segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Saiba um pouco mais sobre Perus

Saiba um pouco mais sobre Perus - tirado do site da Prefeitura de São Paulo

A busca de ouro foi tema recorrente durante os primeiros estágios da ocupação portuguesa do Brasil, fato explicável pela conquista espanhola dos Impérios Asteca e Inca, e de suas enormes reservas de prata, logo no começo do século XVI.
Assim, de acordo com Alfredo Ellis Junior, não é surpreendente que, mal chegado à costa brasileira em 1530, Martim Afonso de Souza tenha tratado de enviar um destacamento ao interior do território em busca de metais preciosos. Outras explorações se seguiram, propiciando notícias de descobertas em Apiaí (alto Vale do Ribeira), Paranaguá e outros pontos do sul da colônia entre 1561 e 1592. O ouro levado da Vila de Santos por corsários ingleses em 1588 e 1591 é uma segura confirmação do sucesso desses empreendimentos. Porém, de maior monta foi o ouro encontrado em 1590 no Pico do Jaraguá e no Córrego Santa Fé - cujas nascentes situam-se na encosta da montanha - pelos Affonso Sardinha (pai e filho com o mesmo nome) e por Antonio Bicudo Carneiro. (Ellis Junior, 1942, p. 111-2, op. cit.)
O impacto do mito que se criaria acerca do ouro de Jaraguá foi tamanho que, em 1839, (reproduzindo uma opinião ainda muito em voga nos dias de hoje) o reverendo metodista Daniel Parish Kidder anotava que as velhas minas de ouro do Jaraguá... foram as primeiras descobertas no Brasil. Produziram muito durante a primeira metade do século dezessete, e as grandes quantidades de ouro de lá canalizadas para a Europa granjearam para a região o cognome de segundo Peru; tiveram, além disso, o mérito de incentivar a exploração do interior da qual resultou a localização de diversas zonas auríferas em Minas Gerais (Kidder, 1980, p. 194, op. cit., grifos nossos).
"Segundo Peru", "Peru do Brasil" (Santos & Rodrigues,1998, p. 49), denominações cuja popularidade rivalizava com o topônimo oficial da região no Período Colonial: "Ajuá" (nome de um arbusto espinhento).
O ilustre historiador Affonso d'Escragnolle de Taunay constatou, em documento de época, que o empreendimento minerador dos dois Sardinha começou precisamente em 1597, em sociedade com o Sr. Clemente Alves. Taunay identifica uma autêntica "miragem americana", consubstanciada, por exemplo, pela espetacular vinda a São Paulo de uma comissão governamental de alto nível, acompanhada de técnicos, para estudar in loco as jazidas do Jaraguá. (Taunay, 1921, p. 197-9, 239 e seguintes).
Todavia, como bem questiona Ellis Junior, quanto ouro teria sido proveniente da mineração quinhentista? O dado que o professor encontrou, na História Econômica do Brasil de Roberto Simonsen, é de 930 arrobas, em relação ao qual ele, Ellis Junior, expressa opinião de que não deveria estar muito longe da exatidão, pois incluía também as outras fontes de metal precioso do sul da Capitania, em todo o Período Colonial.
Para evidenciar-se a insignificância desse montante, basta lembrar que, no século XVIII, a quantidade mínima de ouro que deveria ser arrecadada anualmente pelo sistema de coleta de impostos em Minas Gerais era de 100 arroubas (cerca de 1.500 quilos). Portanto, a mineração do Jaraguá não deveria ter sido uma abundante cornucópia de riquezas. Fosse, teria sido um fanal [o mesmo que farol, obs. minha E. S.] atrator de grandes massas demográficas que teriam feito de S. Paulo e do planalto paulista uma região super povoada de elementos reinóis, tal como foram as Minas de Ouro no setecentismo ... Entretanto, o fato da mineração paulistânica, no Jaraguá e proximidades, não teve grande repercussão na evolução histórica de S. Paulo. Sua população não teve surtos de progresso em virtude dessa mineração. Sua economia não ofereceu manifestações de euforia em matéria de conforto, as quais seriam visíveis se tivessem havido. Enfim, tudo nos denuncia que ... [a] mineração planaltina ... foi apenas um leve arranhão na vida econômica paulistana. (Ellis Junior, 1942, p. 112-3, op. cit.)
Deve-se observar que os dados de Ellis Junior são compatíveis com o relato de Kidder que disse ter encontrado a lavra abandonada aos pés da montanha, num terreno de aluvião, sem se propor a realizar uma investigação rigorosa que confirmasse tudo o que ouvia. Seu depoimento é um bom indício, conseqüentemente, da permanência da "miragem americana" (Taunay) no imaginário dos moradores da Vila de Piratininga.
Bairro mais setentrional de São Paulo (a despeito de dificilmente ser visto como integrante da Zona Norte da Capital), situado na região do Vale do Rio Juquery e da Serra Cantareira, Perus é um núcleo urbano isolado do restante da cidade por um cinturão verde cada vez mais tênue, características que fazem com que muitas pessoas tomem-no por um dos Municípios do Norte/Noroeste da Grande São Paulo, confusão explicável pelas fortes ligações históricas e culturais entre Perus e as cidades vizinhas.
A região do Vale do Rio Juquery e da Serra da Cantareira foi zona de passagem de tropas militares e importante entreposto de abastecimento durante o período colonial e sob a vigência do Império, fato que ficaria materializado em vias que fazem a ligação entre Perus e os bairros de Parada de Taipas e Jaraguá: Av. Raimundo Pereira de Magalhães, ou Estrada Velha de Campinas, e Estrada São Paulo-Jundiaí.
De longa data, há registros históricos sobre Perus. No século XVII, existiram em sua área a Fazenda dos Pires, propriedade de Salvador Pires Medeiros, capitão da gente de São Paulo, dedicada à produção vinícola; e a Fazenda Ajuá, pertencente ao paulista Domingos Dias da Silva, tida como uma das maiores fazendas de cereais nas cercanias da Capital no começo do século seguinte. Em l856, o Registro Paroquial de Nossa Senhora do Ó assinalava dezessete proprietários de terras no "Bairro do Ajuá", antigo nome de Perus. Em 1867, os grandes proprietários eram Antonio Francisco de Aguiar e Castro, Candido da Cunha Brito, o Coronel Luiz Alves de Almeida, Hedwiges Dias de Oliveira (antigo nome da R. Crispim do Amaral) e Jesuino Afonso de Camargo, nome de outra rua em Perus.
Nesse mesmo ano (1867), junto com o restante da São Paulo Railway (atual E. F. Santos-Jundiaí), foi inaugurada a Estação de Perus, dando início a um processo de urbanização do Vale cujos grandes marcos foram a Companhia Melhoramentos de São Paulo (1890), o Hospital Psiquiátrico do Juquery e sua Fazenda (1898), a Estrada de Ferro Perus-Pirapora (EFPP, 1910) e a Companhia Brasileira de Cimento Portland (1926). Também digna de menção é a Fábrica de Pólvora erguida a uns duzentos metros da Estação de Perus, da qual restam alicerces. Nos primeiros anos da República, junto com a Ipanema, esta Fábrica foi a principal fornecedora de munição para o sistema de defesa do Porto de Santos.
Como resultado dessas iniciativas, seriam criados os núcleos fundamentais de Perus e de suas cidades-irmãs: Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e Cajamar.De imediato (ou melhor: antes da inauguração da Fábrica de Cimento), o acesso ferroviário trouxe a vinda de novos proprietários para Perus, como Antonio Maia, Di Sandro, Achiles Fanton, Ernesto Bottoni, Narciso Cagnassi, Leonardo Correia, Julio de Oliveira, Vasco Gazzo, Demetrio Vidal Lopes, Pascoale Peciccacco, Peregrino Lage, Sylvio de Campos, Joaquim Serpal; nomes que, em sua maioria, estão estampados nas placas de ruas e avenidas do bairro. Homenagem mais do que justa pois os loteamentos foram formados a partir de glebas pertencentes a famílias desses senhores. Quanto aos porquês da presença desses nomes das placas, o fato é que a memória do papel dos personagens popularmente reconhecidos como os "pioneiros" da localidade está se perdendo nas penumbras do tempo. Salvo reminiscências repassadas oralmente, quase de forma mítica, pouco se sabe do passado agrícola recente de Perus, do modo de vida e das dificuldades enfrentadas num período não tão distante.
Período que se encerra em 1926 com a entrada em funcionamento da Cimento Perus. Primeira indústria do ramo no país, a Fábrica surgiu da associação de um grupo de empresários brasileiros, liderados pelo advogado Dr. Sylvio de Campos, com a Drisdale y Pease, empresa sediada em Toronto, Canadá, ligada à Lone Star Cement Company, uma das gigantes do ramo nos Estados Unidos. O projeto fora prenunciado em 1910-1914 pela construção da E. F. Perus-Pirapora que previamente resolveu o problema da matéria-prima. Superada esta etapa, ocorreram diversos atrasos em função da necessidade de trazer para o local uma linha de alta tensão da Light: os equipamentos da Fábrica seriam impulsionados por energia elétrica.A magnitude do empreendimento é atestada por clássicos como João Manuel Cardoso de Mello - que observa que a Fábrica foi planejada dentro de "uma estratégia de ocupação a longo prazo de uma faixa substancial do mercado brasileiro" - e Warren Dean que inclui Perus entre as "principais fábricas novas construídas na década de 20". Absolutamente acertado o juízo dos mestres pois, ao longo das quatro décadas seguintes, a The Brasilian Cement Company atendeu uma parcela do mercado que variou entre um terço e um quinto das demandas nacional e paulista. Em termos menos abstratos, no intervalo em que a cidade de São Paulo passou de 600.000 para mais de 3.000.000 de habitantes, em Perus foi produzido o cimento utilizado na construção da maioria de seus edifícios, nos túneis e viadutos da Avenida 9 de julho, na Biblioteca Mario de Andrade, nas obras da Light em Santos, no trecho inicial da Via Anhangüera, etc.
Trazendo o sangue e a energia indispensáveis a tamanha tarefa, chegou ao bairro uma segunda leva de pioneiros formada pelas famílias dos operários da Fábrica e da EFPP; afluxo populacional que, ainda na década de 20, levaria à criação de vilas dentro (Triângulo e Portland) e fora (Inácio, Operária e Hungareza) do perímetro da empresa. O fato ficaria marcado de forma emblemática no momento em que Perus, já com 3.504 habitantes, foi elevado a Distrito em 21 de setembro de 1934, data reconhecida pela Câmara Municipal de São Paulo como fundação do bairro.
Fundado em 1933, o Sindicato da categoria cimenteira - que incluía os operários da Fábrica, da EFPP e das pedreiras de calcário em Cajamar - é a mais antiga entidade social de Perus. Em 1940, a Paróquia Santa Rosa de Lima seria criada praticamente junto com a Igreja Presbiteriana da Esperança e com o Centro Amigos de Perus, associação de moradores sucedida nove anos depois pela Sociedade Amigos de Perus (SADIP) cujos esforços levariam à ligação de rede elétrica para todo o bairro em 1954, encerrando um período no qual o recurso estivera restrito às edificações da Companhia de Cimento.
1958 é um marco particularmente importante para a história local. Primeiro, porque foi quando se realizou o plebiscito pela transformação do bairro num novo município, processo conduzido por uma Comissão Pró-Emancipação criada pela SADIP sob a presidência do saudoso Demétrio Vidal Lopes (1918-1998), cuja incansável atuação em defesa da memória social torná-lo-ia unanimemente reconhecido como o Historiador de Perus. Conforme relatado por Vidal Lopes, o "sim" era representado por cédulas brancas; o "não" pelas de cor preta. No dia da votação, os ativistas do Sindicato cimenteiro saíram às ruas distribuindo cédulas escuras aos gritos de "vote no pelé!", "vote no pelé!" O comparecimento mínimo não foi atingido, com a apuração revelando derrota dos autonomistas.
1958 seria também o ano em que ocorreria a primeira grande greve operária na Cimento Perus. O sindicalismo peruense-cajamarense merece atenção tanto pela sua originalidade (é reconhecido internacionalmente como um importante núcleo do movimento da não-violência) como pelas conquistas que trouxe para o conjunto dos trabalhadores brasileiros: a primeira regulamentação do salário-família, a presença do Sindicato nos atos de contratação e demissão de mão-de-obra, o reconhecimento da legalidade das greves por atraso de pagamento; esta última obtida numa greve realizada em 1967, em plena Ditadura Militar. Ditadura cujo braço mais visível em Perus era o Cemitério Dom Bosco, criado durante a OBAN (Operação Bandeirantes) para esconder os corpos de cidadãos perseguidos e assassinados por causa de seu engajamento nas causas da justiça e da liberdade.
Outro fato a se ressaltar é que, em função de denúncias do Sindicato de Perus, o Complexo Cimenteiro (Fábrica, EFPP e minas de calcário) seria o primeiro caso no país de intervenção (1970) e confisco federal (1973) realizadas com o objetivo de ressarcir dívidas decorrentes de impostos atrasados para com a Fazenda Pública da União. Os trabalhadores do cimento conseguiram também que, pelos mesmos motivos, o Sítio Santa Fé fosse alvo de confisco federal em 1979. No mesmo ano, a área foi comprada pela Prefeitura de São Paulo. Uma parte seria transformada no Parque Anhangüera, o maior da cidade (9,6 quilômetros quadrados); o restante foi destinado ao aterro sanitário Bandeirantes, o "lixão" de Perus.
O núcleo urbano originário seria ampliado em meados dos anos 60 pelas Vilas Perus, Caiuba, Osana, Flamengo e Malvina e pelos Jardins São Paulo, Manacá e do Russo. A despeito de muitos dos novos moradores trabalharem na Lapa e em outros pontos da Capital (algo que praticamente não ocorria antes), Perus continuava gravitando em torno da Companhia tanto por depender da sua oferta de empregos como por suportar o pó que saía das chaminés. Por baixo da paisagem soterrada pelo cimento, estavam os terrenos relativamente baratos que atraíram a terceira leva de peruenses.
Na década de 70, o crescimento ficaria restrito à Vila Nova Perus. Do ponto de vista urbanístico, o principal destaque vai para a Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1973, cuja construção implicou na desapropriação de cerca de metade da Vila Inácio e de um terço do Jardim do Russo. Como muitas famílias ainda não detinham títulos de propriedade da terra ou seriam indenizadas 20-25 anos depois, foi nesta ocasião que surgiram as primeiras favelas de Perus, problema enfrentado desde os momentos iniciais pela Paróquia Santa Rosa e por suas Comunidades Eclesiais de Base.
A Paróquia fez-se presente no trabalho de organização dos setores mais carentes e no atendimento de demandas sociais criando, ainda nos anos 70, a primeira creche de Perus. Nesta mesma época, outra obra de grande impacto foi o poço artesiano aberto pelos padres no Jardim do Russo com o objetivo de enfrentar o problema da falta d'água, flagelo que, aliás, atingia o bairro como um todo. Os moradores continuariam na dependência de caminhões pipas da Prefeitura e de poços comuns por mais uma década, até a chegada de rede da SABESP.
A próxima arrancada da urbanização teria início em meados dos anos 80 com a Vila Flamengo (2ª Gleba), Vila Bottoni e Jardim Adelfiori; processo continuado de modo bastante acelerado nos anos 90 pelo Recanto dos Humildes e pelos conjuntos habitacionais, em fase de construção, bancados pela Governo do Estado.
O fim da emissão de pó-de-cimento (1980, produto final de uma luta iniciada em 1973), o fechamento da Perus-Pirapora (1983) e da Fábrica (1986) anunciam um período no qual Perus, finalmente convertido em bairro-dormitório, já dispõe de um dinâmico setor de serviços. O lixo torna-se um grande problema. Também preocupante é a carência de equipamentos e serviços e sociais que, mesmo antes da última arrancada de crescimento, já eram insuficientes para atender adequadamente os moradores.
Um patrimônio comunitário, contudo, permanece intacto: os baixíssimos índices de violência que fazem de Perus um dos lugares mais tranquilos da cidade, quadro surpreendente para alguém que, desconhecendo sua história, procurasse entender o bairro através de uma leitura superficial dos indicadores sociais.
Se, de fato, Perus possui um grande contingente de população de baixa renda, é também verdade que uma significativa parcela é formada por famílias que, estabelecidas há mais de trinta anos, puderam adquirir lotes para a construção de casas nos períodos em que a terra era barateada pelo pó-de-cimento e pela distância em relação ao Centro de São Paulo. A antigüidade da ocupação garantiu o tempo necessário à ampliação e melhoria das residências que, por serem próprias, representam um grande alívio para o orçamento familiar. Vale chamar atenção para as dimensões relativamente grandes dos terrenos nas vilas mais antigas, circunstância que possibilitou, em épocas nas quais as dificuldades para adquirir casas agravaram-se, o atendimento de parte da demanda de moradia gerada pelas segundas e terceiras gerações através do desmembramento dos lotes. Outro aspecto importante já foi referido: a intervenção social da Paróquia.
Encerrado o flagelo do pó-de-cimento, os primeiros dias de chuva revelaram uma paisagem dominada pelo verde e por um Subprefeitura fresco que não se sente na maior parte de São Paulo/SP. Outro aspecto importante é que, nos momentos em que os trens da CBTU/CPTM e o transporte por ônibus (e, mais recentemente, peruas e vãs) atingem níveis razoáveis de eficácia, Perus fica subitamente próximo, a não mais que meia hora da Lapa e das Estações Barra Funda e Luz, situação que contrasta com municípios mais afastados da Capital.
A discrepância entre os indicadores sociais e a situação efetiva de Perus põe em xeque as diversas caracterizações que o bairro vem recebendo nas últimas décadas, algumas sem qualquer base fática. Um dos frutos desses equívocos foi a propositura de uma lei, ao final de 1992, pelo vereador Zé Índio, indicando a criação de uma Zona Livre de Sexo.
Depois disso, ainda na esteira desses pré-conceitos, não demorou muito para que a Folha de São Paulo publicasse, em março de 1993, uma destacada matéria na qual Perus surgia com os maiores índices de analfabetismo da cidade, "informação" obtida através de perguntas a transeuntes feitas em dias e horários nos quais a maioria dos moradores estava ou trabalhando em outros lugares ou sentada em bancos escolares.
Outra injustiça a reparar refere-se a denominações religiosas como o espiritismo e as igrejas evangélicas, cuja contribuição para a evolução histórica, social e cultural de Perus nunca foi objeto de estudo apesar de, por exemplo, a Igreja Presbiteriana contar, dentre seus fiéis, com importantes lideranças do Sindicato dos "Queixadas", apelido conferido aos operários da Cimento Perus nos anos 50.
Mas a questão para a qual, de alguma maneira, confluem todos os problemas apontados é, sem dúvida, a crise de identidade gerada pela brusca aceleração do crescimento urbano verificada nos anos 80. Depois de mais de vinte anos de relativa estabilização, nos quais parecia que Perus não ultrapassaria limites já quase tidos como históricos, eis que a comunidade se vê diante de mudanças muito rápidas.
Como Perus é um bairro fronteiriço na periferia da cidade, ainda no final da década de 60 e início de 70, apresentava amplos espaços verdes, isolados da área urbana. Por outro lado a região é servida por duas grandes rodovias - Anhangüera e Bandeirantes além da Raimundo P. de Magalhães, de menor porte, mas que ainda é bastante utilizada como acesso a outros municípios próximos à Capital, tornam o Bairro estratégico. Possivelmente este fato deve ter levado a instalação do Aterro Sanitário Bandeirantes em nosso bairro. Contudo, o crescimento acentuado da cidade ampliou a produção de lixo e tivemos em pouco tempo um esgotamento da capacidade do aterro.
Aliado à expansão sem precedentes da região a partir sobretudo dos anos 90, o lixo passou a se constituir num dos graves problemas da população do bairro. A poluição provocada pelo Aterro ficou perceptível com a ampliação de inúmeras moléstias de ordem respiratória, de pele etc. Os órgãos de saúde chegaram a apresentar dados estatísticos demonstrando o crescimento de tais doenças, direta ou indiretamente relacionadas à presença do Aterro Sanitário de Perus. Foram inúmeras as manifestações sociais contra a presença do Lixão em Perus: impedir a entrada de caminhões de lixo e a circulação de caminhões de coleta pelo Bairro, paralisar a circulação de trens e outras. Embora o movimento não tenha tido êxito em encerrar as atividades do Aterro Sanitário Bandeirantes tornou-se importante como fator organizador que em 1995 conseguiu deter a implantação de Incineradores no Bairro. Demonstrou ainda a capacidade que o problema ambiental tem de unificar um amplo arco de forças sociais organizadas e o conjunto da sociedade.
Em 2001, mais uma vez Perus se viu ameaçado por um novo empreendimento ligado ao lixo. Desta vez por parte de uma empresa privada que pretendia explorar os serviços de recolhimento e depósito de resíduos industriais e domésticos. Novamente, como na luta contra os incineradores, o conjunto das forças sociais do Bairro conseguiram se unificar contra o empreendimento atraindo inclusive os moradores das cidades próximas para uma ação de caráter mais Subprefeitura. Frente forte mobilização popular, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente acabou por indeferir o processo.
Apesar das vitórias obtidas pelo movimento popular, o Bairro não deverá livrar-se tão cedo de seus problemas ambientais. Uma das maiores obras da América Latina, o Rodoanel Viário, teve seu início justamente por Perus. Apesar de se constituir num pólo que poderá trazer benefícios à região, a obra já vem provocando uma série de problemas antes inexistentes e agravando outros.

O texto acima foi cedido pelo companheiro Elcio Siqueira, historiador, morador do bairro e filho de um dos queixadas que participaram da histórica greve da Fábrica de Cimento de Perus, referência do movimento sindical brasileiro.
Na sua quase totalidade foi extraído da sua tese de Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus de Subprefeituraaraquara, com insignificantes modificações necessárias ao fim a que se destina e à atualização que se fez necessária.

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