prêmio-produção, entre outras. Tudo isso movidos pelo lema da Firmeza-Permanente, uma corrente pacifista baseada em ideais de Mahadma Gandhi, Martin Luther King, entre outros. A não-violência, que nada tem a ver com a passividade, liga-se a resistência, sem reação violenta, contra os “maus patrões”, a polícia opressora, o governo ditatorial, etc. Por esse motivo, o grupo de trabalhadores ganhou o apelido de Queixadas, uma espécie de porco que se reúne e só anda em bando quando se sente ameaçado. Porém não reage violentamente.
A partir de 1962, o grupo Abdalla começou a ser acusado de descaso com os trabalhadores não só da Fábrica de Cimentos, mas também em outras quatro fábricas pertencentes ao Grupo, porém de outros segmentos (papel e celulose, por exemplo). Com os salários atrasados, os sindicatos de todas estas fábricas fizeram nova ameaça de paralisação e o grupo Abdalla foi indiferente às reivindicações. Em maio deste ano, 3.500 trabalhadores entraram em greve e a Fábrica de Cimentos foi ocupada pela polícia. A imprensa teve grande participação neste momento e várias matérias referentes à greve foram publicadas nos principais jornais da cidade.
Pouco depois de um mês, os sindicatos três fábricas do Grupo furaram a greve e voltaram a trabalhar depois de um acordo com os Abdalla. Mais de 2 mil operários voltaram ao serviço. Permaneceram paralisados os trabalhadores da Copase (Companhia Paulista de Celulose) e da Perus.
Em maio de 1962, cerca de 100 trabalhadores furaram a greve de Perus, por motivos, segundo o Sindicato, de acordo com os Abdalla. A Fábrica voltou a funcionar. Com o discurso de que os operários cumpriam, então, uma greve ilegítima, o Grupo Abdalla dispensou 1200 trabalhadores e abriu um inquérito contra 500 operários sob a alegação de terem praticado abandono de emprego e participação de uma greve ilegal.
Durante sete anos, o grupo de operários continuou lutando pelos seus direitos de maneiras inusitadas, como a greve de fome realizada no Largo São Francisco, em dezembro de 1962.
Nesse período de greve, os operários tiveram que contar com a solidariedade de moradores da região e de cidades do interior. O sindicato, para garantir condições materiais à luta, organizava viagens e passeatas para, de porta em porta, pedir ajuda. Além disso, foram criadas, na sede do sindicato, uma pequena fábrica de gaiolas e uma oficina de costura para mulheres. Outros sindicatos também deram apoio, assim, a luta chegou a conseguir um memorial com mais de 150 mil assinaturas solicitando a encampação como única solução para a greve. Para compreender a dimensão da greve não só trabalhadores participaram, diversas organizações sociais se solidarizaram com a causa, como estudantes de medicina que passaram a dar plantões em Perus e Cajamar.
Procedimentos metodológicos e técnicos: nossa pesquisa será feita por meio de consultas em jornais da época, tanto impressos, quanto veiculados na TV, já que J. J. Abdalla foi deputado federal por mais de uma vez.
O grupo já fez contato com o Sindicato, existente até hoje, e que tem como membros muitos operários grevistas que poderão dar depoimentos. Além disso, contaremos com as imagens de arquivos do Sindicato, que disponibilizou seu acervo com filmes e reportagens da época.
O grupo também já levantou o nome de possíveis fontes para gravarmos entrevistas. São elas:
- Elcio Siqueira, historiador e filho de um Queixada
- Representante da família Abdalla
- Cesar Vieira, diretor da Companhia de teatro União e Olho Vivo, que escreveu a peça Bumba meu Queixada
- Rogério Corrêa, diretor do curta-metragem “Os Queixadas”, de 1979
- Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo que apoiou o movimento
- Marilena Chauí, então secretária de cultura de São Paulo que defendeu o tombamento da Fábrica
-Renato Rua de Almeida, advogado trabalhista, estagiário da Frente Nacional do Trabalho que participou da greve de Perus nos anos de 1962 e 1963
- Sidnei Fernandes Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cimento
Bibliografia:
i. ABRÃO, Nelson. A Máfia do Cimento. Loyola, 1987.
ii. DA-RIN, Sílvio. Espelho partido. Azougue Editorial, 2004.
iii. FIELD, Syd. Manual do roteiro. Objetiva, 1982.
iv. JESUS, Mário Carvalho de. Cimento Perus: 40 Anos de ação sindical transformam velha fábrica em centro de cultura municipal. JMJ Consultoria e Promoções, 1992.
v. LABAKI, Amir. É tudo verdade: reflexões sobre a cultura do documentário. Francis, 2005.
vi. LABAKI, Amir. Introdução ao documentário brasileiro. Francis, 2006.
vii. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho. Jorge Zahar, 2004.
viii. MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir [Org.]. O cinema do real. Cosac Naify, 2005.
ix. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Papirus, 2005.
x. SARAIVA, Leandro e CANNITO, Newton. Manual de roteiro. Conrad do Brasil, 2004.
xi. SIQUEIRA, Elcio. Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus: contribuição para uma história da indústria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987). Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, 2001.
Filmografia:
i. CORRÊA, Rogério. Os Queixadas. 1978.
ii. COUTINHO, Eduardo. Cabra marcado para morrer. 1985.
iii. COUTINHO, Eduardo. Edifício Master. 2002.
iv. COUTINHO, Eduardo. Peões. 2004.
v. COUTINHO, Eduardo. Santo forte. 1999.
vi. COUTINHO, Eduardo. O Fim e o Princípio. 2005.
vii. DREW, Robert. Crisis. 1963.
viii. DREW, Robert. Primary. 1960.
ix. FLAHERTY, Robert. Man of Aran. 1934.
x. FLAHERTY, Robert. Louisiana Story. 1948.
xi. FLAHERTY, Robert. Tabu. 1931.
xii. JARDIM, João e CARVALHO, Walter. Janela da Alma. 2001.
xiii. MOCARZEL, Evaldo. Do luto à luta. 2005.
xiv. ROUCH, Jean. Eu, um negro. 1958.
xv. ROUCH, Jean. Jaguar 1967.
xvi. ROUCH, Jean. Os mestres loucos. 1955.
xvii. SALLES, João Moreira. Notícias de uma guerra particular. 1999.
xviii. SALLES, João Moreira. Entreatos. 2004.
Nathalia
Objetivos
1. Objetivos gerais: o grupo tem por objetivo fazer documentário em vídeo, para televisão, com possibilidade de veiculação em canais de TV a cabo ou canais de TV Pública (Educativa, Cultural, Universitária etc), que abrem espaço em suas grades de programação para documentários de temáticas sociais, históricas e da cultura brasileira. Faremos um registro audiovisual documental da ação de um dos maiores movimentos sindicais da história brasileira que teve por ideal principal a não-violência.
2. Objetivos específicos:
a) Fazer com o que vídeo-documentário produzido atue como resgate da memória do movimento operário de Perus que, apesar da grande importância histórica, é pouco conhecido.
b) Relatar as condições de trabalho dos operários da fábrica de Cimento Portland Perus, pertencente ao Grupo Abdalla, gigante da Construção Civil nas décadas de 60 e 70 e com influência política.
c) Mostrar a luta contra a exploração operária deste grupo sindical movido pelo ideal da não-violência.
d) Verificar o objetivo e o sentido deste movimento operário enquanto classe trabalhadora.
e) Demonstrar o estado atual do Sindicato, da fábrica (hoje desativada e tombada pelo patrimônio histórico) e do grupo Abdalla (ainda dominante da região).
2. Justificativa: O vídeo-documentário será o primeiro longa-metragem que traz à tona a luta dos Queixadas. Já existe um curta-metragem, dirigido por Rogério Correa em 1978. O filme, um docudrama interpretado pelos próprios operários da Fábrica de Cimento Portland Perus, não é encontrado facilmente e traz uma visão mais imediatista do movimento.
Há também, em nosso projeto, uma forte carga de valor histórico, já que os livros didáticos de História, por exemplo, pouco ou nada falam desta luta operária em prol dos direitos dos trabalhadores da época.
Delimitação do assunto: O grupo chegou ao tema por meio da peça de teatro “Bumba meu Queixada”, de 1979, encenada pelo grupo União Olho Vivo e escrita pelo diretor da Companhia, Cesar Vieira. O texto, censurado na época, mesclava as greves operárias com a cultura popular brasileira (Bumba-meu-boi). Apesar de trabalhar com metáforas, (exemplo: a cidade citada na peça era chamada de Guarus, e não de Perus), o texto foi baseado na relação entre opressores e oprimidos vivida pelos operários do bairro de Perus e que teve como máxima expressão a grande greve que durou sete anos.
O grupo pretende focar sua pesquisa na atuação dos operários dessa greve. Alguns temas relevantes do início dos anos 60 serão levantados por uma questão de compreensão e para situar o espectador no tempo.
O bairro de Perus, na zona norte de São Paulo, começou a se desenvolver e abandonar suas características essencialmente rurais a partir da década de 20, quando foi construída a fábrica de Cimentos Portland Perus por um grupo canadense. A fábrica acompanhou o processo de urbanização de São Paulo, fornecendo cimento para a construção da Biblioteca Mario de Andrade, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, entre outros. A necessidade de mão-de-obra atraiu uma grande quantidade de trabalhadores ao local, impulsionados também pela instalação da Estrada de Ferro Perus-Pirapora. Tanto a Estrada de Ferro quanto a Fábrica de Cimentos passariam, na década de 50, para as mãos de um poderoso grupo da Construção Civil, a família Abdalla.
A primeira greve dos operários da Cimento Portland Perus aconteceu em 1958 e teve forte atuação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo. A mobilização se deu por conta de divergências na negociação do reajuste salarial dos operários. Houve ainda uma segunda greve, um ano depois, em decorrência da demissão de trabalhadores considerados veteranos, com quase 10 anos de casa, porém, sem o pagamento devido das indenizações. Nos dois casos, o grupo Abdalla teve que voltar atrás nas decisões e os trabalhadores conquistaram seus objetivos.
O Sindicato foi responsável por uma série de conquistas dos trabalhadores da Fábrica. Conseguiu a regulamentação do salário-família, a legalidade das greves por atraso de pagamento, o prêmio-produção, entre outras. Tudo isso movidos pelo lema da Firmeza-Permanente, uma corrente pacifista baseada em ideais de Mahadma Gandhi, Martin Luther King, entre outros. A não-violência, que nada tem a ver com a passividade, liga-se a resistência, sem reação violenta, contra os “maus patrões”, a polícia opressora, o governo ditatorial, etc. Por esse motivo, o grupo de trabalhadores ganhou o apelido de Queixadas, uma espécie de porco que se reúne e só anda em bando quando se sente ameaçado. Porém não reage violentamente.
A partir de 1962, o grupo Abdalla começou a ser acusado de descaso com os trabalhadores não só da Fábrica de Cimentos, mas também em outras quatro fábricas pertencentes ao Grupo, porém de outros segmentos (papel e celulose, por exemplo). Com os salários atrasados, os sindicatos de todas estas fábricas fizeram nova ameaça de paralisação e o grupo Abdalla foi indiferente às reivindicações. Em maio deste ano, 3.500 trabalhadores entraram em greve e a Fábrica de Cimentos foi ocupada pela polícia. A imprensa teve grande participação neste momento e várias matérias referentes à greve foram publicadas nos principais jornais da cidade.
Pouco depois de um mês, os sindicatos três fábricas do Grupo furaram a greve e voltaram a trabalhar depois de um acordo com os Abdalla. Mais de 2 mil operários voltaram ao serviço. Permaneceram paralisados os trabalhadores da Copase (Companhia Paulista de Celulose) e da Perus.
Em maio de 1962, cerca de 100 trabalhadores furaram a greve de Perus, por motivos, segundo o Sindicato, de acordo com os Abdalla. A Fábrica voltou a funcionar. Com o discurso de que os operários cumpriam, então, uma greve ilegítima, o Grupo Abdalla dispensou 1200 trabalhadores e abriu um inquérito contra 500 operários sob a alegação de terem praticado abandono de emprego e participação de uma greve ilegal.
Durante sete anos, o grupo de operários continuou lutando pelos seus direitos de maneiras inusitadas, como a greve de fome realizada no Largo São Francisco, em dezembro de 1962.
Nesse período de greve, os operários tiveram que contar com a solidariedade de moradores da região e de cidades do interior. O sindicato, para garantir condições materiais à luta, organizava viagens e passeatas para, de porta em porta, pedir ajuda. Além disso, foram criadas, na sede do sindicato, uma pequena fábrica de gaiolas e uma oficina de costura para mulheres. Outros sindicatos também deram apoio, assim, a luta chegou a conseguir um memorial com mais de 150 mil assinaturas solicitando a encampação como única solução para a greve. Para compreender a dimensão da greve não só trabalhadores participaram, diversas organizações sociais se solidarizaram com a causa, como estudantes de medicina que passaram a dar plantões em Perus e Cajamar.
Procedimentos metodológicos e técnicos: nossa pesquisa será feita por meio de consultas em jornais da época, tanto impressos, quanto veiculados na TV, já que J. J. Abdalla foi deputado federal por mais de uma vez.
O grupo já fez contato com o Sindicato, existente até hoje, e que tem como membros muitos operários grevistas que poderão dar depoimentos. Além disso, contaremos com as imagens de arquivos do Sindicato, que disponibilizou seu acervo com filmes e reportagens da época.
O grupo também já levantou o nome de possíveis fontes para gravarmos entrevistas. São elas:
- Elcio Siqueira, historiador e filho de um Queixada
- Representante da família Abdalla
- Cesar Vieira, diretor da Companhia de teatro União e Olho Vivo, que escreveu a peça Bumba meu Queixada
- Rogério Corrêa, diretor do curta-metragem “Os Queixadas”, de 1979
- Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo que apoiou o movimento
- Marilena Chauí, então secretária de cultura de São Paulo que defendeu o tombamento da Fábrica
-Renato Rua de Almeida, advogado trabalhista, estagiário da Frente Nacional do Trabalho que participou da greve de Perus nos anos de 1962 e 1963
- Sidnei Fernandes Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cimento
Bibliografia:
i. ABRÃO, Nelson. A Máfia do Cimento. Loyola, 1987.
ii. DA-RIN, Sílvio. Espelho partido. Azougue Editorial, 2004.
iii. FIELD, Syd. Manual do roteiro. Objetiva, 1982.
iv. JESUS, Mário Carvalho de. Cimento Perus: 40 Anos de ação sindical transformam velha fábrica em centro de cultura municipal. JMJ Consultoria e Promoções, 1992.
v. LABAKI, Amir. É tudo verdade: reflexões sobre a cultura do documentário. Francis, 2005.
vi. LABAKI, Amir. Introdução ao documentário brasileiro. Francis, 2006.
vii. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho. Jorge Zahar, 2004.
viii. MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir [Org.]. O cinema do real. Cosac Naify, 2005.
ix. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Papirus, 2005.
x. SARAIVA, Leandro e CANNITO, Newton. Manual de roteiro. Conrad do Brasil, 2004.
xi. SIQUEIRA, Elcio. Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus: contribuição para uma história da indústria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987). Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, 2001.
Filmografia:
i. CORRÊA, Rogério. Os Queixadas. 1978.
ii. COUTINHO, Eduardo. Cabra marcado para morrer. 1985.
iii. COUTINHO, Eduardo. Edifício Master. 2002.
iv. COUTINHO, Eduardo. Peões. 2004.
v. COUTINHO, Eduardo. Santo forte. 1999.
vi. COUTINHO, Eduardo. O Fim e o Princípio. 2005.
vii. DREW, Robert. Crisis. 1963.
viii. DREW, Robert. Primary. 1960.
ix. FLAHERTY, Robert. Man of Aran. 1934.
x. FLAHERTY, Robert. Louisiana Story. 1948.
xi. FLAHERTY, Robert. Tabu. 1931.
xii. JARDIM, João e CARVALHO, Walter. Janela da Alma. 2001.
xiii. MOCARZEL, Evaldo. Do luto à luta. 2005.
xiv. ROUCH, Jean. Eu, um negro. 1958.
xv. ROUCH, Jean. Jaguar 1967.
xvi. ROUCH, Jean. Os mestres loucos. 1955.
xvii. SALLES, João Moreira. Notícias de uma guerra particular. 1999.
xviii. SALLES, João Moreira. Entreatos. 2004.
Nathalia
outros contatos
Tem uma matéria que registra um reencontro dos queixadas em novembro de 2008, a Erundina foi convidada a falar, também acho que ia ser bacana falar com a deputada, achei o contato dela:
Gabinete: 620 - Anexo: IV - Telefone:(61) 3215-5620 - Fax:(61) 3215-2620 dep.luizaerundina@camara.gov.br
Outra coisa, acho que ia ser bacana colocar uns trechos do espetáculo, achei isso no site do olho vivo:http://www.cesarvieiratuov.com.br/bumba.cfm
E tem duas coisas do orkut:
Lucas - grupo de teatro Pandora, que está envolvido no resgate da memória queixada. Achei ele neste post
"Lucas Resgate Histórico da luta dos QueixadasVenham conhecer parte da história do movimento operário do nosso bairro, um dos mais importantes do Brasil."
Sei que foge um pouco do foco, mas, Marcos Pierin, parece um cara engajado em transformar o negócio em pólo cultural, acho que vale para a apuração, ele deve conhecer uma galera:
Marcos Pierin E.F.P.P. - Estrada de Ferro Perus Pirapora
Muitos não conhecem, mas grande parte do Brasil foi construido com cimento da Fábrica de Cimento Perus, esta fábrica que foi sinonino de modernidade no século passado, hoje não existe mais.
Mas ela deixou um grande patrimônio, e um deles é uma verdadeira estrada de ferro de 16KM, na região de Perus e Cajamar SP
Estamos tentando revitalizar esta estrada de ferro, para que as memórias dos mais antigos não sejam soterradas pelo tempo - a comunidade está empenhada em ajudar a concretizar dois projetos:
Transformar em centro cultural a desativada fábrica de Cimentos Perus, atualmente propriedade de um sobrinho do J.J. Abdalla;
Reativar a linha de trem Perus-Pirapora para fins turísticos.
O trabalho já está caminhando, mas precisamos capitanear parceiros para começar a mostrar resultado: O primeiro dos 16 Km da estrada já foi revitalizado, assim como a locomotiva francesa Decauville 8, uma das 21 que operavam na linha.
"A Perus-Pirapora não é de grande importância somente para Perus, mas também para o Estado de São Paulo e até para o Brasil. É hoje a única estrada de ferro do país de bitola estreita (60 cm) no mundo ainda intacta.
Participe: Quer seja com idéias, voluntáriado, pressão politica, dinheiro, etc."
Talita
Gabinete: 620 - Anexo: IV - Telefone:(61) 3215-5620 - Fax:(61) 3215-2620 dep.luizaerundina@camara.gov.br
Outra coisa, acho que ia ser bacana colocar uns trechos do espetáculo, achei isso no site do olho vivo:http://www.cesarvieiratuov.com.br/bumba.cfm
E tem duas coisas do orkut:
Lucas - grupo de teatro Pandora, que está envolvido no resgate da memória queixada. Achei ele neste post
"Lucas Resgate Histórico da luta dos QueixadasVenham conhecer parte da história do movimento operário do nosso bairro, um dos mais importantes do Brasil."
Sei que foge um pouco do foco, mas, Marcos Pierin, parece um cara engajado em transformar o negócio em pólo cultural, acho que vale para a apuração, ele deve conhecer uma galera:
Marcos Pierin E.F.P.P. - Estrada de Ferro Perus Pirapora
Muitos não conhecem, mas grande parte do Brasil foi construido com cimento da Fábrica de Cimento Perus, esta fábrica que foi sinonino de modernidade no século passado, hoje não existe mais.
Mas ela deixou um grande patrimônio, e um deles é uma verdadeira estrada de ferro de 16KM, na região de Perus e Cajamar SP
Estamos tentando revitalizar esta estrada de ferro, para que as memórias dos mais antigos não sejam soterradas pelo tempo - a comunidade está empenhada em ajudar a concretizar dois projetos:
Transformar em centro cultural a desativada fábrica de Cimentos Perus, atualmente propriedade de um sobrinho do J.J. Abdalla;
Reativar a linha de trem Perus-Pirapora para fins turísticos.
O trabalho já está caminhando, mas precisamos capitanear parceiros para começar a mostrar resultado: O primeiro dos 16 Km da estrada já foi revitalizado, assim como a locomotiva francesa Decauville 8, uma das 21 que operavam na linha.
"A Perus-Pirapora não é de grande importância somente para Perus, mas também para o Estado de São Paulo e até para o Brasil. É hoje a única estrada de ferro do país de bitola estreita (60 cm) no mundo ainda intacta.
Participe: Quer seja com idéias, voluntáriado, pressão politica, dinheiro, etc."
Talita
filme "os queixadas"
No site da ABEPC achei o cara que fez "Os Queixadas"
Ele fez o filme aos 24 anos, em 1978. Acho que ele pode dar umas dicas, acho que vale a pena falar com ele e, quem sabe, não é uma bela fonte.
PRODUTORA: Leão Filmes Ltda. ME - é a produtora do caraESTADO: SP CONTATO: Rogério Corrêa TELEFONE: 11-3812-8096E-MAIL: rogercor@uol.com.br
TALITA
Ele fez o filme aos 24 anos, em 1978. Acho que ele pode dar umas dicas, acho que vale a pena falar com ele e, quem sabe, não é uma bela fonte.
PRODUTORA: Leão Filmes Ltda. ME - é a produtora do caraESTADO: SP CONTATO: Rogério Corrêa TELEFONE: 11-3812-8096E-MAIL: rogercor@uol.com.br
TALITA
advogado trabalhista
Acho bacana a gente falar com um advogado trabalhista chamado Renato Rua de Almeida, ele participou da greve.Aqui tem um perfil dele:http://www.aatsp.com.br/Conteudo/ConteudoBusca.aspx?idpagina=127&IdNavegacao=58&IdPortal=1&IdFerramenta=9
" Engaja-se na Ação Católica por meio da JUC (Juventude Universitária Cristã) e daí naturalmente vai estagiar na Frente Nacional do Trabalho com o Dr.Mário Carvalho de Jesus, experimentando o batismo no movimento sindical quando em 1962 e 1963 participa da Greve de Perus, uma das mais longas e mais aguerridas paralisações da história do sindicalismo brasileiro."
e aqui tem o currículo com telefone e tudo mais, ele é professor da PUC:http://lattes.cnpq.br/7123196890677299
Talita
" Engaja-se na Ação Católica por meio da JUC (Juventude Universitária Cristã) e daí naturalmente vai estagiar na Frente Nacional do Trabalho com o Dr.Mário Carvalho de Jesus, experimentando o batismo no movimento sindical quando em 1962 e 1963 participa da Greve de Perus, uma das mais longas e mais aguerridas paralisações da história do sindicalismo brasileiro."
e aqui tem o currículo com telefone e tudo mais, ele é professor da PUC:http://lattes.cnpq.br/7123196890677299
Talita
Mundos do Trabalho
achei uma parada meio acadêmica que pode servir de fonte. http://www.ifch.unicamp.br/mundosdotrabalho/arquivos/elcio.pdf
Nathalia
Nathalia
A Vala Clandestina de Perus
Até o mês de abril de 2000 a cena que se via na sala do Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) destinada a guardar as cerca de mil ossadas humanas encontradas em 1990 numa vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo, era patética. Amontoados por toda a sala de necrópsia, os sacos plásticos contendo os ossos de mortos políticos na década de 70, além de vítimas do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio composto após o golpe militar de 64 por policiais civis, e indigentes estavam em estado deplorável, alguns abertos e em meio ao mofo, pó e a baratas mortas. A terra seca que cobria o chão de todo o ambiente onde ficam as ossadas foi resultado de um problema no ralo ocorrido em 1998, que provoca o refluxo da água. Como a sala fica num nível baixo, as águas das chuvas se misturaram à terra e invadiram o local, deixando as ossadas, algumas fora dos sacos, cheias de lama. Numa saleta ao lado ainda havia um aparelho de raio X que, segundo informações de funcionário da Unicamp, foi cedido pelo governo do Estado para ser utilizado nas perícias desses ossos. A sala só foi limpa e os sacos superficialmente arrumados porque o reitor da Unicamp, Hermano Tavares, quase dois anos depois de assumir a reitoria, resolveu nomear uma comissão para cuidar da transferência das ossadas para a Universidade de São Paulo e esta comissão tratou de organizar os ossos para tentar evitar maior degeneração do material. Tavares anunciou em 1998 a devolução oficial das ossadas ao governo do Estado. Conversar com o reitor sobre os ossos do Cemitério de Perus sempre foi uma tarefa difícil. Seu assessor de imprensa era muito objetivo quando lhe solicitavam uma entrevista com a reitoria: “O reitor não fala sobre este assunto porque a universidade não tem mais nada a ver com isso. Este é um assunto da Secretaria de Segurança Pública.” O assessor complementa que era a comissão quem passou a responder pelo caso na Unicamp. O foneticista Ricardo Molina, que até janeiro do ano passado dirigia o Departamento de Medicina Legal (DML) da Unicamp – quando o setor foi extinto –, diz que, enquanto esteve responsável pelo DML, propôs fazer um inventário e armazenar de forma mais adequada as ossadas, mas foi proibido por Tavares. “Se você conversar com o reitor, essa é a posição clara dele: a universidade já disponibilizou as ossadas e está esperando uma resposta da sociedade”, comenta o diretor. A “resposta da sociedade” que o reitor aguarda também está sendo esperada há pelo menos seis anos, quando as perícias nas ossadas cessaram, por familiares de mortos políticos enterrados em Perus. A Unicamp, aliás, não deveria aguardar resposta. Ela, junto com a Secretaria da Segurança Pública, responsáveis pelos ossos desde 1990, é que deveria estar preocupada em resolver a questão. Esta opinião é compartilhada pela Comissão de Familiares de Desaparecidos e Mortos Políticos, pela direção do extinto Departamento de Medicina Legal da Unicamp e pelo médico Nelson Massini, que trabalhou durante 20 anos na universidade e antecedeu o legista Fortunato Antonio Badan Palhares na chefia do Departamento de Medicina Legal, tornando-se famoso pela atuação em casos como o de Josef Mengele, Carlos Lamarca, Carlos Marighela, PC Farias e Chico Mendes. Ao assumir o DML em 1990, Badan Palhares ficou encarregado de coordenar o trabalho de identificação das ossadas encontradas em Perus.
A certeza de que a Unicamp e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo deveriam uma satisfação à sociedade se justifica em documentos e números. Em 1990, a universidade, o governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo assinaram um convênio, vigente até dezembro de 1991, para que fossem feitas as perícias nas ossadas humanas encontradas em Perus. Assinado pelo governador Orestes Quércia, pela prefeita Luiza Erundina e pelo reitor Carlos Vogt, o convênio não estabaleceu repasse de recursos à Unicamp. Cada um dos participantes ficaria responsável por suas próprias despesas. A Unicamp se comprometeu a “fornecer locais adequados para a guarda das ossadas e para as perícias a serem realizadas e os profissionais e técnicos do Departamento de Medicina Legal para desenvolvimento do trabalho”, conforme o documento. Entre os enterrados na vala clandestina de Perus foram confirmados os nomes de Denis Casemiro e Frederico Eduardo Mayr – identificados pela equipe de Badan Palhares –, Dimas Casemiro, Flávio Carvalho Molina, Grenaldo Jesus da Silva e Francisco José de Oliveira, cujas famílias até hoje esperam a identificação. Denis e Frederico foram reconhecidos até 1993. Até essa época também foram confirmadas as identidades de Antônio Carlos Bicalho Lana, Hélber José Gomes Goulart e Sonia Maria de Moraes Angel, que estavam em covas regulares. Em janeiro de 1992, Badan Palhares enviou um termo aditivo ao convênio, no qual são solicitados recursos à Prefeitura e ao Estado para a continuidade dos trabalhos desenvolvidos. De acordo com o processo, por meio do termo aditivo a prefeita Luiza Erundina e o governador Luís Antônio Fleury Filho disponibilizariam cerca de US$ 200 mil, pagos 70% pelo Estado e 30% pela Prefeitura em 12 parcelas mensais. Como justificativa, a equipe da Unicamp informou no contrato que teria de mandar dois professores ao Japão, com estadia de no mínimo 30 dias, para trabalho no Forensic Department School of Medicine, e aos Estados Unidos, com o objetivo de visitar o Serviço Federal de Investigação (FBI). O motivo era o aprimoramento técnico-científico na área de antropologia e sobreposição de imagens. O custo das viagens ficava em torno de US$ 33 mil. Outra parte significativa do montante se destinava à construção de área para realização de exames antropométricos, no caso, a duplicação do prédio do Departamento de Medicina Legal: US$ 160 mil. Os dados constam no detalhamento do orçamento enviado ao Estado e à Prefeitura. Para Nelson Massini, hoje professor titular da faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, viagens ao Japão ou aos Estados Unidos não eram necessárias. “Os técnicos mais avançados para fazer identificações estão na Argentina. Não precisavam ir para o Japão.” No detalhamento do orçamento a Unicamp ainda observa que o “convênio foi celebrado visando uma análise completa de todos os casos existentes e exumados naquele cemitério”. Tivesse feito uma análise completa de todos os casos existentes, Badan Palhares e sua equipe poderiam, há pelo menos cinco anos, quando foram enviados fragmentos de ossos para exames de DNA na Universidade Federal de Minas Gerais, ter colocado fim ao sofrimento de famílias como a de Flávio Carvalho Molina. A mãe de Flávio, Maria Helena, ao longo dos últimos dez anos em que esteve oscilando entre a perspectiva de ver seu filho identificado e a decepção do descaso daqueles que ficaram responsáveis por esse trabalho, sentiu sua saúde minar. Persiste com a família, porém, a obstinação pelo direito de sepultar o filho. Um dos irmãos de Flávio, Gilberto Molina, se emociona ao lembrar o esforço de tantos anos para encontrar os restos mortais do irmão e, agora, a sensação de impotência diante da falta de interesse na identificação de Flávio. “Em 1980, quando soube que o Flávio estava na vala de Perus, eu nunca poderia imaginar que hoje, 20 anos depois, ia estar passando por essa mesma agonia”, diz. Gilberto viu seu pai morrer, em 1985, com a frustração de não ter encontrado o filho. Agora, não consegue entender por que as coisas tornaram-se tão difíceis em relação às identificações das ossadas. “Parece brincadeira como uma arbitrariedade, uma violência tão grande se perpetua durante tanto tempo”, lamenta. A história do trabalho de identificação de Flávio Carvalho Molina é um exemplo da falta de respeito da Secretaria de Segurança Pública, que acompanhou a paralisação das perícias em Campinas, e da Unicamp em relação às famílias de mortos políticos que esperam identificação no Departamento de Medicina Legal da universidade. Desde 1993, não há avanços no trabalho de perícias nas ossadas. A época coincide com o período em que a prefeita de São Paulo Luiza Erundina, que vistoriava junto com os familiares o andamento dos trabalhos em Campinas, termina o seu mandato. Segundo Ivan Seixas e Maria Amélia Almeida Teles, membros da Comissão de Familiares, o executor substituto do convênio, José Eduardo Bueno Zappa, confirmou a eles (familiares) que a ossada de Flávio já estava identificada, mas que Palhares ainda não queria entregar à família. Maria Amélia lembra que Zappa levou-os até uma sala no andar superior e lá, dentro de um armário baixo de madeira, o legista mostrou a ossada montada. Ivan confirma: “Nós pressionamos e o Dr. Zappa falou: ‘nós já identificamos’.” Gilberto Molina conta que em uma conversa telefônica com Badan Palhares o legista também deu evidências de que Flávio já estava identificado. No início dos trabalhos, em 1990, Gilberto mandou para Palhares um dente de Flávio que havia encontrado nas coisas do irmão, além de uma ficha dentária. Segundo Gilberto, Palhares argumentou que, observando a ficha e a arcada da ossada, ele descobriu que aquele dente não era de Flávio. “Ele sabia que aquela ossada que estava lá, montada, completinha, como me relataram, era do Flávio”, conclui. Em todas as tentativas, Badan Palhares não foi encontrado para comentar o caso. José Eduardo Bueno Zappa trabalhou na Unicamp até 1997. Com a situação em que estavam as ossadas na universidade, os familiares exigiram que Palhares fosse afastado do caso. Em 31 de outubro de 1996, Zappa foi designado responsável técnico do Projeto Perus. Durante os seis meses em que esteve à frente do caso, não houve avanços. Em abril do ano seguinte, o legista entregou à reitoria da Unicamp um relatório que encerrava as análises nas ossadas de Perus. O documento, no entanto, não foi aprovado pelo Conselho Departamental do Departamento de Medicina Legal da universidade. Num ofício enviado ao reitor, Ricardo Molina, que assumiu o Departamento em 1997, apresenta as deficiências do relatório: não são expostos com clareza os procedimentos técnicos empregados nos processos de identificação, impossibilitando uma avaliação objetiva do trabalho realizado; não são detalhadas as compras de equipamento e recursos financeiros eventualmente empregados em função da existência do convênio; o relator não explica outras questões importantes citadas no relatório, tais como a drástica redução da equipe envolvida no projeto Perus, que inicia com 50 integrantes e termina com apenas quatro; estranhamente, não há referência a qualquer relatório anterior, que, a princípio, deveria ter sido encaminhado pelo ex-coordenador do projeto (Prof. Dr. Fortunato Antonio Badan Palhares). Neste relatório, Zappa informa que duas ossadas, nº 240 e 57, foram encaminhadas à Universidade Federal de Minas Gerais para serem feitos exames de DNA. Sem especificar de quem é cada ossada suspeita, o perito diz que uma pode pertencer a Flávio Carvalho Molina e outra a Dimas Antônio Casemiro. Além dessas, foram enviadas à UFMG três ossadas tiradas de cada uma das sepulturas onde estavam Hiroaki Torigoe e Luís José da Cunha, ambos desaparecidos políticos. Outro dado inexistente no relatório é a data em que foi enviado o material para a equipe de Minas Gerais. Segundo Gilberto Molina, em 1995 Palhares já havia mandado os ossos para a UFMG sem avisar a família e sem colher o sangue dos familiares, que serve de parâmetro para o exame de DNA. Só depois o legista comunicou a possibilidade de identificar pelo DNA e então pediu amostras de sangue. Enquanto o resultado de um exame como esse costuma demorar cerca de três meses, o de Flávio só ficou pronto dois anos depois. Segundo o próprio relatório da professora Vânia Ferreira Prado, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, que confirma o envio do material à universidade mineira em 1995, os atrasos consideráveis foram resultado de fatores como obras na estrutura física do Laboratório de Genética e Bioquímica. A análise, no entanto, voltou a decepcionar a família Molina: as três vértebras e uma costela enviadas não pertenciam a Flávio e não correspondiam entre si. Foram mandadas amostras de ossadas diferentes e nenhuma delas pertencente a Molina, o que impossibilitou a identificação. A professora Vânia ainda observa que os ossos também pode ter sido contaminados durante a análise, mas que essa possibilidade é remota, uma vez que foram tomadas todas as precauções para evitar as contaminações. Um aspecto que se destaca nesta questão é que as ossadas suspeitas de serem de Flávio e Dimas, segundo o relatório de Zappa, pertenciam aos grupos I e II, que, divididos pelo próprio legista, eram ossadas com crânio, o que aumentava muito a chance de identificação. Mas os crânios dessas duas ossadas não foram enviados à UFMG. Num artigo escrito logo depois do resultado final da UFMG, Gilberto Molina questiona: “Será que Badan Palhares montou um esqueleto a partir de quatro outros? Se isso for verdade, falhou a Unicamp num assunto que deveria dominar. Se for mentira, falhou a UFMG, que não consegue extrair DNA de ossos.” Além de Flávio, Dimas, Hiroaki e Luís José também não foram identificados pela equipe da Universidade Federal de Minas Gerais. A família de Hiroaki, por exemplo, sequer teve notícias da realização de fato do exame. “Nós não ficamos sabendo se os exames aconteceram mesmo. Não nos foi dada nenhuma satisfação”, comenta Shuniti Torigoe, irmão de Hiroaki. José Eduardo Bueno Zappa entregou o relatório que encerrava as análises nas ossadas de Perus um mês antes da chegada do relatório final de DNA nos ossos que seriam de Flávio. Depois disso, o legista se afastou da Unicamp e se restringe a dizer que tudo o que tinha para falar já o fez no relatório. Nessa época, o reitor da Unicamp era José Martins Filho. Zappa continuou trabalhando com Badan Palhares em seu laboratório particular. Para Nelson Massini, Palhares sequestrou as ossadas: “Através desse sequestro ele já conseguiu a ampliação do prédio, viagens, status. Sequestrou e a cada dia ele pede um resgate.” E completa: “A Unicamp é que tem de ser responsabilizada. Ela assumiu um compromisso publicamente. Esse compromisso precisa ser levado até o fim, custe o que custar. As famílias dos que estão lá não têm nada a ver com a história. A Unicamp é que tem de dar uma solução para isso.” Perguntado sobre as condições das ossadas, Massini explica que o abandono a que foram submetidos os ossos é uma irresponsabilidade. “Isso prejudica demais a identificação porque, com o tempo, vai criando fungos e só aumenta o prejuízo e a dificuldade científica de conseguir resolver. Os ossos têm de ser guardados em caixas ventiladas”, diz o legista. A família de Flávio não espera de braços cruzados que a Unicamp seja responsabilizada. Seu irmão Gilberto conta que há quase dez anos estão movendo uma ação contra o Estado, pedindo a identificação, uma indenização e a história verdadeira, e responsabilizando a União pelo assassinato de Flávio e ocultamento de cadáver. Baseado em uma entrevista que Massini concedeu à revista Caros Amigos em março do ano passado, na qual o legista afirma que parece haver interesse em que as ossadas degenerem e se torne definitivamente impossível continuar, Gilberto entrou com uma medida cautelar incidental com pedido de concessão de liminar, pedindo providências imediatas. A ação cautelar pressupõe uma urgência máxima. Mas as resoluções tomadas pelo juízo da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro não tiveram um resultado concreto quanto à identificação. Em maio de 1999, a juíza Márcia Maria Nunes de Barros solicitou ao reitor da Unicamp informações sobre a situação das ossadas, se a Unicamp tinha condições técnico-científicas para identificar Flávio e, em caso negativo, quem ou qual instituição estaria capacitada para fazer o exame. Duas respostas foram encaminhadas à juíza. Uma, do chefe do Departamento de Medicina Legal, Ricardo Molina, no dia 17 de junho do mesmo ano, que dizia que as ossadas continuam depositadas em área reservada do Departamento, individualmente ensacadas e separadas em grupos, e que no âmbito no Departamento não há condições técnicas para a realização de novos exames de identificação, mas que estaria encaminhando solicitação ao diretor da Faculdade de Ciências Médicas para saber da possibilidade de realizar exames com técnicas de Biologia Molecular nos centros da Faculdade. A resposta da reitoria, em 6 de julho, foi assinada pelo chefe de gabinete do reitor, Raul Vinhas Ribeiro, e informava que as ossadas estavam à disposição da Secretaria de Justiça do Estado desde 15 de maio de 1998 aguardando remoção e que, não tendo condições técnico-científicas de prosseguir os trabalhos periciais, a Unicamp permanecia aguardando a decisão das Secretarias de Justiça e da Segurança Pública quanto ao destino dos ossos. Gilberto entrou com um pedido para que as ossadas supostamente pertencentes a Flávio fossem encaminhadas ao Instituto Oscar Freire, departamento da Universidade de São Paulo que a Comissão indicou para trabalhar com as ossadas agora que a Unicamp não estava mais atuando. A juíza Regina Coeli de Carvalho Peixoto da 18ª Vara, substituindo a juíza da 17ª Vara, solicitou à reitoria da USP informações sobre as condições técnico-científicas do Instituto Oscar Freire para identificar os restos mortais de Flávio Molina. Na mesma data, 3 de agosto, a juíza enviou ofício aos secretários de Justiça e da Segurança Pública, comunicando o envio da solicitação ao Instituto Oscar Freire. Como resposta, em 16 de setembro, o professor Daniel Ribeiro Muñoz, do Instituto Oscar Freire, destaca que, como trata-se de mais de mil ossadas, o trabalho demoraria vários meses para ser executado e acarretaria gastos altos. Além disso, Muñoz informou que seria necessária uma equipe multidisciplinar, que implicaria em despesas elevadas, principalmente se tiverem que fazer testes de DNA. E conclui: para a realização deste trabalho será necessário fazer um convênio entre a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a Faculdade de Medicina da USP. A juíza, por outro lado, solicita ser informada pelo Instituto Oscar Freire logo que for feito o convênio. Novamente, a advogada da família Molina, Ana Müller, envia um ofício à juíza destacando que o objetivo é identificar apenas as ossadas nº 240 e 57 e que, portanto, não é necessário realizar mais um convênio. Ana Müller também destaca que por se tratar de uma medida cautelar, isto é, de extrema urgência, não se pode aguardar possíveis convênios sob o risco de deterioração das ossadas. A família Molina também indicou os legistas Anthenor Chicarino e Luis Fondebrier, da Equipe Argentina de Antropologia Forense, como peritos de confiança dos familiares. De acordo com Nelson Massini, a identificação das ossadas de Flávio, Dimas, Francisco e Grenaldo não é complicada. “Quem conhece o material lá sabe que a maioria das peças é de indigentes, que já deveriam ter sido sepultados. A identificação é principalmente dentária, que já leva a 100% de possibilidade. Mas se a dificuldade continuar, manda fazer DNA.” E fala sobre a perícia para identificar os quatro desaparecidos políticos: “Para esses quatro, se a gente consegue reduzir isso a dez crânios suspeitos, teríamos que pagar cerca de 20 exames de DNA.” O custo, segundo o legista, também não seria alto. Massini informa que mandar fazer um exame de DNA hoje na Argentina custa, no máximo, R$ 1.500. “Agora é só questão de organização”, pontua o perito. Desde setembro do ano passado, o caso está sob os cuidados do Ministério Público Federal de São Paulo e as ossadas foram transferidas, em maio de 2001, da Unicamp para o Cemitério do Araçá, na capital paulista. AS perícias estão a cargo do legista Daniel Muñoz. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, falou da responsabilidade e do descaso da Universidade no chamado “Projeto Perus”. “O Brasil precisa parar de varrer crimes para baixo do tapete. E a Unicamp, infelizmente, varreu as ossadas para baixo do tapete. É pena, mas nós estamos aqui propondo alguns elementos de análise que são os mais evidentes. O que de melhor se pode fazer é reconhecer que, por várias razões, não fizemos o que poderíamos fazer. Estamos sendo honestos, sinceros, e com a firme convicção de que este assunto não pode parar aí. Acho que assumindo honestamente que foi omissa, a Unicamp faz o melhor que pode fazer depois do mal que foi feito.” A vala A reabertura da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, no dia 4 de setembro de 1990, desenterrou não só 1.500 ossadas, mas também um passado que os militares e os governos que respaldaram a ditadura quiseram ocultar. O cemitério foi construído pela Prefeitura de São Paulo em 1970 e desde que foi criado esteve a serviço da repressão. Em 1990, o repórter Caco Barcelos estava fazendo um estudo sobre a violência policial, que resultou na publicação do livro Rota 66, e suas investigações revelaram que o destino das vítimas da polícia era o mesmo dos mortos por motivos políticos. Ele descobriu que nos documentos do IML, ao lado de alguns nomes, aparecia registrada a letra “T”, significando que se tratava de um terrorista, como os militares consideravam os oponentes do regime. A letra era o diferencial entre a vítima comum e a política. Mas o caminho era o mesmo: ocultamento de cadáver. A prefeita Luiza Erundina determinou a abertura da vala e uma completa investigação sobre o caso. A Câmara Municipal criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a origem e responsabilidade pelas ossadas e a utilização dos demais cemitérios de São Paulo para ocultamento de corpos das vítimas da repressão no país. Embora a informação da existência da vala de Perus só tenha se tornado pública em 1990, o fato era do conhecimento da Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos desde 1975. “Nós sabíamos dessa informação e guardamos porque não tínhamos para quem falar, não confiávamos em ninguém”, diz Ivan Seixas, membro da Comissão e filho de Joaquim Seixas, o primeiro preso político a ser enterrado no cemitério. Ele conta que seu pai foi assassinado e enterrado um mês depois de o cemitério ser inaugurado pelo prefeito Paulo Maluf, em 1971. A mãe e as duas irmãs de Ivan, que estiveram presas durante o ano de 1971 e foram libertadas em setembro do ano seguinte, passaram a visitar o túmulo de Joaquim. As idas ao cemitério renderam uma maior aproximação com os coveiros, que falavam sobre os presos políticos que ali eram enterrados. Segundo Ivan, os funcionários anunciavam: “Eles vão abrir uma vala comum e vão jogar todos para não serem identificados. Se vocês querem continuar visitando o túmulo de seu pai, levem para outro lugar, senão vocês vão perder.” Em 1975, duas quadras do Cemitério de Perus foram exumadas e os ossos colocados em sacos plásticos. A idéia era mandar as ossadas para um crematório que deveria ser construído no próprio cemitério. A CPI constatou que havia uma planta para sua criação desde 1969 e que um forno fôra encomendado à empresa inglesa Dowson & Mason. A construção do crematório em um cemitério destinado à sepultamentos de indigentes era ilegal e levantou suspeitas. A Dowson & Mason emitiu um relatório no qual apontava inadequações na planta: “Parece não haver hall de cerimônia nesse projeto e algumas coisas francamente não entendemos, mesmo considerando estarmos associados e trabalhando há 15 anos em projetos de crematório em todo o mundo”. Com esses impedimentos, decidiram executar o projeto no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha. Lá também não foi possível e o crematório foi então construído no Cemitério de Vila Alpina. A intenção de cremar os ossos – da qual, segundo o relatório da CPI da Câmara, só se tem notícia pela memória dos funcionários já que não existe documentação a respeito – foi descartada em 1976 quando a vala clandestina foi aberta. Meio metro de largura, 3 metros de profundidade e mais de 35 metros de extensão. Essas são as medidas do buraco para onde foram os restos mortais de cerca de 1.500 pessoas. Até então, as ossadas tinham ficado amontoadas em uma sala da administração do cemitério. Tanto a exumação quanto a reinumação aconteceram em desobediência aos procedimentos legais do serviço funerário municipal. De acordo com as investigações da CPI a vala se manteve em caráter de clandestinidade sob vários aspectos: não houve registro de sua criação, foi aberta em área destinada à construção de uma capela, não foi demarcada posteriormente como local de sepultamento, não foi incluída na planta do cemitério, foi construída de forma irregular, sem alvenaria e outros requisitos, não houve registro da transferência dos corpos exumados para a vala. A prefeitura criou uma comissão para decidir o que fazer com as ossadas. O Governo do Estado e entidades ligadas aos direitos humanos foram convocadas para discutir sobre o assunto. A Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos recusou de imediato a proposta de enviar as ossadas para o Instituto Médico Legal de São Paulo (IML). “O IML não podia ser porque o diretor, Antônio de Melo, assinou o laudo falso do Manoel Fiel Filho, um operário metalúrgico assassinado em janeiro de 1976”, afirma Maria Amélia Almeida Teles, membro da Comissão. Durante três meses, antes de serem trasladados para Campinas, uma equipe composta por mais de 50 profissionais entre professores, médicos, dentistas, alunos e funcionários da Unicamp e de outras instituições fizeram os processos preliminares da investigação dentro do próprio cemitério. Três caminhões lotados seguiram para a Unicamp com as ossadas selecionadas, limpas e identificadas com uma chapa de metal numerada. Um convênio entre a universidade, o governo do Estado e a prefeitura garantiria os recursos para o trabalho de identificação. O trabalho em Campinas contou com a colaboração da Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos. “Nós fizemos um levantamento dos desaparecidos políticos e colhemos um grande número de informações que possibilitou a elaboração de uma ficha antropométrica de cada desaparecido”, lembra Amélia. As ossadas foram divididas em quatro grupos com características específicas visando facilitar a identificação. Durante dois anos os trabalhos correram a todo o vapor. A descoberta da vala clandestina de Perus reacendeu a esperança de identificação de outros desaparecidos políticos que tiveram seus corpos enterrados em covas regulares não só no cemitério Dom Bosco mas em outros. Com a lei da anistia, em 1979, muitos exilados que se encontravam fora do país voltaram para o Brasil e começaram a trocar informações sobre seus companheiros que estavam desaparecidos. Foi a partir dessa comunicação que Suzana Lisboa conseguiu localizar, no Cemitério de Perus, a vala regular onde seu marido, Luiz Eurico Tejera Lisboa, foi enterrado. Em 1996, a guerrilheira Maria Lúcia Petit foi identificada e seus restos mortais entregues à sua família. Quando a sua ossada foi exumada no cemitério de Xambioá, Tocantins, em 1991, ainda havia resquícios das roupas, calçados e acessórios que Maria Lúcia usava quando foi presa. Ela vestia uma blusa de gola rolê, feita de material sintético, usava botas, cinto de couro e calcinha de nylon, utilizada pelas guerrilheiras quando estavam menstruadas para facilitar a higiene pessoal. A Comissão tomou conhecimento desses dados através de uma carta de despedida escrita por uma companheira de guerrilha, na qual tudo foi descrito. Todas essas informações coincidiam com os resquícios encontrados junto aos restos mortais exumados em Xambioá. Amélia recorda-se que Badan Palhares, em entrevistas concedidas no local da exumação, declarou que a ossada deveria ser de Maria Lúcia. Ela diz que o legista chegou a mencionar que o corpo foi enterrado com um pára-quedas do Exército. Quando chegou em São Paulo, Palhares negou as declarações anteriores e descartou a possibilidade de ser a guerrilheira, afirmando que se tratava de uma prostituta. Os integrantes da Comissão não tinham dúvida que aqueles restos mortais pertenciam a Maria Lúcia e diversas vezes procuraram Badan para cobrar a identificação. Apresentaram, inclusive, a sua ficha odontológica para facilitar a investigação. Eles diziam para o legista que Maria Lúcia pertencia a uma família de classe média e que um tratamento dentário, naquela época, era muito caro e dificilmente uma prostituta teria condições financeiras para fazê-lo. Todos os argumentos e cobranças foram desconsideradas por Badan Palhares. Somente em 1996, após uma matéria do jornal O Globo, é que ele reconhece a ossada como pertencente a Maria Lúcia.
A certeza de que a Unicamp e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo deveriam uma satisfação à sociedade se justifica em documentos e números. Em 1990, a universidade, o governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo assinaram um convênio, vigente até dezembro de 1991, para que fossem feitas as perícias nas ossadas humanas encontradas em Perus. Assinado pelo governador Orestes Quércia, pela prefeita Luiza Erundina e pelo reitor Carlos Vogt, o convênio não estabaleceu repasse de recursos à Unicamp. Cada um dos participantes ficaria responsável por suas próprias despesas. A Unicamp se comprometeu a “fornecer locais adequados para a guarda das ossadas e para as perícias a serem realizadas e os profissionais e técnicos do Departamento de Medicina Legal para desenvolvimento do trabalho”, conforme o documento. Entre os enterrados na vala clandestina de Perus foram confirmados os nomes de Denis Casemiro e Frederico Eduardo Mayr – identificados pela equipe de Badan Palhares –, Dimas Casemiro, Flávio Carvalho Molina, Grenaldo Jesus da Silva e Francisco José de Oliveira, cujas famílias até hoje esperam a identificação. Denis e Frederico foram reconhecidos até 1993. Até essa época também foram confirmadas as identidades de Antônio Carlos Bicalho Lana, Hélber José Gomes Goulart e Sonia Maria de Moraes Angel, que estavam em covas regulares. Em janeiro de 1992, Badan Palhares enviou um termo aditivo ao convênio, no qual são solicitados recursos à Prefeitura e ao Estado para a continuidade dos trabalhos desenvolvidos. De acordo com o processo, por meio do termo aditivo a prefeita Luiza Erundina e o governador Luís Antônio Fleury Filho disponibilizariam cerca de US$ 200 mil, pagos 70% pelo Estado e 30% pela Prefeitura em 12 parcelas mensais. Como justificativa, a equipe da Unicamp informou no contrato que teria de mandar dois professores ao Japão, com estadia de no mínimo 30 dias, para trabalho no Forensic Department School of Medicine, e aos Estados Unidos, com o objetivo de visitar o Serviço Federal de Investigação (FBI). O motivo era o aprimoramento técnico-científico na área de antropologia e sobreposição de imagens. O custo das viagens ficava em torno de US$ 33 mil. Outra parte significativa do montante se destinava à construção de área para realização de exames antropométricos, no caso, a duplicação do prédio do Departamento de Medicina Legal: US$ 160 mil. Os dados constam no detalhamento do orçamento enviado ao Estado e à Prefeitura. Para Nelson Massini, hoje professor titular da faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, viagens ao Japão ou aos Estados Unidos não eram necessárias. “Os técnicos mais avançados para fazer identificações estão na Argentina. Não precisavam ir para o Japão.” No detalhamento do orçamento a Unicamp ainda observa que o “convênio foi celebrado visando uma análise completa de todos os casos existentes e exumados naquele cemitério”. Tivesse feito uma análise completa de todos os casos existentes, Badan Palhares e sua equipe poderiam, há pelo menos cinco anos, quando foram enviados fragmentos de ossos para exames de DNA na Universidade Federal de Minas Gerais, ter colocado fim ao sofrimento de famílias como a de Flávio Carvalho Molina. A mãe de Flávio, Maria Helena, ao longo dos últimos dez anos em que esteve oscilando entre a perspectiva de ver seu filho identificado e a decepção do descaso daqueles que ficaram responsáveis por esse trabalho, sentiu sua saúde minar. Persiste com a família, porém, a obstinação pelo direito de sepultar o filho. Um dos irmãos de Flávio, Gilberto Molina, se emociona ao lembrar o esforço de tantos anos para encontrar os restos mortais do irmão e, agora, a sensação de impotência diante da falta de interesse na identificação de Flávio. “Em 1980, quando soube que o Flávio estava na vala de Perus, eu nunca poderia imaginar que hoje, 20 anos depois, ia estar passando por essa mesma agonia”, diz. Gilberto viu seu pai morrer, em 1985, com a frustração de não ter encontrado o filho. Agora, não consegue entender por que as coisas tornaram-se tão difíceis em relação às identificações das ossadas. “Parece brincadeira como uma arbitrariedade, uma violência tão grande se perpetua durante tanto tempo”, lamenta. A história do trabalho de identificação de Flávio Carvalho Molina é um exemplo da falta de respeito da Secretaria de Segurança Pública, que acompanhou a paralisação das perícias em Campinas, e da Unicamp em relação às famílias de mortos políticos que esperam identificação no Departamento de Medicina Legal da universidade. Desde 1993, não há avanços no trabalho de perícias nas ossadas. A época coincide com o período em que a prefeita de São Paulo Luiza Erundina, que vistoriava junto com os familiares o andamento dos trabalhos em Campinas, termina o seu mandato. Segundo Ivan Seixas e Maria Amélia Almeida Teles, membros da Comissão de Familiares, o executor substituto do convênio, José Eduardo Bueno Zappa, confirmou a eles (familiares) que a ossada de Flávio já estava identificada, mas que Palhares ainda não queria entregar à família. Maria Amélia lembra que Zappa levou-os até uma sala no andar superior e lá, dentro de um armário baixo de madeira, o legista mostrou a ossada montada. Ivan confirma: “Nós pressionamos e o Dr. Zappa falou: ‘nós já identificamos’.” Gilberto Molina conta que em uma conversa telefônica com Badan Palhares o legista também deu evidências de que Flávio já estava identificado. No início dos trabalhos, em 1990, Gilberto mandou para Palhares um dente de Flávio que havia encontrado nas coisas do irmão, além de uma ficha dentária. Segundo Gilberto, Palhares argumentou que, observando a ficha e a arcada da ossada, ele descobriu que aquele dente não era de Flávio. “Ele sabia que aquela ossada que estava lá, montada, completinha, como me relataram, era do Flávio”, conclui. Em todas as tentativas, Badan Palhares não foi encontrado para comentar o caso. José Eduardo Bueno Zappa trabalhou na Unicamp até 1997. Com a situação em que estavam as ossadas na universidade, os familiares exigiram que Palhares fosse afastado do caso. Em 31 de outubro de 1996, Zappa foi designado responsável técnico do Projeto Perus. Durante os seis meses em que esteve à frente do caso, não houve avanços. Em abril do ano seguinte, o legista entregou à reitoria da Unicamp um relatório que encerrava as análises nas ossadas de Perus. O documento, no entanto, não foi aprovado pelo Conselho Departamental do Departamento de Medicina Legal da universidade. Num ofício enviado ao reitor, Ricardo Molina, que assumiu o Departamento em 1997, apresenta as deficiências do relatório: não são expostos com clareza os procedimentos técnicos empregados nos processos de identificação, impossibilitando uma avaliação objetiva do trabalho realizado; não são detalhadas as compras de equipamento e recursos financeiros eventualmente empregados em função da existência do convênio; o relator não explica outras questões importantes citadas no relatório, tais como a drástica redução da equipe envolvida no projeto Perus, que inicia com 50 integrantes e termina com apenas quatro; estranhamente, não há referência a qualquer relatório anterior, que, a princípio, deveria ter sido encaminhado pelo ex-coordenador do projeto (Prof. Dr. Fortunato Antonio Badan Palhares). Neste relatório, Zappa informa que duas ossadas, nº 240 e 57, foram encaminhadas à Universidade Federal de Minas Gerais para serem feitos exames de DNA. Sem especificar de quem é cada ossada suspeita, o perito diz que uma pode pertencer a Flávio Carvalho Molina e outra a Dimas Antônio Casemiro. Além dessas, foram enviadas à UFMG três ossadas tiradas de cada uma das sepulturas onde estavam Hiroaki Torigoe e Luís José da Cunha, ambos desaparecidos políticos. Outro dado inexistente no relatório é a data em que foi enviado o material para a equipe de Minas Gerais. Segundo Gilberto Molina, em 1995 Palhares já havia mandado os ossos para a UFMG sem avisar a família e sem colher o sangue dos familiares, que serve de parâmetro para o exame de DNA. Só depois o legista comunicou a possibilidade de identificar pelo DNA e então pediu amostras de sangue. Enquanto o resultado de um exame como esse costuma demorar cerca de três meses, o de Flávio só ficou pronto dois anos depois. Segundo o próprio relatório da professora Vânia Ferreira Prado, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, que confirma o envio do material à universidade mineira em 1995, os atrasos consideráveis foram resultado de fatores como obras na estrutura física do Laboratório de Genética e Bioquímica. A análise, no entanto, voltou a decepcionar a família Molina: as três vértebras e uma costela enviadas não pertenciam a Flávio e não correspondiam entre si. Foram mandadas amostras de ossadas diferentes e nenhuma delas pertencente a Molina, o que impossibilitou a identificação. A professora Vânia ainda observa que os ossos também pode ter sido contaminados durante a análise, mas que essa possibilidade é remota, uma vez que foram tomadas todas as precauções para evitar as contaminações. Um aspecto que se destaca nesta questão é que as ossadas suspeitas de serem de Flávio e Dimas, segundo o relatório de Zappa, pertenciam aos grupos I e II, que, divididos pelo próprio legista, eram ossadas com crânio, o que aumentava muito a chance de identificação. Mas os crânios dessas duas ossadas não foram enviados à UFMG. Num artigo escrito logo depois do resultado final da UFMG, Gilberto Molina questiona: “Será que Badan Palhares montou um esqueleto a partir de quatro outros? Se isso for verdade, falhou a Unicamp num assunto que deveria dominar. Se for mentira, falhou a UFMG, que não consegue extrair DNA de ossos.” Além de Flávio, Dimas, Hiroaki e Luís José também não foram identificados pela equipe da Universidade Federal de Minas Gerais. A família de Hiroaki, por exemplo, sequer teve notícias da realização de fato do exame. “Nós não ficamos sabendo se os exames aconteceram mesmo. Não nos foi dada nenhuma satisfação”, comenta Shuniti Torigoe, irmão de Hiroaki. José Eduardo Bueno Zappa entregou o relatório que encerrava as análises nas ossadas de Perus um mês antes da chegada do relatório final de DNA nos ossos que seriam de Flávio. Depois disso, o legista se afastou da Unicamp e se restringe a dizer que tudo o que tinha para falar já o fez no relatório. Nessa época, o reitor da Unicamp era José Martins Filho. Zappa continuou trabalhando com Badan Palhares em seu laboratório particular. Para Nelson Massini, Palhares sequestrou as ossadas: “Através desse sequestro ele já conseguiu a ampliação do prédio, viagens, status. Sequestrou e a cada dia ele pede um resgate.” E completa: “A Unicamp é que tem de ser responsabilizada. Ela assumiu um compromisso publicamente. Esse compromisso precisa ser levado até o fim, custe o que custar. As famílias dos que estão lá não têm nada a ver com a história. A Unicamp é que tem de dar uma solução para isso.” Perguntado sobre as condições das ossadas, Massini explica que o abandono a que foram submetidos os ossos é uma irresponsabilidade. “Isso prejudica demais a identificação porque, com o tempo, vai criando fungos e só aumenta o prejuízo e a dificuldade científica de conseguir resolver. Os ossos têm de ser guardados em caixas ventiladas”, diz o legista. A família de Flávio não espera de braços cruzados que a Unicamp seja responsabilizada. Seu irmão Gilberto conta que há quase dez anos estão movendo uma ação contra o Estado, pedindo a identificação, uma indenização e a história verdadeira, e responsabilizando a União pelo assassinato de Flávio e ocultamento de cadáver. Baseado em uma entrevista que Massini concedeu à revista Caros Amigos em março do ano passado, na qual o legista afirma que parece haver interesse em que as ossadas degenerem e se torne definitivamente impossível continuar, Gilberto entrou com uma medida cautelar incidental com pedido de concessão de liminar, pedindo providências imediatas. A ação cautelar pressupõe uma urgência máxima. Mas as resoluções tomadas pelo juízo da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro não tiveram um resultado concreto quanto à identificação. Em maio de 1999, a juíza Márcia Maria Nunes de Barros solicitou ao reitor da Unicamp informações sobre a situação das ossadas, se a Unicamp tinha condições técnico-científicas para identificar Flávio e, em caso negativo, quem ou qual instituição estaria capacitada para fazer o exame. Duas respostas foram encaminhadas à juíza. Uma, do chefe do Departamento de Medicina Legal, Ricardo Molina, no dia 17 de junho do mesmo ano, que dizia que as ossadas continuam depositadas em área reservada do Departamento, individualmente ensacadas e separadas em grupos, e que no âmbito no Departamento não há condições técnicas para a realização de novos exames de identificação, mas que estaria encaminhando solicitação ao diretor da Faculdade de Ciências Médicas para saber da possibilidade de realizar exames com técnicas de Biologia Molecular nos centros da Faculdade. A resposta da reitoria, em 6 de julho, foi assinada pelo chefe de gabinete do reitor, Raul Vinhas Ribeiro, e informava que as ossadas estavam à disposição da Secretaria de Justiça do Estado desde 15 de maio de 1998 aguardando remoção e que, não tendo condições técnico-científicas de prosseguir os trabalhos periciais, a Unicamp permanecia aguardando a decisão das Secretarias de Justiça e da Segurança Pública quanto ao destino dos ossos. Gilberto entrou com um pedido para que as ossadas supostamente pertencentes a Flávio fossem encaminhadas ao Instituto Oscar Freire, departamento da Universidade de São Paulo que a Comissão indicou para trabalhar com as ossadas agora que a Unicamp não estava mais atuando. A juíza Regina Coeli de Carvalho Peixoto da 18ª Vara, substituindo a juíza da 17ª Vara, solicitou à reitoria da USP informações sobre as condições técnico-científicas do Instituto Oscar Freire para identificar os restos mortais de Flávio Molina. Na mesma data, 3 de agosto, a juíza enviou ofício aos secretários de Justiça e da Segurança Pública, comunicando o envio da solicitação ao Instituto Oscar Freire. Como resposta, em 16 de setembro, o professor Daniel Ribeiro Muñoz, do Instituto Oscar Freire, destaca que, como trata-se de mais de mil ossadas, o trabalho demoraria vários meses para ser executado e acarretaria gastos altos. Além disso, Muñoz informou que seria necessária uma equipe multidisciplinar, que implicaria em despesas elevadas, principalmente se tiverem que fazer testes de DNA. E conclui: para a realização deste trabalho será necessário fazer um convênio entre a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a Faculdade de Medicina da USP. A juíza, por outro lado, solicita ser informada pelo Instituto Oscar Freire logo que for feito o convênio. Novamente, a advogada da família Molina, Ana Müller, envia um ofício à juíza destacando que o objetivo é identificar apenas as ossadas nº 240 e 57 e que, portanto, não é necessário realizar mais um convênio. Ana Müller também destaca que por se tratar de uma medida cautelar, isto é, de extrema urgência, não se pode aguardar possíveis convênios sob o risco de deterioração das ossadas. A família Molina também indicou os legistas Anthenor Chicarino e Luis Fondebrier, da Equipe Argentina de Antropologia Forense, como peritos de confiança dos familiares. De acordo com Nelson Massini, a identificação das ossadas de Flávio, Dimas, Francisco e Grenaldo não é complicada. “Quem conhece o material lá sabe que a maioria das peças é de indigentes, que já deveriam ter sido sepultados. A identificação é principalmente dentária, que já leva a 100% de possibilidade. Mas se a dificuldade continuar, manda fazer DNA.” E fala sobre a perícia para identificar os quatro desaparecidos políticos: “Para esses quatro, se a gente consegue reduzir isso a dez crânios suspeitos, teríamos que pagar cerca de 20 exames de DNA.” O custo, segundo o legista, também não seria alto. Massini informa que mandar fazer um exame de DNA hoje na Argentina custa, no máximo, R$ 1.500. “Agora é só questão de organização”, pontua o perito. Desde setembro do ano passado, o caso está sob os cuidados do Ministério Público Federal de São Paulo e as ossadas foram transferidas, em maio de 2001, da Unicamp para o Cemitério do Araçá, na capital paulista. AS perícias estão a cargo do legista Daniel Muñoz. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, falou da responsabilidade e do descaso da Universidade no chamado “Projeto Perus”. “O Brasil precisa parar de varrer crimes para baixo do tapete. E a Unicamp, infelizmente, varreu as ossadas para baixo do tapete. É pena, mas nós estamos aqui propondo alguns elementos de análise que são os mais evidentes. O que de melhor se pode fazer é reconhecer que, por várias razões, não fizemos o que poderíamos fazer. Estamos sendo honestos, sinceros, e com a firme convicção de que este assunto não pode parar aí. Acho que assumindo honestamente que foi omissa, a Unicamp faz o melhor que pode fazer depois do mal que foi feito.” A vala A reabertura da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, no dia 4 de setembro de 1990, desenterrou não só 1.500 ossadas, mas também um passado que os militares e os governos que respaldaram a ditadura quiseram ocultar. O cemitério foi construído pela Prefeitura de São Paulo em 1970 e desde que foi criado esteve a serviço da repressão. Em 1990, o repórter Caco Barcelos estava fazendo um estudo sobre a violência policial, que resultou na publicação do livro Rota 66, e suas investigações revelaram que o destino das vítimas da polícia era o mesmo dos mortos por motivos políticos. Ele descobriu que nos documentos do IML, ao lado de alguns nomes, aparecia registrada a letra “T”, significando que se tratava de um terrorista, como os militares consideravam os oponentes do regime. A letra era o diferencial entre a vítima comum e a política. Mas o caminho era o mesmo: ocultamento de cadáver. A prefeita Luiza Erundina determinou a abertura da vala e uma completa investigação sobre o caso. A Câmara Municipal criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a origem e responsabilidade pelas ossadas e a utilização dos demais cemitérios de São Paulo para ocultamento de corpos das vítimas da repressão no país. Embora a informação da existência da vala de Perus só tenha se tornado pública em 1990, o fato era do conhecimento da Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos desde 1975. “Nós sabíamos dessa informação e guardamos porque não tínhamos para quem falar, não confiávamos em ninguém”, diz Ivan Seixas, membro da Comissão e filho de Joaquim Seixas, o primeiro preso político a ser enterrado no cemitério. Ele conta que seu pai foi assassinado e enterrado um mês depois de o cemitério ser inaugurado pelo prefeito Paulo Maluf, em 1971. A mãe e as duas irmãs de Ivan, que estiveram presas durante o ano de 1971 e foram libertadas em setembro do ano seguinte, passaram a visitar o túmulo de Joaquim. As idas ao cemitério renderam uma maior aproximação com os coveiros, que falavam sobre os presos políticos que ali eram enterrados. Segundo Ivan, os funcionários anunciavam: “Eles vão abrir uma vala comum e vão jogar todos para não serem identificados. Se vocês querem continuar visitando o túmulo de seu pai, levem para outro lugar, senão vocês vão perder.” Em 1975, duas quadras do Cemitério de Perus foram exumadas e os ossos colocados em sacos plásticos. A idéia era mandar as ossadas para um crematório que deveria ser construído no próprio cemitério. A CPI constatou que havia uma planta para sua criação desde 1969 e que um forno fôra encomendado à empresa inglesa Dowson & Mason. A construção do crematório em um cemitério destinado à sepultamentos de indigentes era ilegal e levantou suspeitas. A Dowson & Mason emitiu um relatório no qual apontava inadequações na planta: “Parece não haver hall de cerimônia nesse projeto e algumas coisas francamente não entendemos, mesmo considerando estarmos associados e trabalhando há 15 anos em projetos de crematório em todo o mundo”. Com esses impedimentos, decidiram executar o projeto no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha. Lá também não foi possível e o crematório foi então construído no Cemitério de Vila Alpina. A intenção de cremar os ossos – da qual, segundo o relatório da CPI da Câmara, só se tem notícia pela memória dos funcionários já que não existe documentação a respeito – foi descartada em 1976 quando a vala clandestina foi aberta. Meio metro de largura, 3 metros de profundidade e mais de 35 metros de extensão. Essas são as medidas do buraco para onde foram os restos mortais de cerca de 1.500 pessoas. Até então, as ossadas tinham ficado amontoadas em uma sala da administração do cemitério. Tanto a exumação quanto a reinumação aconteceram em desobediência aos procedimentos legais do serviço funerário municipal. De acordo com as investigações da CPI a vala se manteve em caráter de clandestinidade sob vários aspectos: não houve registro de sua criação, foi aberta em área destinada à construção de uma capela, não foi demarcada posteriormente como local de sepultamento, não foi incluída na planta do cemitério, foi construída de forma irregular, sem alvenaria e outros requisitos, não houve registro da transferência dos corpos exumados para a vala. A prefeitura criou uma comissão para decidir o que fazer com as ossadas. O Governo do Estado e entidades ligadas aos direitos humanos foram convocadas para discutir sobre o assunto. A Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos recusou de imediato a proposta de enviar as ossadas para o Instituto Médico Legal de São Paulo (IML). “O IML não podia ser porque o diretor, Antônio de Melo, assinou o laudo falso do Manoel Fiel Filho, um operário metalúrgico assassinado em janeiro de 1976”, afirma Maria Amélia Almeida Teles, membro da Comissão. Durante três meses, antes de serem trasladados para Campinas, uma equipe composta por mais de 50 profissionais entre professores, médicos, dentistas, alunos e funcionários da Unicamp e de outras instituições fizeram os processos preliminares da investigação dentro do próprio cemitério. Três caminhões lotados seguiram para a Unicamp com as ossadas selecionadas, limpas e identificadas com uma chapa de metal numerada. Um convênio entre a universidade, o governo do Estado e a prefeitura garantiria os recursos para o trabalho de identificação. O trabalho em Campinas contou com a colaboração da Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos. “Nós fizemos um levantamento dos desaparecidos políticos e colhemos um grande número de informações que possibilitou a elaboração de uma ficha antropométrica de cada desaparecido”, lembra Amélia. As ossadas foram divididas em quatro grupos com características específicas visando facilitar a identificação. Durante dois anos os trabalhos correram a todo o vapor. A descoberta da vala clandestina de Perus reacendeu a esperança de identificação de outros desaparecidos políticos que tiveram seus corpos enterrados em covas regulares não só no cemitério Dom Bosco mas em outros. Com a lei da anistia, em 1979, muitos exilados que se encontravam fora do país voltaram para o Brasil e começaram a trocar informações sobre seus companheiros que estavam desaparecidos. Foi a partir dessa comunicação que Suzana Lisboa conseguiu localizar, no Cemitério de Perus, a vala regular onde seu marido, Luiz Eurico Tejera Lisboa, foi enterrado. Em 1996, a guerrilheira Maria Lúcia Petit foi identificada e seus restos mortais entregues à sua família. Quando a sua ossada foi exumada no cemitério de Xambioá, Tocantins, em 1991, ainda havia resquícios das roupas, calçados e acessórios que Maria Lúcia usava quando foi presa. Ela vestia uma blusa de gola rolê, feita de material sintético, usava botas, cinto de couro e calcinha de nylon, utilizada pelas guerrilheiras quando estavam menstruadas para facilitar a higiene pessoal. A Comissão tomou conhecimento desses dados através de uma carta de despedida escrita por uma companheira de guerrilha, na qual tudo foi descrito. Todas essas informações coincidiam com os resquícios encontrados junto aos restos mortais exumados em Xambioá. Amélia recorda-se que Badan Palhares, em entrevistas concedidas no local da exumação, declarou que a ossada deveria ser de Maria Lúcia. Ela diz que o legista chegou a mencionar que o corpo foi enterrado com um pára-quedas do Exército. Quando chegou em São Paulo, Palhares negou as declarações anteriores e descartou a possibilidade de ser a guerrilheira, afirmando que se tratava de uma prostituta. Os integrantes da Comissão não tinham dúvida que aqueles restos mortais pertenciam a Maria Lúcia e diversas vezes procuraram Badan para cobrar a identificação. Apresentaram, inclusive, a sua ficha odontológica para facilitar a investigação. Eles diziam para o legista que Maria Lúcia pertencia a uma família de classe média e que um tratamento dentário, naquela época, era muito caro e dificilmente uma prostituta teria condições financeiras para fazê-lo. Todos os argumentos e cobranças foram desconsideradas por Badan Palhares. Somente em 1996, após uma matéria do jornal O Globo, é que ele reconhece a ossada como pertencente a Maria Lúcia.
Cimento Portland Perus : Patrimônio paulistano
Cimento Portland Perus : Patrimônio paulistano - texto tirado do site do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo
Inaugurada em 1926, a antiga fábrica localizada em Perus foi a grande fornecedora de cimento no país até 1933, e é considerada a primeira, por ter mantido a capacidade de produção e funcionamento de forma regular. Empreendimento da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (CBCPP) resultante de um consórcio entre a Companhia Industrial e de Estrada de Ferro Perus – Pirapora e comerciantes canadenses, sua inauguração foi realizada com muito festejo pela imprensa paulistana, que a citava como a fábrica mais moderna e completa do mundo.
Principal fornecedora da matéria na construção civil nacional, a fábrica propiciou a construção do Anhangabaú, do novo Viaduto do Chá, o túnel e viadutos da Avenida Nove de Julho, a Biblioteca Mário de Andrade etc., e a realização de importantes obras de infra-estrutura, como a canalização do rio Tietê.
Distante do centro da cidade, a CBCPP precisou atrair mão de obra e empregados qualificados, entre eles um grande número de estrangeiros, para garantir o fluxo regular de produção, tanto para as pedreiras quanto para a fábrica. Uma das estratégias foi a oferta de moradia com água, esgoto e energia elétrica a preços simbólicos. Foram então construídas as vilas operárias: Vila Triângulo, Vila Fábrica e Vila Nova, além dos alojamentos para solteiros. A fábrica foi a grande responsável pelo desenvolvimento do bairro de Perus.
Os trabalhadores da Cimento Portland Perus desencadearam um movimento grevista, em 1962, que perdurou sete anos, vindo a consolidar uma forma de organização e mobilização que ficou conhecida como "firmeza permanente" – uma luta sem violência, baseada na paciência e persistência. Esse tipo de enfrentamento deu origem ao nome atribuído aos trabalhadores - "queixadas" (porcos do mato que ao perceberem o perigo, reúnem-se em manadas, rechaçando o inimigo).
A CBCPP esteve sob intervenção da União, de 1973 a 1980, tendo sido readquirida pelo mesmo proprietário, agora participante de novo consórcio. Em 1983 as pedreiras de Cajamar foram fechadas, ocasionando paralisações na fábrica por falta de matéria-prima. Quatro anos depois, a fábrica já se encontrava praticamente paralisada.
No final da década, os trabalhadores da CBCPP, então aposentados, incorporaram às suas lutas a preservação da ferrovia e seu acervo (1987) e da Vila Triângulo (1989).
Em 1992, o inestimável valor histórico do conjunto formado pela fábrica, as vilas operárias e a ferrovia foi preservado através de tombamento pelo CONPRESP.
Inaugurada em 1926, a antiga fábrica localizada em Perus foi a grande fornecedora de cimento no país até 1933, e é considerada a primeira, por ter mantido a capacidade de produção e funcionamento de forma regular. Empreendimento da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (CBCPP) resultante de um consórcio entre a Companhia Industrial e de Estrada de Ferro Perus – Pirapora e comerciantes canadenses, sua inauguração foi realizada com muito festejo pela imprensa paulistana, que a citava como a fábrica mais moderna e completa do mundo.
Principal fornecedora da matéria na construção civil nacional, a fábrica propiciou a construção do Anhangabaú, do novo Viaduto do Chá, o túnel e viadutos da Avenida Nove de Julho, a Biblioteca Mário de Andrade etc., e a realização de importantes obras de infra-estrutura, como a canalização do rio Tietê.
Distante do centro da cidade, a CBCPP precisou atrair mão de obra e empregados qualificados, entre eles um grande número de estrangeiros, para garantir o fluxo regular de produção, tanto para as pedreiras quanto para a fábrica. Uma das estratégias foi a oferta de moradia com água, esgoto e energia elétrica a preços simbólicos. Foram então construídas as vilas operárias: Vila Triângulo, Vila Fábrica e Vila Nova, além dos alojamentos para solteiros. A fábrica foi a grande responsável pelo desenvolvimento do bairro de Perus.
Os trabalhadores da Cimento Portland Perus desencadearam um movimento grevista, em 1962, que perdurou sete anos, vindo a consolidar uma forma de organização e mobilização que ficou conhecida como "firmeza permanente" – uma luta sem violência, baseada na paciência e persistência. Esse tipo de enfrentamento deu origem ao nome atribuído aos trabalhadores - "queixadas" (porcos do mato que ao perceberem o perigo, reúnem-se em manadas, rechaçando o inimigo).
A CBCPP esteve sob intervenção da União, de 1973 a 1980, tendo sido readquirida pelo mesmo proprietário, agora participante de novo consórcio. Em 1983 as pedreiras de Cajamar foram fechadas, ocasionando paralisações na fábrica por falta de matéria-prima. Quatro anos depois, a fábrica já se encontrava praticamente paralisada.
No final da década, os trabalhadores da CBCPP, então aposentados, incorporaram às suas lutas a preservação da ferrovia e seu acervo (1987) e da Vila Triângulo (1989).
Em 1992, o inestimável valor histórico do conjunto formado pela fábrica, as vilas operárias e a ferrovia foi preservado através de tombamento pelo CONPRESP.
Estação de Perus: um patrimônio ferroviário
Estação de Perus: um patrimônio ferroviário - texto tirado do portal do bairro de Perus
A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, por sua posição geográfica, funcionou como pouso de tropeiros nos séculos XVIII e início do XIX. A região ficava no caminho de Guaiazes, aberto em fins do século XVII e que levava às antigas minas de Goiás. Em meados do século XIX, a cultura do café avançava pelo interior do estado de São Paulo, na direção de Jundiaí. A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, então um simples lugarejo, teve sua estação aberta ao público naquele mesmo ano, com a inauguração da estrada de ferro. As primeiras estações da chamada Inglesa apresentavam características semelhantes: edifícios retangulares, de um só pavimento, construídos em alvenaria de tijolos aparentes. Os abrigos das plataformas costumavam ser apoiados em colunas de ferro. Muitas estações foram transformadas ou reconstruídas com a duplicação da linha entre 1867 e 1900.
A estação de Perus apresentava características particulares. Ao contrário de outras construções do mesmo período, o abrigo da plataforma consiste de marquise sustentada por estrutura de madeira. Uma passarela metálica pré-fabricada também compõe a obra. Devido a um acidente ocorrido no ano 2000, a estação precisou ser reconstruída. Contudo, elementos remanescentes podem embasar um projeto de restauro que devolva suas características originais. Sua importância histórica é incontestável, por se tratar de uma das primeiras estações da ferrovia a ligar Santos ao planalto.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)
Uma estação de trem no meio de tropeiros e queixadas
A história do bairro remonta à época dos tropeiros, que no século XIX usavam o local para pouso durante o percurso entre Santos e Jundiaí no transporte de mercadorias.
"Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas..." – O verso da canção de Raul Seixas poderia muito bem se aplicar ao cotidiano dos mais de 11 mil passageiros que embarcam ou desembarcam diariamente na Estação de Perus, extremo noroeste da cidade de São Paulo, na divisa com os municípios de Caieiras, Cajamar, Santana de Parnaíba e Barueri.
A região administrada pela Subprefeitura de Perus e composta de dois distritos - Anhangüera e Perus - agrega em sua paisagem áreas montanhosas, uma parte formada pelos Morros do Juqueri-Tietê e outra pela face setentrional da Serra da Cantareira, e também uma cobertura vegetal expressiva - 48 km² de seu total territorial de 57,2 km², sendo 9,5 km² ocupados exclusivamente pelo Parque Anhangüera, o maior da capital.
As vias de transporte também são elementos que compõem o panorama da região, que é cortada pelas rodovias estaduais Anhangüera e Bandeirantes e pelas estradas de ferro Santos-Jundiaí e Perus-Pirapora, esta última tombada pelo Patrimônio Histórico e desativada em 1983.
Sinhá Maria
Mas a história do bairro Perus remonta à época dos tropeiros, que no século XIX utilizavam o local para pouso durante o percurso que faziam entre Santos e Jundiaí para o transporte de mercadorias. Muitos moradores perpetuam a estória de que o nome do bairro foi dado por causa de Sinhá Maria dos Perus, que criava perus em seu sítio e onde os tropeiros fariam pouso.
Naquela época, a região era também parada de tropas de soldados e ocupada por enormes fazendas de capitães da Guarda, responsáveis pela defesa do Caminho do Mar até o Porto de Santos.
O progresso só chegou em 1867, com a inauguração da ferrovia São Paulo Railway, mais conhecida por Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que hoje é operada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) - transporte de passageiros - e pela empresa MRS - cargas.
Brasileiros e imigrantes
A estrada representou o início do desenvolvimento econômico da região, com a instalação de fábricas e pequenos comércios, e com o povoamento do bairro. Muitas das primeiras famílias que chegaram, caso dos brasileiros Jesuíno Afonso de Camargo e Edwiges Dias e dos imigrantes italianos Di Sandro e Peccicacco, são ainda lembradas nas placas de muitas ruas locais.
A avenida Fiorelli Peccicacco, por exemplo, uma das mais conhecidas entre os mais de 100 mil habitantes, tem visto ao longo dos anos o crescimento do seu setor de serviços, principalmente na área de conserto de automóveis, se mesclar às casas e terrenos ainda desocupados.
Grandes negócios
Graças às locomotivas e à grande oferta de terras, Perus foi escolhida em 1890 para abrigar a fábrica de papel Companhia Melhoramentos, que passou a plantar pinheiros e eucaliptos no local para atender à sua produção. Em 1914, um ramal da estrada férrea impulsionou a instalação de outro grande negócio no bairro: a Companhia Nacional de Cimento Portland-Perus, inaugurada em 1926 e responsável pela geração de emprego e renda na região durante 60 anos.
Projetado por um grupo de empresários para ligar a Estação de Perus ao município de Pirapora, o ramal acabou sendo desviado para Cajamar, onde existiam grandes reservas de calcários considerados bons para a produção de cimento e cal, a matéria-prima ideal para a fábrica instalada 12 anos mais tarde.
Um dos moradores mais antigos e presidente da Sociedade Amigos do Distrito de Perus (SADIP), Jovino Bartholomeu, de 69 anos, é testemunha de muitos fatos que marcaram a história de Perus, como as greves feitas pelos operários da fábrica de cimento em protesto às condições de trabalho, principalmente contra a emissão de pó de cimento. “Havia a equipe dos Pelegos, que eram os que furavam a greve, e a dos Queixadas, que eram os que brigavam. Em 10 anos de sucessivas greves, até irmão ficou contra irmão”, conta Bartholomeu.
Em 1986, o proprietário, J. J. Abdalla, preferiu fechar as portas da fábrica ao invés de investir na modernização com a implantação de filtros. Mas os Queixadas (do dicionário: s.m. - espécie de porco-do-mato) e Pelegos (da gíria política: líder sindical que se acomoda facilmente às vantagens pessoais do adesismo) são lembrados em conversas da população até os dias atuais.
Entre muitas alegrias, algumas más lembranças
Outro episódio do qual o sr. Jovino se recorda bem é dos estragos feitos pelo acidente na Estação Perus no dia 28 de julho de 2000, com 128 vítimas, sendo 9 fatais. “Foi horrível. Na época, eu era do Conselho de Segurança (Conseg) e fomos intimados para socorrer o pessoal”, lembra, com a voz apertada.
“A população ficou seis meses sem a estação, até que ela fosse restaurada. O pessoal que só pegava trem, tinha que pegar a van que a CPTM colocou para levar até a estação do Jaraguá”, acrescenta Bartholomeu. Após perícia da polícia e de técnicos, o laudo da CPTM apontou que a colisão dos dois trens na plataforma da estação aconteceu em razão de uma avaria na rede aérea, o que provocou a falta de energia no trecho entre as estações Jaraguá e Perus por mais de duas horas.
O problema ocasionou falta de ar para o sistema de freios do trem prefixo UA127, que estava parado nesse trecho e começou a correr no sentido Perus, não conseguindo evitar a colisão com o outro trem, parado na plataforma.
Apesar do acidente, a Estação de Perus é motivo de alegria para Bartholomeu, que, de 1951 a 1974, teve o trem como o meio de transporte para os locais de trabalho. “É muito gostoso. Tem muitas paisagens bonitas em Perus”, explica o viajante, que, atualmente, ainda utiliza o trem quando precisa participar de reuniões na região central. “A única desvantagem é que tem que esperar o horário do trem, mas é o meio mais rápido de irmos para o Centro. Em 40 minutos se chega à Luz”, destaca o presidente da SADIP.
Patrimônio Cultural
Para que as memórias dos mais antigos não sejam soterradas pelo tempo - afinal, a população local é hoje predominantemente jovem e adulta - a comunidade está empenhada em concretizar dois projetos: transformar em centro cultural a desativada fábrica de Cimentos Perus, atualmente propriedade de um sobrinho do J.J. Abdalla; e reativar a linha de trem Perus-Pirapora para fins turísticos.
O trabalho de uma ONG local, o Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural, para capitanear parceiros para o segundo projeto começa a mostrar resultado: o primeiro dos 16 Km da estrada já foi revitalizado, assim como a locomotiva francesa Decauville 8, uma das 21 que operavam na linha. Tudo com a participação de parceiros, como a Natura, a Care e a CPTM.
“A Perus-Pirapora não é de grande importância somente para Perus, mas também para o Estado de São Paulo e até para o Brasil. É hoje a única estrada de ferro do país de bitola estreita (60 cm) ainda intacta, e com um acervo de locomotivas bastante diversificado, entre exemplares ingleses, franceses, alemães e canadenses”, analisa Nelson Bueno de Camargo, presidente do Instituto.
Lagos e marrecos
Para reativar toda a estrada, a ONG está em negociação com outras empresas, para arrecadar pelo menos R$ 3 milhões. Algumas locomotivas não têm mais condições de rodar, mas a idéia é que, depois da restauração, sejam expostas como peças de museu. A partir do dia 7 de setembro, o Instituto deve organizar pequenos passeios para mostrar a beleza do projeto à população, em um trecho de aproximadamente 800 metros dentro do Parque Anhanguera.
O parque, aliás, é parada obrigatória para quem vai até a região. Entre lagos, marrecos e tanques de areia, é comum verificar ali, nos finais de semana, famílias fazendo piqueniques debaixo das árvores. O Anhanguera guarda também algumas preciosidades. É o único parque da cidade com um Centro de Animais Selvagens, ligado à divisão de Veterinária da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, para onde são levados os animais desviados do seu habitat natural, geralmente os que são apreendidos pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente).
Juntamente com o Parque Estadual do Jaraguá, o Anhangüera é o maior complexo de preservação ambiental da região urbana, sustentando a maior diversidade e abundância da fauna representativa do município.
Apesar de ser originário de uma área remanescente do Sítio Santa-Fé, uma antiga fazenda de reflorestamento adquirida pela Prefeitura em 1978, o Anhanguera contém remanescentes da fauna original nas matas ciliares e, sob seus eucaliptos, pode-se perceber o renascimento da mata nativa. Preás, gambás, veados catingueiros, tatus, pacas, capivaras, cotias, quatis e ouriços estão entre os animais que podem ser encontrados lá.
Carência
No entanto, o parque vem enfrentando problemas com relação a queimadas, como a que atingiu 8 mil m² de sua área em agosto deste ano, motivado pelas queimadas cada vez mais freqüentes na região. O problema do desmatamento é apenas a ponta de um quadro mais amplo, de pobreza, desemprego e carência de infra-estrutura.
Segundo o Mapa da Exclusão/Inclusão Social na cidade (PUC-SP, 2000), a região da subprefeitura apresenta altos índices de exclusão social. O pior é o do distrito de Perus (-1 a -0.6/ escala até 1.0), comparável aos índices de distritos localizados em outros extremos da cidade, como Capão Redondo e Parelheiros (Sul), Cidade Tiradentes (Leste), e Cachoeirinha (Norte).
Uma parte da exclusão pode ser explicada pelo modo desregrado com que o território foi ocupado ao longo das últimas décadas, com a formação de loteamentos clandestinos e a construção de casas em áreas de risco. São 79 loteamentos cadastrados na subprefeitura com pedido de regularização, dos quais 22 já obtiveram a regularização técnica junto à Secretaria Municipal de Habitação. É o caso do Jardim Britânia/Diego Velásquez, cujas famílias passaram a ter os imóveis registrados em cartório com direito de uso e transferência de uso aos descendentes, de acordo com a lei federal do Estatuto das Cidades, de 2001.
Além da ilegalidade, essas áreas possuem sério risco de desmoronamento das casas. No final de agosto, a Prefeitura deu início às obras de contenção de taludes em sete lotes da região e prepara um levantamento de novas áreas que receberão obras até o final do ano. A subprefeitura faz um monitoramento constante dessas áreas e tem realizado um trabalho educativo com a comunidade sobre os perigos das construções em áreas montanhosas e a necessidade de apoio técnico.
Mas o legado das moradias irregulares é sentido pela população de Perus até hoje, quando falta escola, faltam unidades de saúde, ruas asfaltadas, iluminação pública, locais de lazer, espaços para a prática de esportes, e até rede de esgoto em alguns pontos. O problema se agrava ainda mais com o galope do crescimento populacional nos dois distritos, principalmente em Anhanguera, que tem uma taxa de crescimento anual próxima a 13% (Censos Demográficos do IBGE, 1991-2000).
Mais escolas
Mas algumas melhoras já podem ser sentidas: das 30 escolas municipais de Perus, sendo um Centro Educacional Unificado (CEU), cinco ainda eram provisórias até há poucos meses, algumas de metal - as famosas escolas de “lata”, e outras de madeirite.
Desde a retomada das obras de unidades de alvenaria, em abril, a Administração Municipal já entregou quatro novas escolas. Há ainda outros projetos em andamento - a construção de duas EMEFs e dois Centros de Educação Infantil (CEIs), para atender à atual demanda na rede municipal de ensino local, de 708 vagas em Anhanguera e 1.740 em Perus, principalmente para creches e educação infantil.
No distrito de Anhanguera, as lideranças reivindicam prioritariamente escolas estaduais de ensino médio, postos de saúde e equipamentos de lazer, como pistas de skate e quadras esportivas em praças. Em relação à saúde, a solicitação deve ser atendida em parte até outubro, com a inauguração das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Jardim Rosinha e Morro Doce.
Em Perus, a demanda número um é por um hospital, equipamento inexistente na região, e por áreas de lazer, além das escolas. As ruas de terra ainda são comuns na paisagem do bairro. A administração municipal prevê que o déficit de asfaltamento será zerado.
A previsão é de que, até 2008, os cerca de 40 km de vias sem asfalto deixem a poeira para trás. Assim como o trem, quando dobra as montanhas da região, rumo ao Centro de São Paulo.
A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, por sua posição geográfica, funcionou como pouso de tropeiros nos séculos XVIII e início do XIX. A região ficava no caminho de Guaiazes, aberto em fins do século XVII e que levava às antigas minas de Goiás. Em meados do século XIX, a cultura do café avançava pelo interior do estado de São Paulo, na direção de Jundiaí. A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, então um simples lugarejo, teve sua estação aberta ao público naquele mesmo ano, com a inauguração da estrada de ferro. As primeiras estações da chamada Inglesa apresentavam características semelhantes: edifícios retangulares, de um só pavimento, construídos em alvenaria de tijolos aparentes. Os abrigos das plataformas costumavam ser apoiados em colunas de ferro. Muitas estações foram transformadas ou reconstruídas com a duplicação da linha entre 1867 e 1900.
A estação de Perus apresentava características particulares. Ao contrário de outras construções do mesmo período, o abrigo da plataforma consiste de marquise sustentada por estrutura de madeira. Uma passarela metálica pré-fabricada também compõe a obra. Devido a um acidente ocorrido no ano 2000, a estação precisou ser reconstruída. Contudo, elementos remanescentes podem embasar um projeto de restauro que devolva suas características originais. Sua importância histórica é incontestável, por se tratar de uma das primeiras estações da ferrovia a ligar Santos ao planalto.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)
Uma estação de trem no meio de tropeiros e queixadas
A história do bairro remonta à época dos tropeiros, que no século XIX usavam o local para pouso durante o percurso entre Santos e Jundiaí no transporte de mercadorias.
"Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas..." – O verso da canção de Raul Seixas poderia muito bem se aplicar ao cotidiano dos mais de 11 mil passageiros que embarcam ou desembarcam diariamente na Estação de Perus, extremo noroeste da cidade de São Paulo, na divisa com os municípios de Caieiras, Cajamar, Santana de Parnaíba e Barueri.
A região administrada pela Subprefeitura de Perus e composta de dois distritos - Anhangüera e Perus - agrega em sua paisagem áreas montanhosas, uma parte formada pelos Morros do Juqueri-Tietê e outra pela face setentrional da Serra da Cantareira, e também uma cobertura vegetal expressiva - 48 km² de seu total territorial de 57,2 km², sendo 9,5 km² ocupados exclusivamente pelo Parque Anhangüera, o maior da capital.
As vias de transporte também são elementos que compõem o panorama da região, que é cortada pelas rodovias estaduais Anhangüera e Bandeirantes e pelas estradas de ferro Santos-Jundiaí e Perus-Pirapora, esta última tombada pelo Patrimônio Histórico e desativada em 1983.
Sinhá Maria
Mas a história do bairro Perus remonta à época dos tropeiros, que no século XIX utilizavam o local para pouso durante o percurso que faziam entre Santos e Jundiaí para o transporte de mercadorias. Muitos moradores perpetuam a estória de que o nome do bairro foi dado por causa de Sinhá Maria dos Perus, que criava perus em seu sítio e onde os tropeiros fariam pouso.
Naquela época, a região era também parada de tropas de soldados e ocupada por enormes fazendas de capitães da Guarda, responsáveis pela defesa do Caminho do Mar até o Porto de Santos.
O progresso só chegou em 1867, com a inauguração da ferrovia São Paulo Railway, mais conhecida por Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que hoje é operada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) - transporte de passageiros - e pela empresa MRS - cargas.
Brasileiros e imigrantes
A estrada representou o início do desenvolvimento econômico da região, com a instalação de fábricas e pequenos comércios, e com o povoamento do bairro. Muitas das primeiras famílias que chegaram, caso dos brasileiros Jesuíno Afonso de Camargo e Edwiges Dias e dos imigrantes italianos Di Sandro e Peccicacco, são ainda lembradas nas placas de muitas ruas locais.
A avenida Fiorelli Peccicacco, por exemplo, uma das mais conhecidas entre os mais de 100 mil habitantes, tem visto ao longo dos anos o crescimento do seu setor de serviços, principalmente na área de conserto de automóveis, se mesclar às casas e terrenos ainda desocupados.
Grandes negócios
Graças às locomotivas e à grande oferta de terras, Perus foi escolhida em 1890 para abrigar a fábrica de papel Companhia Melhoramentos, que passou a plantar pinheiros e eucaliptos no local para atender à sua produção. Em 1914, um ramal da estrada férrea impulsionou a instalação de outro grande negócio no bairro: a Companhia Nacional de Cimento Portland-Perus, inaugurada em 1926 e responsável pela geração de emprego e renda na região durante 60 anos.
Projetado por um grupo de empresários para ligar a Estação de Perus ao município de Pirapora, o ramal acabou sendo desviado para Cajamar, onde existiam grandes reservas de calcários considerados bons para a produção de cimento e cal, a matéria-prima ideal para a fábrica instalada 12 anos mais tarde.
Um dos moradores mais antigos e presidente da Sociedade Amigos do Distrito de Perus (SADIP), Jovino Bartholomeu, de 69 anos, é testemunha de muitos fatos que marcaram a história de Perus, como as greves feitas pelos operários da fábrica de cimento em protesto às condições de trabalho, principalmente contra a emissão de pó de cimento. “Havia a equipe dos Pelegos, que eram os que furavam a greve, e a dos Queixadas, que eram os que brigavam. Em 10 anos de sucessivas greves, até irmão ficou contra irmão”, conta Bartholomeu.
Em 1986, o proprietário, J. J. Abdalla, preferiu fechar as portas da fábrica ao invés de investir na modernização com a implantação de filtros. Mas os Queixadas (do dicionário: s.m. - espécie de porco-do-mato) e Pelegos (da gíria política: líder sindical que se acomoda facilmente às vantagens pessoais do adesismo) são lembrados em conversas da população até os dias atuais.
Entre muitas alegrias, algumas más lembranças
Outro episódio do qual o sr. Jovino se recorda bem é dos estragos feitos pelo acidente na Estação Perus no dia 28 de julho de 2000, com 128 vítimas, sendo 9 fatais. “Foi horrível. Na época, eu era do Conselho de Segurança (Conseg) e fomos intimados para socorrer o pessoal”, lembra, com a voz apertada.
“A população ficou seis meses sem a estação, até que ela fosse restaurada. O pessoal que só pegava trem, tinha que pegar a van que a CPTM colocou para levar até a estação do Jaraguá”, acrescenta Bartholomeu. Após perícia da polícia e de técnicos, o laudo da CPTM apontou que a colisão dos dois trens na plataforma da estação aconteceu em razão de uma avaria na rede aérea, o que provocou a falta de energia no trecho entre as estações Jaraguá e Perus por mais de duas horas.
O problema ocasionou falta de ar para o sistema de freios do trem prefixo UA127, que estava parado nesse trecho e começou a correr no sentido Perus, não conseguindo evitar a colisão com o outro trem, parado na plataforma.
Apesar do acidente, a Estação de Perus é motivo de alegria para Bartholomeu, que, de 1951 a 1974, teve o trem como o meio de transporte para os locais de trabalho. “É muito gostoso. Tem muitas paisagens bonitas em Perus”, explica o viajante, que, atualmente, ainda utiliza o trem quando precisa participar de reuniões na região central. “A única desvantagem é que tem que esperar o horário do trem, mas é o meio mais rápido de irmos para o Centro. Em 40 minutos se chega à Luz”, destaca o presidente da SADIP.
Patrimônio Cultural
Para que as memórias dos mais antigos não sejam soterradas pelo tempo - afinal, a população local é hoje predominantemente jovem e adulta - a comunidade está empenhada em concretizar dois projetos: transformar em centro cultural a desativada fábrica de Cimentos Perus, atualmente propriedade de um sobrinho do J.J. Abdalla; e reativar a linha de trem Perus-Pirapora para fins turísticos.
O trabalho de uma ONG local, o Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural, para capitanear parceiros para o segundo projeto começa a mostrar resultado: o primeiro dos 16 Km da estrada já foi revitalizado, assim como a locomotiva francesa Decauville 8, uma das 21 que operavam na linha. Tudo com a participação de parceiros, como a Natura, a Care e a CPTM.
“A Perus-Pirapora não é de grande importância somente para Perus, mas também para o Estado de São Paulo e até para o Brasil. É hoje a única estrada de ferro do país de bitola estreita (60 cm) ainda intacta, e com um acervo de locomotivas bastante diversificado, entre exemplares ingleses, franceses, alemães e canadenses”, analisa Nelson Bueno de Camargo, presidente do Instituto.
Lagos e marrecos
Para reativar toda a estrada, a ONG está em negociação com outras empresas, para arrecadar pelo menos R$ 3 milhões. Algumas locomotivas não têm mais condições de rodar, mas a idéia é que, depois da restauração, sejam expostas como peças de museu. A partir do dia 7 de setembro, o Instituto deve organizar pequenos passeios para mostrar a beleza do projeto à população, em um trecho de aproximadamente 800 metros dentro do Parque Anhanguera.
O parque, aliás, é parada obrigatória para quem vai até a região. Entre lagos, marrecos e tanques de areia, é comum verificar ali, nos finais de semana, famílias fazendo piqueniques debaixo das árvores. O Anhanguera guarda também algumas preciosidades. É o único parque da cidade com um Centro de Animais Selvagens, ligado à divisão de Veterinária da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, para onde são levados os animais desviados do seu habitat natural, geralmente os que são apreendidos pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente).
Juntamente com o Parque Estadual do Jaraguá, o Anhangüera é o maior complexo de preservação ambiental da região urbana, sustentando a maior diversidade e abundância da fauna representativa do município.
Apesar de ser originário de uma área remanescente do Sítio Santa-Fé, uma antiga fazenda de reflorestamento adquirida pela Prefeitura em 1978, o Anhanguera contém remanescentes da fauna original nas matas ciliares e, sob seus eucaliptos, pode-se perceber o renascimento da mata nativa. Preás, gambás, veados catingueiros, tatus, pacas, capivaras, cotias, quatis e ouriços estão entre os animais que podem ser encontrados lá.
Carência
No entanto, o parque vem enfrentando problemas com relação a queimadas, como a que atingiu 8 mil m² de sua área em agosto deste ano, motivado pelas queimadas cada vez mais freqüentes na região. O problema do desmatamento é apenas a ponta de um quadro mais amplo, de pobreza, desemprego e carência de infra-estrutura.
Segundo o Mapa da Exclusão/Inclusão Social na cidade (PUC-SP, 2000), a região da subprefeitura apresenta altos índices de exclusão social. O pior é o do distrito de Perus (-1 a -0.6/ escala até 1.0), comparável aos índices de distritos localizados em outros extremos da cidade, como Capão Redondo e Parelheiros (Sul), Cidade Tiradentes (Leste), e Cachoeirinha (Norte).
Uma parte da exclusão pode ser explicada pelo modo desregrado com que o território foi ocupado ao longo das últimas décadas, com a formação de loteamentos clandestinos e a construção de casas em áreas de risco. São 79 loteamentos cadastrados na subprefeitura com pedido de regularização, dos quais 22 já obtiveram a regularização técnica junto à Secretaria Municipal de Habitação. É o caso do Jardim Britânia/Diego Velásquez, cujas famílias passaram a ter os imóveis registrados em cartório com direito de uso e transferência de uso aos descendentes, de acordo com a lei federal do Estatuto das Cidades, de 2001.
Além da ilegalidade, essas áreas possuem sério risco de desmoronamento das casas. No final de agosto, a Prefeitura deu início às obras de contenção de taludes em sete lotes da região e prepara um levantamento de novas áreas que receberão obras até o final do ano. A subprefeitura faz um monitoramento constante dessas áreas e tem realizado um trabalho educativo com a comunidade sobre os perigos das construções em áreas montanhosas e a necessidade de apoio técnico.
Mas o legado das moradias irregulares é sentido pela população de Perus até hoje, quando falta escola, faltam unidades de saúde, ruas asfaltadas, iluminação pública, locais de lazer, espaços para a prática de esportes, e até rede de esgoto em alguns pontos. O problema se agrava ainda mais com o galope do crescimento populacional nos dois distritos, principalmente em Anhanguera, que tem uma taxa de crescimento anual próxima a 13% (Censos Demográficos do IBGE, 1991-2000).
Mais escolas
Mas algumas melhoras já podem ser sentidas: das 30 escolas municipais de Perus, sendo um Centro Educacional Unificado (CEU), cinco ainda eram provisórias até há poucos meses, algumas de metal - as famosas escolas de “lata”, e outras de madeirite.
Desde a retomada das obras de unidades de alvenaria, em abril, a Administração Municipal já entregou quatro novas escolas. Há ainda outros projetos em andamento - a construção de duas EMEFs e dois Centros de Educação Infantil (CEIs), para atender à atual demanda na rede municipal de ensino local, de 708 vagas em Anhanguera e 1.740 em Perus, principalmente para creches e educação infantil.
No distrito de Anhanguera, as lideranças reivindicam prioritariamente escolas estaduais de ensino médio, postos de saúde e equipamentos de lazer, como pistas de skate e quadras esportivas em praças. Em relação à saúde, a solicitação deve ser atendida em parte até outubro, com a inauguração das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Jardim Rosinha e Morro Doce.
Em Perus, a demanda número um é por um hospital, equipamento inexistente na região, e por áreas de lazer, além das escolas. As ruas de terra ainda são comuns na paisagem do bairro. A administração municipal prevê que o déficit de asfaltamento será zerado.
A previsão é de que, até 2008, os cerca de 40 km de vias sem asfalto deixem a poeira para trás. Assim como o trem, quando dobra as montanhas da região, rumo ao Centro de São Paulo.
Saiba um pouco mais sobre Perus
Saiba um pouco mais sobre Perus - tirado do site da Prefeitura de São Paulo
A busca de ouro foi tema recorrente durante os primeiros estágios da ocupação portuguesa do Brasil, fato explicável pela conquista espanhola dos Impérios Asteca e Inca, e de suas enormes reservas de prata, logo no começo do século XVI.
Assim, de acordo com Alfredo Ellis Junior, não é surpreendente que, mal chegado à costa brasileira em 1530, Martim Afonso de Souza tenha tratado de enviar um destacamento ao interior do território em busca de metais preciosos. Outras explorações se seguiram, propiciando notícias de descobertas em Apiaí (alto Vale do Ribeira), Paranaguá e outros pontos do sul da colônia entre 1561 e 1592. O ouro levado da Vila de Santos por corsários ingleses em 1588 e 1591 é uma segura confirmação do sucesso desses empreendimentos. Porém, de maior monta foi o ouro encontrado em 1590 no Pico do Jaraguá e no Córrego Santa Fé - cujas nascentes situam-se na encosta da montanha - pelos Affonso Sardinha (pai e filho com o mesmo nome) e por Antonio Bicudo Carneiro. (Ellis Junior, 1942, p. 111-2, op. cit.)
O impacto do mito que se criaria acerca do ouro de Jaraguá foi tamanho que, em 1839, (reproduzindo uma opinião ainda muito em voga nos dias de hoje) o reverendo metodista Daniel Parish Kidder anotava que as velhas minas de ouro do Jaraguá... foram as primeiras descobertas no Brasil. Produziram muito durante a primeira metade do século dezessete, e as grandes quantidades de ouro de lá canalizadas para a Europa granjearam para a região o cognome de segundo Peru; tiveram, além disso, o mérito de incentivar a exploração do interior da qual resultou a localização de diversas zonas auríferas em Minas Gerais (Kidder, 1980, p. 194, op. cit., grifos nossos).
"Segundo Peru", "Peru do Brasil" (Santos & Rodrigues,1998, p. 49), denominações cuja popularidade rivalizava com o topônimo oficial da região no Período Colonial: "Ajuá" (nome de um arbusto espinhento).
O ilustre historiador Affonso d'Escragnolle de Taunay constatou, em documento de época, que o empreendimento minerador dos dois Sardinha começou precisamente em 1597, em sociedade com o Sr. Clemente Alves. Taunay identifica uma autêntica "miragem americana", consubstanciada, por exemplo, pela espetacular vinda a São Paulo de uma comissão governamental de alto nível, acompanhada de técnicos, para estudar in loco as jazidas do Jaraguá. (Taunay, 1921, p. 197-9, 239 e seguintes).
Todavia, como bem questiona Ellis Junior, quanto ouro teria sido proveniente da mineração quinhentista? O dado que o professor encontrou, na História Econômica do Brasil de Roberto Simonsen, é de 930 arrobas, em relação ao qual ele, Ellis Junior, expressa opinião de que não deveria estar muito longe da exatidão, pois incluía também as outras fontes de metal precioso do sul da Capitania, em todo o Período Colonial.
Para evidenciar-se a insignificância desse montante, basta lembrar que, no século XVIII, a quantidade mínima de ouro que deveria ser arrecadada anualmente pelo sistema de coleta de impostos em Minas Gerais era de 100 arroubas (cerca de 1.500 quilos). Portanto, a mineração do Jaraguá não deveria ter sido uma abundante cornucópia de riquezas. Fosse, teria sido um fanal [o mesmo que farol, obs. minha E. S.] atrator de grandes massas demográficas que teriam feito de S. Paulo e do planalto paulista uma região super povoada de elementos reinóis, tal como foram as Minas de Ouro no setecentismo ... Entretanto, o fato da mineração paulistânica, no Jaraguá e proximidades, não teve grande repercussão na evolução histórica de S. Paulo. Sua população não teve surtos de progresso em virtude dessa mineração. Sua economia não ofereceu manifestações de euforia em matéria de conforto, as quais seriam visíveis se tivessem havido. Enfim, tudo nos denuncia que ... [a] mineração planaltina ... foi apenas um leve arranhão na vida econômica paulistana. (Ellis Junior, 1942, p. 112-3, op. cit.)
Deve-se observar que os dados de Ellis Junior são compatíveis com o relato de Kidder que disse ter encontrado a lavra abandonada aos pés da montanha, num terreno de aluvião, sem se propor a realizar uma investigação rigorosa que confirmasse tudo o que ouvia. Seu depoimento é um bom indício, conseqüentemente, da permanência da "miragem americana" (Taunay) no imaginário dos moradores da Vila de Piratininga.
Bairro mais setentrional de São Paulo (a despeito de dificilmente ser visto como integrante da Zona Norte da Capital), situado na região do Vale do Rio Juquery e da Serra Cantareira, Perus é um núcleo urbano isolado do restante da cidade por um cinturão verde cada vez mais tênue, características que fazem com que muitas pessoas tomem-no por um dos Municípios do Norte/Noroeste da Grande São Paulo, confusão explicável pelas fortes ligações históricas e culturais entre Perus e as cidades vizinhas.
A região do Vale do Rio Juquery e da Serra da Cantareira foi zona de passagem de tropas militares e importante entreposto de abastecimento durante o período colonial e sob a vigência do Império, fato que ficaria materializado em vias que fazem a ligação entre Perus e os bairros de Parada de Taipas e Jaraguá: Av. Raimundo Pereira de Magalhães, ou Estrada Velha de Campinas, e Estrada São Paulo-Jundiaí.
De longa data, há registros históricos sobre Perus. No século XVII, existiram em sua área a Fazenda dos Pires, propriedade de Salvador Pires Medeiros, capitão da gente de São Paulo, dedicada à produção vinícola; e a Fazenda Ajuá, pertencente ao paulista Domingos Dias da Silva, tida como uma das maiores fazendas de cereais nas cercanias da Capital no começo do século seguinte. Em l856, o Registro Paroquial de Nossa Senhora do Ó assinalava dezessete proprietários de terras no "Bairro do Ajuá", antigo nome de Perus. Em 1867, os grandes proprietários eram Antonio Francisco de Aguiar e Castro, Candido da Cunha Brito, o Coronel Luiz Alves de Almeida, Hedwiges Dias de Oliveira (antigo nome da R. Crispim do Amaral) e Jesuino Afonso de Camargo, nome de outra rua em Perus.
Nesse mesmo ano (1867), junto com o restante da São Paulo Railway (atual E. F. Santos-Jundiaí), foi inaugurada a Estação de Perus, dando início a um processo de urbanização do Vale cujos grandes marcos foram a Companhia Melhoramentos de São Paulo (1890), o Hospital Psiquiátrico do Juquery e sua Fazenda (1898), a Estrada de Ferro Perus-Pirapora (EFPP, 1910) e a Companhia Brasileira de Cimento Portland (1926). Também digna de menção é a Fábrica de Pólvora erguida a uns duzentos metros da Estação de Perus, da qual restam alicerces. Nos primeiros anos da República, junto com a Ipanema, esta Fábrica foi a principal fornecedora de munição para o sistema de defesa do Porto de Santos.
Como resultado dessas iniciativas, seriam criados os núcleos fundamentais de Perus e de suas cidades-irmãs: Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e Cajamar.De imediato (ou melhor: antes da inauguração da Fábrica de Cimento), o acesso ferroviário trouxe a vinda de novos proprietários para Perus, como Antonio Maia, Di Sandro, Achiles Fanton, Ernesto Bottoni, Narciso Cagnassi, Leonardo Correia, Julio de Oliveira, Vasco Gazzo, Demetrio Vidal Lopes, Pascoale Peciccacco, Peregrino Lage, Sylvio de Campos, Joaquim Serpal; nomes que, em sua maioria, estão estampados nas placas de ruas e avenidas do bairro. Homenagem mais do que justa pois os loteamentos foram formados a partir de glebas pertencentes a famílias desses senhores. Quanto aos porquês da presença desses nomes das placas, o fato é que a memória do papel dos personagens popularmente reconhecidos como os "pioneiros" da localidade está se perdendo nas penumbras do tempo. Salvo reminiscências repassadas oralmente, quase de forma mítica, pouco se sabe do passado agrícola recente de Perus, do modo de vida e das dificuldades enfrentadas num período não tão distante.
Período que se encerra em 1926 com a entrada em funcionamento da Cimento Perus. Primeira indústria do ramo no país, a Fábrica surgiu da associação de um grupo de empresários brasileiros, liderados pelo advogado Dr. Sylvio de Campos, com a Drisdale y Pease, empresa sediada em Toronto, Canadá, ligada à Lone Star Cement Company, uma das gigantes do ramo nos Estados Unidos. O projeto fora prenunciado em 1910-1914 pela construção da E. F. Perus-Pirapora que previamente resolveu o problema da matéria-prima. Superada esta etapa, ocorreram diversos atrasos em função da necessidade de trazer para o local uma linha de alta tensão da Light: os equipamentos da Fábrica seriam impulsionados por energia elétrica.A magnitude do empreendimento é atestada por clássicos como João Manuel Cardoso de Mello - que observa que a Fábrica foi planejada dentro de "uma estratégia de ocupação a longo prazo de uma faixa substancial do mercado brasileiro" - e Warren Dean que inclui Perus entre as "principais fábricas novas construídas na década de 20". Absolutamente acertado o juízo dos mestres pois, ao longo das quatro décadas seguintes, a The Brasilian Cement Company atendeu uma parcela do mercado que variou entre um terço e um quinto das demandas nacional e paulista. Em termos menos abstratos, no intervalo em que a cidade de São Paulo passou de 600.000 para mais de 3.000.000 de habitantes, em Perus foi produzido o cimento utilizado na construção da maioria de seus edifícios, nos túneis e viadutos da Avenida 9 de julho, na Biblioteca Mario de Andrade, nas obras da Light em Santos, no trecho inicial da Via Anhangüera, etc.
Trazendo o sangue e a energia indispensáveis a tamanha tarefa, chegou ao bairro uma segunda leva de pioneiros formada pelas famílias dos operários da Fábrica e da EFPP; afluxo populacional que, ainda na década de 20, levaria à criação de vilas dentro (Triângulo e Portland) e fora (Inácio, Operária e Hungareza) do perímetro da empresa. O fato ficaria marcado de forma emblemática no momento em que Perus, já com 3.504 habitantes, foi elevado a Distrito em 21 de setembro de 1934, data reconhecida pela Câmara Municipal de São Paulo como fundação do bairro.
Fundado em 1933, o Sindicato da categoria cimenteira - que incluía os operários da Fábrica, da EFPP e das pedreiras de calcário em Cajamar - é a mais antiga entidade social de Perus. Em 1940, a Paróquia Santa Rosa de Lima seria criada praticamente junto com a Igreja Presbiteriana da Esperança e com o Centro Amigos de Perus, associação de moradores sucedida nove anos depois pela Sociedade Amigos de Perus (SADIP) cujos esforços levariam à ligação de rede elétrica para todo o bairro em 1954, encerrando um período no qual o recurso estivera restrito às edificações da Companhia de Cimento.
1958 é um marco particularmente importante para a história local. Primeiro, porque foi quando se realizou o plebiscito pela transformação do bairro num novo município, processo conduzido por uma Comissão Pró-Emancipação criada pela SADIP sob a presidência do saudoso Demétrio Vidal Lopes (1918-1998), cuja incansável atuação em defesa da memória social torná-lo-ia unanimemente reconhecido como o Historiador de Perus. Conforme relatado por Vidal Lopes, o "sim" era representado por cédulas brancas; o "não" pelas de cor preta. No dia da votação, os ativistas do Sindicato cimenteiro saíram às ruas distribuindo cédulas escuras aos gritos de "vote no pelé!", "vote no pelé!" O comparecimento mínimo não foi atingido, com a apuração revelando derrota dos autonomistas.
1958 seria também o ano em que ocorreria a primeira grande greve operária na Cimento Perus. O sindicalismo peruense-cajamarense merece atenção tanto pela sua originalidade (é reconhecido internacionalmente como um importante núcleo do movimento da não-violência) como pelas conquistas que trouxe para o conjunto dos trabalhadores brasileiros: a primeira regulamentação do salário-família, a presença do Sindicato nos atos de contratação e demissão de mão-de-obra, o reconhecimento da legalidade das greves por atraso de pagamento; esta última obtida numa greve realizada em 1967, em plena Ditadura Militar. Ditadura cujo braço mais visível em Perus era o Cemitério Dom Bosco, criado durante a OBAN (Operação Bandeirantes) para esconder os corpos de cidadãos perseguidos e assassinados por causa de seu engajamento nas causas da justiça e da liberdade.
Outro fato a se ressaltar é que, em função de denúncias do Sindicato de Perus, o Complexo Cimenteiro (Fábrica, EFPP e minas de calcário) seria o primeiro caso no país de intervenção (1970) e confisco federal (1973) realizadas com o objetivo de ressarcir dívidas decorrentes de impostos atrasados para com a Fazenda Pública da União. Os trabalhadores do cimento conseguiram também que, pelos mesmos motivos, o Sítio Santa Fé fosse alvo de confisco federal em 1979. No mesmo ano, a área foi comprada pela Prefeitura de São Paulo. Uma parte seria transformada no Parque Anhangüera, o maior da cidade (9,6 quilômetros quadrados); o restante foi destinado ao aterro sanitário Bandeirantes, o "lixão" de Perus.
O núcleo urbano originário seria ampliado em meados dos anos 60 pelas Vilas Perus, Caiuba, Osana, Flamengo e Malvina e pelos Jardins São Paulo, Manacá e do Russo. A despeito de muitos dos novos moradores trabalharem na Lapa e em outros pontos da Capital (algo que praticamente não ocorria antes), Perus continuava gravitando em torno da Companhia tanto por depender da sua oferta de empregos como por suportar o pó que saía das chaminés. Por baixo da paisagem soterrada pelo cimento, estavam os terrenos relativamente baratos que atraíram a terceira leva de peruenses.
Na década de 70, o crescimento ficaria restrito à Vila Nova Perus. Do ponto de vista urbanístico, o principal destaque vai para a Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1973, cuja construção implicou na desapropriação de cerca de metade da Vila Inácio e de um terço do Jardim do Russo. Como muitas famílias ainda não detinham títulos de propriedade da terra ou seriam indenizadas 20-25 anos depois, foi nesta ocasião que surgiram as primeiras favelas de Perus, problema enfrentado desde os momentos iniciais pela Paróquia Santa Rosa e por suas Comunidades Eclesiais de Base.
A Paróquia fez-se presente no trabalho de organização dos setores mais carentes e no atendimento de demandas sociais criando, ainda nos anos 70, a primeira creche de Perus. Nesta mesma época, outra obra de grande impacto foi o poço artesiano aberto pelos padres no Jardim do Russo com o objetivo de enfrentar o problema da falta d'água, flagelo que, aliás, atingia o bairro como um todo. Os moradores continuariam na dependência de caminhões pipas da Prefeitura e de poços comuns por mais uma década, até a chegada de rede da SABESP.
A próxima arrancada da urbanização teria início em meados dos anos 80 com a Vila Flamengo (2ª Gleba), Vila Bottoni e Jardim Adelfiori; processo continuado de modo bastante acelerado nos anos 90 pelo Recanto dos Humildes e pelos conjuntos habitacionais, em fase de construção, bancados pela Governo do Estado.
O fim da emissão de pó-de-cimento (1980, produto final de uma luta iniciada em 1973), o fechamento da Perus-Pirapora (1983) e da Fábrica (1986) anunciam um período no qual Perus, finalmente convertido em bairro-dormitório, já dispõe de um dinâmico setor de serviços. O lixo torna-se um grande problema. Também preocupante é a carência de equipamentos e serviços e sociais que, mesmo antes da última arrancada de crescimento, já eram insuficientes para atender adequadamente os moradores.
Um patrimônio comunitário, contudo, permanece intacto: os baixíssimos índices de violência que fazem de Perus um dos lugares mais tranquilos da cidade, quadro surpreendente para alguém que, desconhecendo sua história, procurasse entender o bairro através de uma leitura superficial dos indicadores sociais.
Se, de fato, Perus possui um grande contingente de população de baixa renda, é também verdade que uma significativa parcela é formada por famílias que, estabelecidas há mais de trinta anos, puderam adquirir lotes para a construção de casas nos períodos em que a terra era barateada pelo pó-de-cimento e pela distância em relação ao Centro de São Paulo. A antigüidade da ocupação garantiu o tempo necessário à ampliação e melhoria das residências que, por serem próprias, representam um grande alívio para o orçamento familiar. Vale chamar atenção para as dimensões relativamente grandes dos terrenos nas vilas mais antigas, circunstância que possibilitou, em épocas nas quais as dificuldades para adquirir casas agravaram-se, o atendimento de parte da demanda de moradia gerada pelas segundas e terceiras gerações através do desmembramento dos lotes. Outro aspecto importante já foi referido: a intervenção social da Paróquia.
Encerrado o flagelo do pó-de-cimento, os primeiros dias de chuva revelaram uma paisagem dominada pelo verde e por um Subprefeitura fresco que não se sente na maior parte de São Paulo/SP. Outro aspecto importante é que, nos momentos em que os trens da CBTU/CPTM e o transporte por ônibus (e, mais recentemente, peruas e vãs) atingem níveis razoáveis de eficácia, Perus fica subitamente próximo, a não mais que meia hora da Lapa e das Estações Barra Funda e Luz, situação que contrasta com municípios mais afastados da Capital.
A discrepância entre os indicadores sociais e a situação efetiva de Perus põe em xeque as diversas caracterizações que o bairro vem recebendo nas últimas décadas, algumas sem qualquer base fática. Um dos frutos desses equívocos foi a propositura de uma lei, ao final de 1992, pelo vereador Zé Índio, indicando a criação de uma Zona Livre de Sexo.
Depois disso, ainda na esteira desses pré-conceitos, não demorou muito para que a Folha de São Paulo publicasse, em março de 1993, uma destacada matéria na qual Perus surgia com os maiores índices de analfabetismo da cidade, "informação" obtida através de perguntas a transeuntes feitas em dias e horários nos quais a maioria dos moradores estava ou trabalhando em outros lugares ou sentada em bancos escolares.
Outra injustiça a reparar refere-se a denominações religiosas como o espiritismo e as igrejas evangélicas, cuja contribuição para a evolução histórica, social e cultural de Perus nunca foi objeto de estudo apesar de, por exemplo, a Igreja Presbiteriana contar, dentre seus fiéis, com importantes lideranças do Sindicato dos "Queixadas", apelido conferido aos operários da Cimento Perus nos anos 50.
Mas a questão para a qual, de alguma maneira, confluem todos os problemas apontados é, sem dúvida, a crise de identidade gerada pela brusca aceleração do crescimento urbano verificada nos anos 80. Depois de mais de vinte anos de relativa estabilização, nos quais parecia que Perus não ultrapassaria limites já quase tidos como históricos, eis que a comunidade se vê diante de mudanças muito rápidas.
Como Perus é um bairro fronteiriço na periferia da cidade, ainda no final da década de 60 e início de 70, apresentava amplos espaços verdes, isolados da área urbana. Por outro lado a região é servida por duas grandes rodovias - Anhangüera e Bandeirantes além da Raimundo P. de Magalhães, de menor porte, mas que ainda é bastante utilizada como acesso a outros municípios próximos à Capital, tornam o Bairro estratégico. Possivelmente este fato deve ter levado a instalação do Aterro Sanitário Bandeirantes em nosso bairro. Contudo, o crescimento acentuado da cidade ampliou a produção de lixo e tivemos em pouco tempo um esgotamento da capacidade do aterro.
Aliado à expansão sem precedentes da região a partir sobretudo dos anos 90, o lixo passou a se constituir num dos graves problemas da população do bairro. A poluição provocada pelo Aterro ficou perceptível com a ampliação de inúmeras moléstias de ordem respiratória, de pele etc. Os órgãos de saúde chegaram a apresentar dados estatísticos demonstrando o crescimento de tais doenças, direta ou indiretamente relacionadas à presença do Aterro Sanitário de Perus. Foram inúmeras as manifestações sociais contra a presença do Lixão em Perus: impedir a entrada de caminhões de lixo e a circulação de caminhões de coleta pelo Bairro, paralisar a circulação de trens e outras. Embora o movimento não tenha tido êxito em encerrar as atividades do Aterro Sanitário Bandeirantes tornou-se importante como fator organizador que em 1995 conseguiu deter a implantação de Incineradores no Bairro. Demonstrou ainda a capacidade que o problema ambiental tem de unificar um amplo arco de forças sociais organizadas e o conjunto da sociedade.
Em 2001, mais uma vez Perus se viu ameaçado por um novo empreendimento ligado ao lixo. Desta vez por parte de uma empresa privada que pretendia explorar os serviços de recolhimento e depósito de resíduos industriais e domésticos. Novamente, como na luta contra os incineradores, o conjunto das forças sociais do Bairro conseguiram se unificar contra o empreendimento atraindo inclusive os moradores das cidades próximas para uma ação de caráter mais Subprefeitura. Frente forte mobilização popular, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente acabou por indeferir o processo.
Apesar das vitórias obtidas pelo movimento popular, o Bairro não deverá livrar-se tão cedo de seus problemas ambientais. Uma das maiores obras da América Latina, o Rodoanel Viário, teve seu início justamente por Perus. Apesar de se constituir num pólo que poderá trazer benefícios à região, a obra já vem provocando uma série de problemas antes inexistentes e agravando outros.
O texto acima foi cedido pelo companheiro Elcio Siqueira, historiador, morador do bairro e filho de um dos queixadas que participaram da histórica greve da Fábrica de Cimento de Perus, referência do movimento sindical brasileiro.
Na sua quase totalidade foi extraído da sua tese de Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus de Subprefeituraaraquara, com insignificantes modificações necessárias ao fim a que se destina e à atualização que se fez necessária.
A busca de ouro foi tema recorrente durante os primeiros estágios da ocupação portuguesa do Brasil, fato explicável pela conquista espanhola dos Impérios Asteca e Inca, e de suas enormes reservas de prata, logo no começo do século XVI.
Assim, de acordo com Alfredo Ellis Junior, não é surpreendente que, mal chegado à costa brasileira em 1530, Martim Afonso de Souza tenha tratado de enviar um destacamento ao interior do território em busca de metais preciosos. Outras explorações se seguiram, propiciando notícias de descobertas em Apiaí (alto Vale do Ribeira), Paranaguá e outros pontos do sul da colônia entre 1561 e 1592. O ouro levado da Vila de Santos por corsários ingleses em 1588 e 1591 é uma segura confirmação do sucesso desses empreendimentos. Porém, de maior monta foi o ouro encontrado em 1590 no Pico do Jaraguá e no Córrego Santa Fé - cujas nascentes situam-se na encosta da montanha - pelos Affonso Sardinha (pai e filho com o mesmo nome) e por Antonio Bicudo Carneiro. (Ellis Junior, 1942, p. 111-2, op. cit.)
O impacto do mito que se criaria acerca do ouro de Jaraguá foi tamanho que, em 1839, (reproduzindo uma opinião ainda muito em voga nos dias de hoje) o reverendo metodista Daniel Parish Kidder anotava que as velhas minas de ouro do Jaraguá... foram as primeiras descobertas no Brasil. Produziram muito durante a primeira metade do século dezessete, e as grandes quantidades de ouro de lá canalizadas para a Europa granjearam para a região o cognome de segundo Peru; tiveram, além disso, o mérito de incentivar a exploração do interior da qual resultou a localização de diversas zonas auríferas em Minas Gerais (Kidder, 1980, p. 194, op. cit., grifos nossos).
"Segundo Peru", "Peru do Brasil" (Santos & Rodrigues,1998, p. 49), denominações cuja popularidade rivalizava com o topônimo oficial da região no Período Colonial: "Ajuá" (nome de um arbusto espinhento).
O ilustre historiador Affonso d'Escragnolle de Taunay constatou, em documento de época, que o empreendimento minerador dos dois Sardinha começou precisamente em 1597, em sociedade com o Sr. Clemente Alves. Taunay identifica uma autêntica "miragem americana", consubstanciada, por exemplo, pela espetacular vinda a São Paulo de uma comissão governamental de alto nível, acompanhada de técnicos, para estudar in loco as jazidas do Jaraguá. (Taunay, 1921, p. 197-9, 239 e seguintes).
Todavia, como bem questiona Ellis Junior, quanto ouro teria sido proveniente da mineração quinhentista? O dado que o professor encontrou, na História Econômica do Brasil de Roberto Simonsen, é de 930 arrobas, em relação ao qual ele, Ellis Junior, expressa opinião de que não deveria estar muito longe da exatidão, pois incluía também as outras fontes de metal precioso do sul da Capitania, em todo o Período Colonial.
Para evidenciar-se a insignificância desse montante, basta lembrar que, no século XVIII, a quantidade mínima de ouro que deveria ser arrecadada anualmente pelo sistema de coleta de impostos em Minas Gerais era de 100 arroubas (cerca de 1.500 quilos). Portanto, a mineração do Jaraguá não deveria ter sido uma abundante cornucópia de riquezas. Fosse, teria sido um fanal [o mesmo que farol, obs. minha E. S.] atrator de grandes massas demográficas que teriam feito de S. Paulo e do planalto paulista uma região super povoada de elementos reinóis, tal como foram as Minas de Ouro no setecentismo ... Entretanto, o fato da mineração paulistânica, no Jaraguá e proximidades, não teve grande repercussão na evolução histórica de S. Paulo. Sua população não teve surtos de progresso em virtude dessa mineração. Sua economia não ofereceu manifestações de euforia em matéria de conforto, as quais seriam visíveis se tivessem havido. Enfim, tudo nos denuncia que ... [a] mineração planaltina ... foi apenas um leve arranhão na vida econômica paulistana. (Ellis Junior, 1942, p. 112-3, op. cit.)
Deve-se observar que os dados de Ellis Junior são compatíveis com o relato de Kidder que disse ter encontrado a lavra abandonada aos pés da montanha, num terreno de aluvião, sem se propor a realizar uma investigação rigorosa que confirmasse tudo o que ouvia. Seu depoimento é um bom indício, conseqüentemente, da permanência da "miragem americana" (Taunay) no imaginário dos moradores da Vila de Piratininga.
Bairro mais setentrional de São Paulo (a despeito de dificilmente ser visto como integrante da Zona Norte da Capital), situado na região do Vale do Rio Juquery e da Serra Cantareira, Perus é um núcleo urbano isolado do restante da cidade por um cinturão verde cada vez mais tênue, características que fazem com que muitas pessoas tomem-no por um dos Municípios do Norte/Noroeste da Grande São Paulo, confusão explicável pelas fortes ligações históricas e culturais entre Perus e as cidades vizinhas.
A região do Vale do Rio Juquery e da Serra da Cantareira foi zona de passagem de tropas militares e importante entreposto de abastecimento durante o período colonial e sob a vigência do Império, fato que ficaria materializado em vias que fazem a ligação entre Perus e os bairros de Parada de Taipas e Jaraguá: Av. Raimundo Pereira de Magalhães, ou Estrada Velha de Campinas, e Estrada São Paulo-Jundiaí.
De longa data, há registros históricos sobre Perus. No século XVII, existiram em sua área a Fazenda dos Pires, propriedade de Salvador Pires Medeiros, capitão da gente de São Paulo, dedicada à produção vinícola; e a Fazenda Ajuá, pertencente ao paulista Domingos Dias da Silva, tida como uma das maiores fazendas de cereais nas cercanias da Capital no começo do século seguinte. Em l856, o Registro Paroquial de Nossa Senhora do Ó assinalava dezessete proprietários de terras no "Bairro do Ajuá", antigo nome de Perus. Em 1867, os grandes proprietários eram Antonio Francisco de Aguiar e Castro, Candido da Cunha Brito, o Coronel Luiz Alves de Almeida, Hedwiges Dias de Oliveira (antigo nome da R. Crispim do Amaral) e Jesuino Afonso de Camargo, nome de outra rua em Perus.
Nesse mesmo ano (1867), junto com o restante da São Paulo Railway (atual E. F. Santos-Jundiaí), foi inaugurada a Estação de Perus, dando início a um processo de urbanização do Vale cujos grandes marcos foram a Companhia Melhoramentos de São Paulo (1890), o Hospital Psiquiátrico do Juquery e sua Fazenda (1898), a Estrada de Ferro Perus-Pirapora (EFPP, 1910) e a Companhia Brasileira de Cimento Portland (1926). Também digna de menção é a Fábrica de Pólvora erguida a uns duzentos metros da Estação de Perus, da qual restam alicerces. Nos primeiros anos da República, junto com a Ipanema, esta Fábrica foi a principal fornecedora de munição para o sistema de defesa do Porto de Santos.
Como resultado dessas iniciativas, seriam criados os núcleos fundamentais de Perus e de suas cidades-irmãs: Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e Cajamar.De imediato (ou melhor: antes da inauguração da Fábrica de Cimento), o acesso ferroviário trouxe a vinda de novos proprietários para Perus, como Antonio Maia, Di Sandro, Achiles Fanton, Ernesto Bottoni, Narciso Cagnassi, Leonardo Correia, Julio de Oliveira, Vasco Gazzo, Demetrio Vidal Lopes, Pascoale Peciccacco, Peregrino Lage, Sylvio de Campos, Joaquim Serpal; nomes que, em sua maioria, estão estampados nas placas de ruas e avenidas do bairro. Homenagem mais do que justa pois os loteamentos foram formados a partir de glebas pertencentes a famílias desses senhores. Quanto aos porquês da presença desses nomes das placas, o fato é que a memória do papel dos personagens popularmente reconhecidos como os "pioneiros" da localidade está se perdendo nas penumbras do tempo. Salvo reminiscências repassadas oralmente, quase de forma mítica, pouco se sabe do passado agrícola recente de Perus, do modo de vida e das dificuldades enfrentadas num período não tão distante.
Período que se encerra em 1926 com a entrada em funcionamento da Cimento Perus. Primeira indústria do ramo no país, a Fábrica surgiu da associação de um grupo de empresários brasileiros, liderados pelo advogado Dr. Sylvio de Campos, com a Drisdale y Pease, empresa sediada em Toronto, Canadá, ligada à Lone Star Cement Company, uma das gigantes do ramo nos Estados Unidos. O projeto fora prenunciado em 1910-1914 pela construção da E. F. Perus-Pirapora que previamente resolveu o problema da matéria-prima. Superada esta etapa, ocorreram diversos atrasos em função da necessidade de trazer para o local uma linha de alta tensão da Light: os equipamentos da Fábrica seriam impulsionados por energia elétrica.A magnitude do empreendimento é atestada por clássicos como João Manuel Cardoso de Mello - que observa que a Fábrica foi planejada dentro de "uma estratégia de ocupação a longo prazo de uma faixa substancial do mercado brasileiro" - e Warren Dean que inclui Perus entre as "principais fábricas novas construídas na década de 20". Absolutamente acertado o juízo dos mestres pois, ao longo das quatro décadas seguintes, a The Brasilian Cement Company atendeu uma parcela do mercado que variou entre um terço e um quinto das demandas nacional e paulista. Em termos menos abstratos, no intervalo em que a cidade de São Paulo passou de 600.000 para mais de 3.000.000 de habitantes, em Perus foi produzido o cimento utilizado na construção da maioria de seus edifícios, nos túneis e viadutos da Avenida 9 de julho, na Biblioteca Mario de Andrade, nas obras da Light em Santos, no trecho inicial da Via Anhangüera, etc.
Trazendo o sangue e a energia indispensáveis a tamanha tarefa, chegou ao bairro uma segunda leva de pioneiros formada pelas famílias dos operários da Fábrica e da EFPP; afluxo populacional que, ainda na década de 20, levaria à criação de vilas dentro (Triângulo e Portland) e fora (Inácio, Operária e Hungareza) do perímetro da empresa. O fato ficaria marcado de forma emblemática no momento em que Perus, já com 3.504 habitantes, foi elevado a Distrito em 21 de setembro de 1934, data reconhecida pela Câmara Municipal de São Paulo como fundação do bairro.
Fundado em 1933, o Sindicato da categoria cimenteira - que incluía os operários da Fábrica, da EFPP e das pedreiras de calcário em Cajamar - é a mais antiga entidade social de Perus. Em 1940, a Paróquia Santa Rosa de Lima seria criada praticamente junto com a Igreja Presbiteriana da Esperança e com o Centro Amigos de Perus, associação de moradores sucedida nove anos depois pela Sociedade Amigos de Perus (SADIP) cujos esforços levariam à ligação de rede elétrica para todo o bairro em 1954, encerrando um período no qual o recurso estivera restrito às edificações da Companhia de Cimento.
1958 é um marco particularmente importante para a história local. Primeiro, porque foi quando se realizou o plebiscito pela transformação do bairro num novo município, processo conduzido por uma Comissão Pró-Emancipação criada pela SADIP sob a presidência do saudoso Demétrio Vidal Lopes (1918-1998), cuja incansável atuação em defesa da memória social torná-lo-ia unanimemente reconhecido como o Historiador de Perus. Conforme relatado por Vidal Lopes, o "sim" era representado por cédulas brancas; o "não" pelas de cor preta. No dia da votação, os ativistas do Sindicato cimenteiro saíram às ruas distribuindo cédulas escuras aos gritos de "vote no pelé!", "vote no pelé!" O comparecimento mínimo não foi atingido, com a apuração revelando derrota dos autonomistas.
1958 seria também o ano em que ocorreria a primeira grande greve operária na Cimento Perus. O sindicalismo peruense-cajamarense merece atenção tanto pela sua originalidade (é reconhecido internacionalmente como um importante núcleo do movimento da não-violência) como pelas conquistas que trouxe para o conjunto dos trabalhadores brasileiros: a primeira regulamentação do salário-família, a presença do Sindicato nos atos de contratação e demissão de mão-de-obra, o reconhecimento da legalidade das greves por atraso de pagamento; esta última obtida numa greve realizada em 1967, em plena Ditadura Militar. Ditadura cujo braço mais visível em Perus era o Cemitério Dom Bosco, criado durante a OBAN (Operação Bandeirantes) para esconder os corpos de cidadãos perseguidos e assassinados por causa de seu engajamento nas causas da justiça e da liberdade.
Outro fato a se ressaltar é que, em função de denúncias do Sindicato de Perus, o Complexo Cimenteiro (Fábrica, EFPP e minas de calcário) seria o primeiro caso no país de intervenção (1970) e confisco federal (1973) realizadas com o objetivo de ressarcir dívidas decorrentes de impostos atrasados para com a Fazenda Pública da União. Os trabalhadores do cimento conseguiram também que, pelos mesmos motivos, o Sítio Santa Fé fosse alvo de confisco federal em 1979. No mesmo ano, a área foi comprada pela Prefeitura de São Paulo. Uma parte seria transformada no Parque Anhangüera, o maior da cidade (9,6 quilômetros quadrados); o restante foi destinado ao aterro sanitário Bandeirantes, o "lixão" de Perus.
O núcleo urbano originário seria ampliado em meados dos anos 60 pelas Vilas Perus, Caiuba, Osana, Flamengo e Malvina e pelos Jardins São Paulo, Manacá e do Russo. A despeito de muitos dos novos moradores trabalharem na Lapa e em outros pontos da Capital (algo que praticamente não ocorria antes), Perus continuava gravitando em torno da Companhia tanto por depender da sua oferta de empregos como por suportar o pó que saía das chaminés. Por baixo da paisagem soterrada pelo cimento, estavam os terrenos relativamente baratos que atraíram a terceira leva de peruenses.
Na década de 70, o crescimento ficaria restrito à Vila Nova Perus. Do ponto de vista urbanístico, o principal destaque vai para a Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1973, cuja construção implicou na desapropriação de cerca de metade da Vila Inácio e de um terço do Jardim do Russo. Como muitas famílias ainda não detinham títulos de propriedade da terra ou seriam indenizadas 20-25 anos depois, foi nesta ocasião que surgiram as primeiras favelas de Perus, problema enfrentado desde os momentos iniciais pela Paróquia Santa Rosa e por suas Comunidades Eclesiais de Base.
A Paróquia fez-se presente no trabalho de organização dos setores mais carentes e no atendimento de demandas sociais criando, ainda nos anos 70, a primeira creche de Perus. Nesta mesma época, outra obra de grande impacto foi o poço artesiano aberto pelos padres no Jardim do Russo com o objetivo de enfrentar o problema da falta d'água, flagelo que, aliás, atingia o bairro como um todo. Os moradores continuariam na dependência de caminhões pipas da Prefeitura e de poços comuns por mais uma década, até a chegada de rede da SABESP.
A próxima arrancada da urbanização teria início em meados dos anos 80 com a Vila Flamengo (2ª Gleba), Vila Bottoni e Jardim Adelfiori; processo continuado de modo bastante acelerado nos anos 90 pelo Recanto dos Humildes e pelos conjuntos habitacionais, em fase de construção, bancados pela Governo do Estado.
O fim da emissão de pó-de-cimento (1980, produto final de uma luta iniciada em 1973), o fechamento da Perus-Pirapora (1983) e da Fábrica (1986) anunciam um período no qual Perus, finalmente convertido em bairro-dormitório, já dispõe de um dinâmico setor de serviços. O lixo torna-se um grande problema. Também preocupante é a carência de equipamentos e serviços e sociais que, mesmo antes da última arrancada de crescimento, já eram insuficientes para atender adequadamente os moradores.
Um patrimônio comunitário, contudo, permanece intacto: os baixíssimos índices de violência que fazem de Perus um dos lugares mais tranquilos da cidade, quadro surpreendente para alguém que, desconhecendo sua história, procurasse entender o bairro através de uma leitura superficial dos indicadores sociais.
Se, de fato, Perus possui um grande contingente de população de baixa renda, é também verdade que uma significativa parcela é formada por famílias que, estabelecidas há mais de trinta anos, puderam adquirir lotes para a construção de casas nos períodos em que a terra era barateada pelo pó-de-cimento e pela distância em relação ao Centro de São Paulo. A antigüidade da ocupação garantiu o tempo necessário à ampliação e melhoria das residências que, por serem próprias, representam um grande alívio para o orçamento familiar. Vale chamar atenção para as dimensões relativamente grandes dos terrenos nas vilas mais antigas, circunstância que possibilitou, em épocas nas quais as dificuldades para adquirir casas agravaram-se, o atendimento de parte da demanda de moradia gerada pelas segundas e terceiras gerações através do desmembramento dos lotes. Outro aspecto importante já foi referido: a intervenção social da Paróquia.
Encerrado o flagelo do pó-de-cimento, os primeiros dias de chuva revelaram uma paisagem dominada pelo verde e por um Subprefeitura fresco que não se sente na maior parte de São Paulo/SP. Outro aspecto importante é que, nos momentos em que os trens da CBTU/CPTM e o transporte por ônibus (e, mais recentemente, peruas e vãs) atingem níveis razoáveis de eficácia, Perus fica subitamente próximo, a não mais que meia hora da Lapa e das Estações Barra Funda e Luz, situação que contrasta com municípios mais afastados da Capital.
A discrepância entre os indicadores sociais e a situação efetiva de Perus põe em xeque as diversas caracterizações que o bairro vem recebendo nas últimas décadas, algumas sem qualquer base fática. Um dos frutos desses equívocos foi a propositura de uma lei, ao final de 1992, pelo vereador Zé Índio, indicando a criação de uma Zona Livre de Sexo.
Depois disso, ainda na esteira desses pré-conceitos, não demorou muito para que a Folha de São Paulo publicasse, em março de 1993, uma destacada matéria na qual Perus surgia com os maiores índices de analfabetismo da cidade, "informação" obtida através de perguntas a transeuntes feitas em dias e horários nos quais a maioria dos moradores estava ou trabalhando em outros lugares ou sentada em bancos escolares.
Outra injustiça a reparar refere-se a denominações religiosas como o espiritismo e as igrejas evangélicas, cuja contribuição para a evolução histórica, social e cultural de Perus nunca foi objeto de estudo apesar de, por exemplo, a Igreja Presbiteriana contar, dentre seus fiéis, com importantes lideranças do Sindicato dos "Queixadas", apelido conferido aos operários da Cimento Perus nos anos 50.
Mas a questão para a qual, de alguma maneira, confluem todos os problemas apontados é, sem dúvida, a crise de identidade gerada pela brusca aceleração do crescimento urbano verificada nos anos 80. Depois de mais de vinte anos de relativa estabilização, nos quais parecia que Perus não ultrapassaria limites já quase tidos como históricos, eis que a comunidade se vê diante de mudanças muito rápidas.
Como Perus é um bairro fronteiriço na periferia da cidade, ainda no final da década de 60 e início de 70, apresentava amplos espaços verdes, isolados da área urbana. Por outro lado a região é servida por duas grandes rodovias - Anhangüera e Bandeirantes além da Raimundo P. de Magalhães, de menor porte, mas que ainda é bastante utilizada como acesso a outros municípios próximos à Capital, tornam o Bairro estratégico. Possivelmente este fato deve ter levado a instalação do Aterro Sanitário Bandeirantes em nosso bairro. Contudo, o crescimento acentuado da cidade ampliou a produção de lixo e tivemos em pouco tempo um esgotamento da capacidade do aterro.
Aliado à expansão sem precedentes da região a partir sobretudo dos anos 90, o lixo passou a se constituir num dos graves problemas da população do bairro. A poluição provocada pelo Aterro ficou perceptível com a ampliação de inúmeras moléstias de ordem respiratória, de pele etc. Os órgãos de saúde chegaram a apresentar dados estatísticos demonstrando o crescimento de tais doenças, direta ou indiretamente relacionadas à presença do Aterro Sanitário de Perus. Foram inúmeras as manifestações sociais contra a presença do Lixão em Perus: impedir a entrada de caminhões de lixo e a circulação de caminhões de coleta pelo Bairro, paralisar a circulação de trens e outras. Embora o movimento não tenha tido êxito em encerrar as atividades do Aterro Sanitário Bandeirantes tornou-se importante como fator organizador que em 1995 conseguiu deter a implantação de Incineradores no Bairro. Demonstrou ainda a capacidade que o problema ambiental tem de unificar um amplo arco de forças sociais organizadas e o conjunto da sociedade.
Em 2001, mais uma vez Perus se viu ameaçado por um novo empreendimento ligado ao lixo. Desta vez por parte de uma empresa privada que pretendia explorar os serviços de recolhimento e depósito de resíduos industriais e domésticos. Novamente, como na luta contra os incineradores, o conjunto das forças sociais do Bairro conseguiram se unificar contra o empreendimento atraindo inclusive os moradores das cidades próximas para uma ação de caráter mais Subprefeitura. Frente forte mobilização popular, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente acabou por indeferir o processo.
Apesar das vitórias obtidas pelo movimento popular, o Bairro não deverá livrar-se tão cedo de seus problemas ambientais. Uma das maiores obras da América Latina, o Rodoanel Viário, teve seu início justamente por Perus. Apesar de se constituir num pólo que poderá trazer benefícios à região, a obra já vem provocando uma série de problemas antes inexistentes e agravando outros.
O texto acima foi cedido pelo companheiro Elcio Siqueira, historiador, morador do bairro e filho de um dos queixadas que participaram da histórica greve da Fábrica de Cimento de Perus, referência do movimento sindical brasileiro.
Na sua quase totalidade foi extraído da sua tese de Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus de Subprefeituraaraquara, com insignificantes modificações necessárias ao fim a que se destina e à atualização que se fez necessária.
letra a, vamos começar
A idéia de fazer um documentário sobre o movimento operário de Perus veio de uma vaga lembrança que tive de uma peça que ajudei a produzir na escola, se não me engano, na oitava série. Minha professora de História, Lia, decidiu que para o último bimestre, ao invés de prova, nós faríamos uma encenação para os pais sobre a urbanização de São Paulo e o nascimento do movimento operário na região. Ela escolheu a peça "Bumba, meu queixada", do grupo de teatro União e Olho Vivo, desconhecido pra mim na época.
Então, os alunos da oitava série do Colégio Meninópolis encenaram o "Bumba, meu Queixada", que simboliza todo o movimento operário das décadas de 50, 60 e 70 no Brasil. É uma metáfora muito bem colocada. O texto foi escrito pelo diretor da Cia, Cesar Vieira.
Há na peça uma música, que tivemos que decorar para a encenação do colégio. Foi por causa dessa música que lembrei do tema.
Tem um porco do mato
Um porco selvagem
Que quando anda em bando
Vira turma da pesada
Seu nome é Queixada
Teve uma greve na cidade de Perus
Onde os operários, sabedores dos direitos
Assinaram em cruz
Foi uma briga feia
Durou dezena e meia
Uma briga danada
E os operários chamavam Queixada
Teve um dia que acordei com essa música na cabeça, lembrei de tudo, pesquisei e consultei algumas pessoas. Ninguém sabia do que se tratava a greve de Perus. Ninguém tinha ouvido falar desse movimento operário. O ineditismo me animou, todo mundo do grupo concordou com o tema e daí pra frente começamos nossas pesquisas.
No link a seguir tem uma análise da peça do União e Olho Vivo, em PDF, que pode ser bacana para pesquisa: http://www.horizontecientifico.propp.ufu.br/include/getdoc.php?id=430&article=153&mode=pdf.
Nathalia Pazini
Então, os alunos da oitava série do Colégio Meninópolis encenaram o "Bumba, meu Queixada", que simboliza todo o movimento operário das décadas de 50, 60 e 70 no Brasil. É uma metáfora muito bem colocada. O texto foi escrito pelo diretor da Cia, Cesar Vieira.
Há na peça uma música, que tivemos que decorar para a encenação do colégio. Foi por causa dessa música que lembrei do tema.
Tem um porco do mato
Um porco selvagem
Que quando anda em bando
Vira turma da pesada
Seu nome é Queixada
Teve uma greve na cidade de Perus
Onde os operários, sabedores dos direitos
Assinaram em cruz
Foi uma briga feia
Durou dezena e meia
Uma briga danada
E os operários chamavam Queixada
Teve um dia que acordei com essa música na cabeça, lembrei de tudo, pesquisei e consultei algumas pessoas. Ninguém sabia do que se tratava a greve de Perus. Ninguém tinha ouvido falar desse movimento operário. O ineditismo me animou, todo mundo do grupo concordou com o tema e daí pra frente começamos nossas pesquisas.
No link a seguir tem uma análise da peça do União e Olho Vivo, em PDF, que pode ser bacana para pesquisa: http://www.horizontecientifico.propp.ufu.br/include/getdoc.php?id=430&article=153&mode=pdf.
Nathalia Pazini
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