segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Estação de Perus: um patrimônio ferroviário

Estação de Perus: um patrimônio ferroviário - texto tirado do portal do bairro de Perus

A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, por sua posição geográfica, funcionou como pouso de tropeiros nos séculos XVIII e início do XIX. A região ficava no caminho de Guaiazes, aberto em fins do século XVII e que levava às antigas minas de Goiás. Em meados do século XIX, a cultura do café avançava pelo interior do estado de São Paulo, na direção de Jundiaí. A necessidade de escoamento da produção pelo porto de Santos ditou o traçado da estrada de ferro São Paulo Railway, implantada em 1867, passando pela cidade de São Paulo.
Perus, então um simples lugarejo, teve sua estação aberta ao público naquele mesmo ano, com a inauguração da estrada de ferro. As primeiras estações da chamada Inglesa apresentavam características semelhantes: edifícios retangulares, de um só pavimento, construídos em alvenaria de tijolos aparentes. Os abrigos das plataformas costumavam ser apoiados em colunas de ferro. Muitas estações foram transformadas ou reconstruídas com a duplicação da linha entre 1867 e 1900.

A estação de Perus apresentava características particulares. Ao contrário de outras construções do mesmo período, o abrigo da plataforma consiste de marquise sustentada por estrutura de madeira. Uma passarela metálica pré-fabricada também compõe a obra. Devido a um acidente ocorrido no ano 2000, a estação precisou ser reconstruída. Contudo, elementos remanescentes podem embasar um projeto de restauro que devolva suas características originais. Sua importância histórica é incontestável, por se tratar de uma das primeiras estações da ferrovia a ligar Santos ao planalto.

Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico (DPH)

Uma estação de trem no meio de tropeiros e queixadas

A história do bairro remonta à época dos tropeiros, que no século XIX usavam o local para pouso durante o percurso entre Santos e Jundiaí no transporte de mercadorias.
"Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas..." – O verso da canção de Raul Seixas poderia muito bem se aplicar ao cotidiano dos mais de 11 mil passageiros que embarcam ou desembarcam diariamente na Estação de Perus, extremo noroeste da cidade de São Paulo, na divisa com os municípios de Caieiras, Cajamar, Santana de Parnaíba e Barueri.

A região administrada pela Subprefeitura de Perus e composta de dois distritos - Anhangüera e Perus - agrega em sua paisagem áreas montanhosas, uma parte formada pelos Morros do Juqueri-Tietê e outra pela face setentrional da Serra da Cantareira, e também uma cobertura vegetal expressiva - 48 km² de seu total territorial de 57,2 km², sendo 9,5 km² ocupados exclusivamente pelo Parque Anhangüera, o maior da capital.

As vias de transporte também são elementos que compõem o panorama da região, que é cortada pelas rodovias estaduais Anhangüera e Bandeirantes e pelas estradas de ferro Santos-Jundiaí e Perus-Pirapora, esta última tombada pelo Patrimônio Histórico e desativada em 1983.

Sinhá Maria

Mas a história do bairro Perus remonta à época dos tropeiros, que no século XIX utilizavam o local para pouso durante o percurso que faziam entre Santos e Jundiaí para o transporte de mercadorias. Muitos moradores perpetuam a estória de que o nome do bairro foi dado por causa de Sinhá Maria dos Perus, que criava perus em seu sítio e onde os tropeiros fariam pouso.
Naquela época, a região era também parada de tropas de soldados e ocupada por enormes fazendas de capitães da Guarda, responsáveis pela defesa do Caminho do Mar até o Porto de Santos.
O progresso só chegou em 1867, com a inauguração da ferrovia São Paulo Railway, mais conhecida por Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que hoje é operada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) - transporte de passageiros - e pela empresa MRS - cargas.
Brasileiros e imigrantes
A estrada representou o início do desenvolvimento econômico da região, com a instalação de fábricas e pequenos comércios, e com o povoamento do bairro. Muitas das primeiras famílias que chegaram, caso dos brasileiros Jesuíno Afonso de Camargo e Edwiges Dias e dos imigrantes italianos Di Sandro e Peccicacco, são ainda lembradas nas placas de muitas ruas locais.
A avenida Fiorelli Peccicacco, por exemplo, uma das mais conhecidas entre os mais de 100 mil habitantes, tem visto ao longo dos anos o crescimento do seu setor de serviços, principalmente na área de conserto de automóveis, se mesclar às casas e terrenos ainda desocupados.

Grandes negócios

Graças às locomotivas e à grande oferta de terras, Perus foi escolhida em 1890 para abrigar a fábrica de papel Companhia Melhoramentos, que passou a plantar pinheiros e eucaliptos no local para atender à sua produção. Em 1914, um ramal da estrada férrea impulsionou a instalação de outro grande negócio no bairro: a Companhia Nacional de Cimento Portland-Perus, inaugurada em 1926 e responsável pela geração de emprego e renda na região durante 60 anos.
Projetado por um grupo de empresários para ligar a Estação de Perus ao município de Pirapora, o ramal acabou sendo desviado para Cajamar, onde existiam grandes reservas de calcários considerados bons para a produção de cimento e cal, a matéria-prima ideal para a fábrica instalada 12 anos mais tarde.
Um dos moradores mais antigos e presidente da Sociedade Amigos do Distrito de Perus (SADIP), Jovino Bartholomeu, de 69 anos, é testemunha de muitos fatos que marcaram a história de Perus, como as greves feitas pelos operários da fábrica de cimento em protesto às condições de trabalho, principalmente contra a emissão de pó de cimento. “Havia a equipe dos Pelegos, que eram os que furavam a greve, e a dos Queixadas, que eram os que brigavam. Em 10 anos de sucessivas greves, até irmão ficou contra irmão”, conta Bartholomeu.
Em 1986, o proprietário, J. J. Abdalla, preferiu fechar as portas da fábrica ao invés de investir na modernização com a implantação de filtros. Mas os Queixadas (do dicionário: s.m. - espécie de porco-do-mato) e Pelegos (da gíria política: líder sindical que se acomoda facilmente às vantagens pessoais do adesismo) são lembrados em conversas da população até os dias atuais.

Entre muitas alegrias, algumas más lembranças

Outro episódio do qual o sr. Jovino se recorda bem é dos estragos feitos pelo acidente na Estação Perus no dia 28 de julho de 2000, com 128 vítimas, sendo 9 fatais. “Foi horrível. Na época, eu era do Conselho de Segurança (Conseg) e fomos intimados para socorrer o pessoal”, lembra, com a voz apertada.
“A população ficou seis meses sem a estação, até que ela fosse restaurada. O pessoal que só pegava trem, tinha que pegar a van que a CPTM colocou para levar até a estação do Jaraguá”, acrescenta Bartholomeu. Após perícia da polícia e de técnicos, o laudo da CPTM apontou que a colisão dos dois trens na plataforma da estação aconteceu em razão de uma avaria na rede aérea, o que provocou a falta de energia no trecho entre as estações Jaraguá e Perus por mais de duas horas.
O problema ocasionou falta de ar para o sistema de freios do trem prefixo UA127, que estava parado nesse trecho e começou a correr no sentido Perus, não conseguindo evitar a colisão com o outro trem, parado na plataforma.
Apesar do acidente, a Estação de Perus é motivo de alegria para Bartholomeu, que, de 1951 a 1974, teve o trem como o meio de transporte para os locais de trabalho. “É muito gostoso. Tem muitas paisagens bonitas em Perus”, explica o viajante, que, atualmente, ainda utiliza o trem quando precisa participar de reuniões na região central. “A única desvantagem é que tem que esperar o horário do trem, mas é o meio mais rápido de irmos para o Centro. Em 40 minutos se chega à Luz”, destaca o presidente da SADIP.

Patrimônio Cultural

Para que as memórias dos mais antigos não sejam soterradas pelo tempo - afinal, a população local é hoje predominantemente jovem e adulta - a comunidade está empenhada em concretizar dois projetos: transformar em centro cultural a desativada fábrica de Cimentos Perus, atualmente propriedade de um sobrinho do J.J. Abdalla; e reativar a linha de trem Perus-Pirapora para fins turísticos.
O trabalho de uma ONG local, o Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural, para capitanear parceiros para o segundo projeto começa a mostrar resultado: o primeiro dos 16 Km da estrada já foi revitalizado, assim como a locomotiva francesa Decauville 8, uma das 21 que operavam na linha. Tudo com a participação de parceiros, como a Natura, a Care e a CPTM.
“A Perus-Pirapora não é de grande importância somente para Perus, mas também para o Estado de São Paulo e até para o Brasil. É hoje a única estrada de ferro do país de bitola estreita (60 cm) ainda intacta, e com um acervo de locomotivas bastante diversificado, entre exemplares ingleses, franceses, alemães e canadenses”, analisa Nelson Bueno de Camargo, presidente do Instituto.

Lagos e marrecos

Para reativar toda a estrada, a ONG está em negociação com outras empresas, para arrecadar pelo menos R$ 3 milhões. Algumas locomotivas não têm mais condições de rodar, mas a idéia é que, depois da restauração, sejam expostas como peças de museu. A partir do dia 7 de setembro, o Instituto deve organizar pequenos passeios para mostrar a beleza do projeto à população, em um trecho de aproximadamente 800 metros dentro do Parque Anhanguera.
O parque, aliás, é parada obrigatória para quem vai até a região. Entre lagos, marrecos e tanques de areia, é comum verificar ali, nos finais de semana, famílias fazendo piqueniques debaixo das árvores. O Anhanguera guarda também algumas preciosidades. É o único parque da cidade com um Centro de Animais Selvagens, ligado à divisão de Veterinária da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, para onde são levados os animais desviados do seu habitat natural, geralmente os que são apreendidos pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente).
Juntamente com o Parque Estadual do Jaraguá, o Anhangüera é o maior complexo de preservação ambiental da região urbana, sustentando a maior diversidade e abundância da fauna representativa do município.
Apesar de ser originário de uma área remanescente do Sítio Santa-Fé, uma antiga fazenda de reflorestamento adquirida pela Prefeitura em 1978, o Anhanguera contém remanescentes da fauna original nas matas ciliares e, sob seus eucaliptos, pode-se perceber o renascimento da mata nativa. Preás, gambás, veados catingueiros, tatus, pacas, capivaras, cotias, quatis e ouriços estão entre os animais que podem ser encontrados lá.

Carência

No entanto, o parque vem enfrentando problemas com relação a queimadas, como a que atingiu 8 mil m² de sua área em agosto deste ano, motivado pelas queimadas cada vez mais freqüentes na região. O problema do desmatamento é apenas a ponta de um quadro mais amplo, de pobreza, desemprego e carência de infra-estrutura.
Segundo o Mapa da Exclusão/Inclusão Social na cidade (PUC-SP, 2000), a região da subprefeitura apresenta altos índices de exclusão social. O pior é o do distrito de Perus (-1 a -0.6/ escala até 1.0), comparável aos índices de distritos localizados em outros extremos da cidade, como Capão Redondo e Parelheiros (Sul), Cidade Tiradentes (Leste), e Cachoeirinha (Norte).
Uma parte da exclusão pode ser explicada pelo modo desregrado com que o território foi ocupado ao longo das últimas décadas, com a formação de loteamentos clandestinos e a construção de casas em áreas de risco. São 79 loteamentos cadastrados na subprefeitura com pedido de regularização, dos quais 22 já obtiveram a regularização técnica junto à Secretaria Municipal de Habitação. É o caso do Jardim Britânia/Diego Velásquez, cujas famílias passaram a ter os imóveis registrados em cartório com direito de uso e transferência de uso aos descendentes, de acordo com a lei federal do Estatuto das Cidades, de 2001.
Além da ilegalidade, essas áreas possuem sério risco de desmoronamento das casas. No final de agosto, a Prefeitura deu início às obras de contenção de taludes em sete lotes da região e prepara um levantamento de novas áreas que receberão obras até o final do ano. A subprefeitura faz um monitoramento constante dessas áreas e tem realizado um trabalho educativo com a comunidade sobre os perigos das construções em áreas montanhosas e a necessidade de apoio técnico.
Mas o legado das moradias irregulares é sentido pela população de Perus até hoje, quando falta escola, faltam unidades de saúde, ruas asfaltadas, iluminação pública, locais de lazer, espaços para a prática de esportes, e até rede de esgoto em alguns pontos. O problema se agrava ainda mais com o galope do crescimento populacional nos dois distritos, principalmente em Anhanguera, que tem uma taxa de crescimento anual próxima a 13% (Censos Demográficos do IBGE, 1991-2000).

Mais escolas

Mas algumas melhoras já podem ser sentidas: das 30 escolas municipais de Perus, sendo um Centro Educacional Unificado (CEU), cinco ainda eram provisórias até há poucos meses, algumas de metal - as famosas escolas de “lata”, e outras de madeirite.

Desde a retomada das obras de unidades de alvenaria, em abril, a Administração Municipal já entregou quatro novas escolas. Há ainda outros projetos em andamento - a construção de duas EMEFs e dois Centros de Educação Infantil (CEIs), para atender à atual demanda na rede municipal de ensino local, de 708 vagas em Anhanguera e 1.740 em Perus, principalmente para creches e educação infantil.

No distrito de Anhanguera, as lideranças reivindicam prioritariamente escolas estaduais de ensino médio, postos de saúde e equipamentos de lazer, como pistas de skate e quadras esportivas em praças. Em relação à saúde, a solicitação deve ser atendida em parte até outubro, com a inauguração das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Jardim Rosinha e Morro Doce.

Em Perus, a demanda número um é por um hospital, equipamento inexistente na região, e por áreas de lazer, além das escolas. As ruas de terra ainda são comuns na paisagem do bairro. A administração municipal prevê que o déficit de asfaltamento será zerado.
A previsão é de que, até 2008, os cerca de 40 km de vias sem asfalto deixem a poeira para trás. Assim como o trem, quando dobra as montanhas da região, rumo ao Centro de São Paulo.

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