segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Projeto entregue em 09/02

Gente, segue abaixo nosso projeto. Não coloquei capa, nem cronograma (muito complicado).

Objetivos

1. Objetivos gerais: o grupo tem por objetivo fazer documentário em vídeo, para televisão, com possibilidade de veiculação em canais de TV a cabo ou canais de TV Pública (Educativa, Cultural, Universitária etc), que abrem espaço em suas grades de programação para documentários de temáticas sociais, históricas e da cultura brasileira. Faremos um registro audiovisual documental da ação de um dos maiores movimentos sindicais da história brasileira que teve por ideal principal a não-violência.


2. Objetivos específicos:

a) Fazer com o que vídeo-documentário produzido atue como resgate da memória do movimento operário de Perus que, apesar da grande importância histórica, é pouco conhecido.

b) Relatar as condições de trabalho dos operários da fábrica de Cimento Portland Perus, pertencente ao Grupo Abdalla, gigante da Construção Civil nas décadas de 60 e 70 e com influência política.

c) Mostrar a luta contra a exploração operária deste grupo sindical movido pelo ideal da não-violência.

d) Verificar o objetivo e o sentido deste movimento operário enquanto classe trabalhadora.

e) Demonstrar o estado atual do Sindicato, da fábrica (hoje desativada e tombada pelo patrimônio histórico) e do grupo Abdalla (ainda dominante da região).

2. Justificativa: O vídeo-documentário será o primeiro longa-metragem que traz à tona a luta dos Queixadas. Já existe um curta-metragem, dirigido por Rogério Correa em 1978. O filme, um docudrama interpretado pelos próprios operários da Fábrica de Cimento Portland Perus, não é encontrado facilmente e traz uma visão mais imediatista do movimento.

Há também, em nosso projeto, uma forte carga de valor histórico, já que os livros didáticos de História, por exemplo, pouco ou nada falam desta luta operária em prol dos direitos dos trabalhadores da época.

Delimitação do assunto: O grupo chegou ao tema por meio da peça de teatro “Bumba meu Queixada”, de 1979, encenada pelo grupo União Olho Vivo e escrita pelo diretor da Companhia, Cesar Vieira. O texto, censurado na época, mesclava as greves operárias com a cultura popular brasileira (Bumba-meu-boi). Apesar de trabalhar com metáforas, (exemplo: a cidade citada na peça era chamada de Guarus, e não de Perus), o texto foi baseado na relação entre opressores e oprimidos vivida pelos operários do bairro de Perus e que teve como máxima expressão a grande greve que durou sete anos.

O grupo pretende focar sua pesquisa na atuação dos operários dessa greve. Alguns temas relevantes do início dos anos 60 serão levantados por uma questão de compreensão e para situar o espectador no tempo.

O bairro de Perus, na zona norte de São Paulo, começou a se desenvolver e abandonar suas características essencialmente rurais a partir da década de 20, quando foi construída a fábrica de Cimentos Portland Perus por um grupo canadense. A fábrica acompanhou o processo de urbanização de São Paulo, fornecendo cimento para a construção da Biblioteca Mario de Andrade, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, entre outros. A necessidade de mão-de-obra atraiu uma grande quantidade de trabalhadores ao local, impulsionados também pela instalação da Estrada de Ferro Perus-Pirapora. Tanto a Estrada de Ferro quanto a Fábrica de Cimentos passariam, na década de 50, para as mãos de um poderoso grupo da Construção Civil, a família Abdalla.

A primeira greve dos operários da Cimento Portland Perus aconteceu em 1958 e teve forte atuação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo. A mobilização se deu por conta de divergências na negociação do reajuste salarial dos operários. Houve ainda uma segunda greve, um ano depois, em decorrência da demissão de trabalhadores considerados veteranos, com quase 10 anos de casa, porém, sem o pagamento devido das indenizações. Nos dois casos, o grupo Abdalla teve que voltar atrás nas decisões e os trabalhadores conquistaram seus objetivos.

O Sindicato foi responsável por uma série de conquistas dos trabalhadores da Fábrica. Conseguiu a regulamentação do salário-família, a legalidade das greves por atraso de pagamento, o prêmio-produção, entre outras. Tudo isso movidos pelo lema da Firmeza-Permanente, uma corrente pacifista baseada em ideais de Mahadma Gandhi, Martin Luther King, entre outros. A não-violência, que nada tem a ver com a passividade, liga-se a resistência, sem reação violenta, contra os “maus patrões”, a polícia opressora, o governo ditatorial, etc. Por esse motivo, o grupo de trabalhadores ganhou o apelido de Queixadas, uma espécie de porco que se reúne e só anda em bando quando se sente ameaçado. Porém não reage violentamente.

A partir de 1962, o grupo Abdalla começou a ser acusado de descaso com os trabalhadores não só da Fábrica de Cimentos, mas também em outras quatro fábricas pertencentes ao Grupo, porém de outros segmentos (papel e celulose, por exemplo). Com os salários atrasados, os sindicatos de todas estas fábricas fizeram nova ameaça de paralisação e o grupo Abdalla foi indiferente às reivindicações. Em maio deste ano, 3.500 trabalhadores entraram em greve e a Fábrica de Cimentos foi ocupada pela polícia. A imprensa teve grande participação neste momento e várias matérias referentes à greve foram publicadas nos principais jornais da cidade.

Pouco depois de um mês, os sindicatos três fábricas do Grupo furaram a greve e voltaram a trabalhar depois de um acordo com os Abdalla. Mais de 2 mil operários voltaram ao serviço. Permaneceram paralisados os trabalhadores da Copase (Companhia Paulista de Celulose) e da Perus.

Em maio de 1962, cerca de 100 trabalhadores furaram a greve de Perus, por motivos, segundo o Sindicato, de acordo com os Abdalla. A Fábrica voltou a funcionar. Com o discurso de que os operários cumpriam, então, uma greve ilegítima, o Grupo Abdalla dispensou 1200 trabalhadores e abriu um inquérito contra 500 operários sob a alegação de terem praticado abandono de emprego e participação de uma greve ilegal.

Durante sete anos, o grupo de operários continuou lutando pelos seus direitos de maneiras inusitadas, como a greve de fome realizada no Largo São Francisco, em dezembro de 1962.

Nesse período de greve, os operários tiveram que contar com a solidariedade de moradores da região e de cidades do interior. O sindicato, para garantir condições materiais à luta, organizava viagens e passeatas para, de porta em porta, pedir ajuda. Além disso, foram criadas, na sede do sindicato, uma pequena fábrica de gaiolas e uma oficina de costura para mulheres. Outros sindicatos também deram apoio, assim, a luta chegou a conseguir um memorial com mais de 150 mil assinaturas solicitando a encampação como única solução para a greve. Para compreender a dimensão da greve não só trabalhadores participaram, diversas organizações sociais se solidarizaram com a causa, como estudantes de medicina que passaram a dar plantões em Perus e Cajamar.


Procedimentos metodológicos e técnicos: nossa pesquisa será feita por meio de consultas em jornais da época, tanto impressos, quanto veiculados na TV, já que J. J. Abdalla foi deputado federal por mais de uma vez.
O grupo já fez contato com o Sindicato, existente até hoje, e que tem como membros muitos operários grevistas que poderão dar depoimentos. Além disso, contaremos com as imagens de arquivos do Sindicato, que disponibilizou seu acervo com filmes e reportagens da época.
O grupo também já levantou o nome de possíveis fontes para gravarmos entrevistas. São elas:

- Elcio Siqueira, historiador e filho de um Queixada
- Representante da família Abdalla
- Cesar Vieira, diretor da Companhia de teatro União e Olho Vivo, que escreveu a peça Bumba meu Queixada
- Rogério Corrêa, diretor do curta-metragem “Os Queixadas”, de 1979
- Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo que apoiou o movimento
- Marilena Chauí, então secretária de cultura de São Paulo que defendeu o tombamento da Fábrica
-Renato Rua de Almeida, advogado trabalhista, estagiário da Frente Nacional do Trabalho que participou da greve de Perus nos anos de 1962 e 1963
- Sidnei Fernandes Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cimento

Bibliografia:

i. ABRÃO, Nelson. A Máfia do Cimento. Loyola, 1987.
ii. DA-RIN, Sílvio. Espelho partido. Azougue Editorial, 2004.
iii. FIELD, Syd. Manual do roteiro. Objetiva, 1982.
iv. JESUS, Mário Carvalho de. Cimento Perus: 40 Anos de ação sindical transformam velha fábrica em centro de cultura municipal. JMJ Consultoria e Promoções, 1992.
v. LABAKI, Amir. É tudo verdade: reflexões sobre a cultura do documentário. Francis, 2005.
vi. LABAKI, Amir. Introdução ao documentário brasileiro. Francis, 2006.
vii. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho. Jorge Zahar, 2004.
viii. MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir [Org.]. O cinema do real. Cosac Naify, 2005.
ix. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Papirus, 2005.
x. SARAIVA, Leandro e CANNITO, Newton. Manual de roteiro. Conrad do Brasil, 2004.
xi. SIQUEIRA, Elcio. Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus: contribuição para uma história da indústria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987). Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, 2001.

Filmografia:

i. CORRÊA, Rogério. Os Queixadas. 1978.
ii. COUTINHO, Eduardo. Cabra marcado para morrer. 1985.
iii. COUTINHO, Eduardo. Edifício Master. 2002.
iv. COUTINHO, Eduardo. Peões. 2004.
v. COUTINHO, Eduardo. Santo forte. 1999.
vi. COUTINHO, Eduardo. O Fim e o Princípio. 2005.
vii. DREW, Robert. Crisis. 1963.
viii. DREW, Robert. Primary. 1960.
ix. FLAHERTY, Robert. Man of Aran. 1934.
x. FLAHERTY, Robert. Louisiana Story. 1948.
xi. FLAHERTY, Robert. Tabu. 1931.
xii. JARDIM, João e CARVALHO, Walter. Janela da Alma. 2001.
xiii. MOCARZEL, Evaldo. Do luto à luta. 2005.
xiv. ROUCH, Jean. Eu, um negro. 1958.
xv. ROUCH, Jean. Jaguar 1967.
xvi. ROUCH, Jean. Os mestres loucos. 1955.
xvii. SALLES, João Moreira. Notícias de uma guerra particular. 1999.
xviii. SALLES, João Moreira. Entreatos. 2004.

Nathalia

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